5.

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"Não." Ret não olhou para mim enquanto eu falava, então eu repeti. "Não."

Mais silêncio.

Outra aceleração ensurdecedora do motor.

"Eu não vou pra sua casa, sem chances."

Eu estava balançando a cabeça violentamente. Passando minha mão ao longo da lateral da porta, localizei o botão de trava e destranquei o carro. Ret nem sequer olhou para mim quando estendeu sua mão tatuada para os botões do seu lado para trancar novamente.

Eu destranquei novamente. Só para ele trancar mais uma vez.

Por alguns segundos, éramos apenas nós indo e voltando em um ciclo vicioso de nossos respectivos lados do carro.

Trava.

Destrava.

Trava.

Destrava.

Trava.

Destrava.

"Qual foi?" Ele rosnou, se virando abruptamente. "Você vai se jogar na porra da estrada com o carro à 90km por hora?" Seus olhos nunca deixaram os meus quando ele estendeu a mão para destrancar as portas. "Bora, pode ir então."

Eu o encarei por um instante antes de me encolher no banco com um bufo, cruzando os braços sobre o peito.

Merda. Ele tem razão.

"Você tá me levando para sua casa pra que? Pra me matar?" Eu perguntei sem rodeios. Ret virou a cabeça na minha direção, zombando incrédulo.

"Por que caralhos eu mataria você?" Seus olhos percorreram meu rosto, o cigarro entre os dentes quase acabando. Observei enquanto alguns pedaços de cinzas caíam em seu colo. "Você bateu a porra da cabeça ou algo assim?"

"Você tá me sequestrando."

"Jesus, eu não-" Ret se mexeu na cadeira, murmurando baixinho, e passando a mão frustrada pelo cabelo. "Eu não estou sequestrando você. E eu não vou te matar também. Estou só tentando ter certeza de que você não vai morrer essa noite." Ele olhou uma vez para a fechadura da porta lateral. "Mas parece que é isso que você tá querendo né."

"Por que você não pode me levar para casa?"

Ele não estava errado sobre o desejo de morte. Honestamente, parece melhor do que esse cenário atual.

Ele hesitou brevemente antes de dizer. "Se eu te levar para casa, vão seguir você."

"Me seguir?" O pânico e a náusea voltaram. "O que você quer dizer com seguir? Por quem? O que eles fariam?" Minha respiração ficou irregular. "O que eu fiz? E se eles vierem para a sua casa-"

"Eles não podem" Ret respondeu secamente. Ele estava com raiva. Suas palavras foram cortadas, e seus dedos apertaram o volante novamente. "Por isso que estou levando você pra porra da minha casa" Ret abriu a janela um pouco e jogou a ponta do cigarro pela janela. Ele imediatamente pegou outro da caixa. Eu assisti, um pouco atordoada, enquanto ele movia sua arma para o lado para pegar o isqueiro.

"Nem pense nisso." Eu bati meu olhar para o dele, franzindo as sobrancelhas.

"O quê? Pensar no quê?" Ret não estava olhando para mim quando acrescentou: "Se você tocar nessa arma, você tá ferrada."

"Tocar na-Oi?" Eu recuei com o pensamento. "Você acha que eu quero tocar nessa coisa? Você tá maluco"

Nenhuma resposta de Ret.

TAÇAS PRO AR | FILIPE RETOnde histórias criam vida. Descubra agora