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"Vamos?" Ret olhou pra mim do outro lado do saguão do gonê, uma mão na maçaneta e a outra estendida na minha direção. Olhei para ele, confusa momentaneamente, antes de dar um passo à frente e deslizar minha mão na dele, cruzando nossos dedos juntos.

Passamos quase uma hora limpando a bagunça que fizemos. Ele parecia estranhamente bem, considerando tudo o que aconteceria amanhã. Sempre que eu pensava muito sobre o evento, sobre ele ter que ir, meu coração ficava muito apertado e aquela mesma sensação de náusea me dominava.

"Vamos!" eu dei um aperto na mão dele, tentando esconder meu sorriso. Ret abriu a porta e apoiou uma mão acima da minha cabeça para me deixar andar debaixo dele pro lado de fora. A rua estava mais movimentada do que o normal, provavelmente por ser sábado, e nós dois seguimos atrás das pessoas passeando pela calçada, com vistas no beco que levava ao estacionamento a algumas centenas de metros de distância.

"Então, quando você vai deixar eu tatuar você de novo?" Ret perguntou, olhando para mim. Ele passou o polegar para cima e para baixo nas costas da minha mão.

Eu inclinei minha cabeça para o lado e me girei na frente dele, andando para trás para encontrar seus olhos. A boca de Ret se abriu em um sorriso torto e ele deu um aperto na minha mão antes que eu continuasse. "O que exatamente você quer tatuar?"

Ret respirou entre os dentes e jogou a cabeça para o céu brevemente antes de trazer seu olhar de volta para o meu e dizer: "Eu tive algumas idéias." Uma pequena pausa na qual ele olhou meu rosto de cima a baixo. "E pelo que eu me lembro-" sua mão livre disparou, fechando em volta do meu queixo e ele arrastou o polegar sobre meu lábio inferior, "-você não se opôs a idéia de eu tatuar aqui."

Ainda andando para trás, devagar agora, e não consegui evitar o sorriso que apareceu no meu rosto. "Então me dê algumas sugestões... o que você pensou?" Eu propositadamente inclinei minha cabeça para o lado, encaixando minha bochecha na curva de sua mão. "Uma palavra que você gostaria de tatuar. É por isso que você quer tatuar aqui, né?" Meu tom era de provocação agora. "Um lugar que só você pode ver?"

Ret ficou em silêncio por um momento, a expressão ilegível, enquanto ele gentilmente me inclinou na direção do beco. Uma vez que todos da calçada e sua conversa um pouco esmagadora desapareceram, deixando apenas nós dois na luz entre os prédios, ele de repente me apoiou contra a parede de tijolos a alguns passos de distância e deslizou as mãos para agarrar meus ombros.

"Eu quero que você fique lá em casa." Ele desabafou, me pegando completamente desprevenida. Sua expressão ficou séria, se transformou em uma que só poderia ser descrita como desconforto. Vulnerabilidade. Ou melhor, medo da vulnerabilidade que ele estava me permitindo ver. "E não só... porque eu quero que você fique segura lá." ele piscou algumas vezes, apoiando uma mão na parede ao lado da minha cabeça e deixando a outra descer para agarrar meu braço, onde ele deu um pequeno aperto. "Mas porque eu quero você lá. Eu gosto de ter você comigo."

TAÇAS PRO AR | FILIPE RETOnde histórias criam vida. Descubra agora