Filipe Ret, o tatuador e intolerável dono de um estúdio de tatuagem, conhece Luisa, uma menina teimosa e um tanto alheia, que simplesmente não entende a lógica por trás de suas atitudes desagradáveis, mas está determinada a descobrir.
Luisa percebe...
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Acabei não indo trabalhar hoje, mas não porque Ret me disse para não ir. Eu fiz isso porque eu... realmente não quis ir.
Confesso que eu entrei no fundo do poço depois da minha pequena reunião no banco ontem. De alguma forma, consegui evitar pensar nisso por uma semana inteira, mas acabei ficando obcecada em questão de minutos.
Quando eu saí de casa algumas horas atrás, a visão do meu reflexo no espelho foi suficiente por si só para assustar qualquer pessoa. Olhos no fundo, pele pálida, expressão de pavor.
Era realmente aterrorizante o que a pura ansiedade podia fazer com uma pessoa.
Tudo o que eu realmente queria fazer era pintar. Isso é o que eu faço sempre que estou triste, chateada, brava ou no meu limite, mas isso não era realmente uma opção para mim agora.
Não quando minha cabeça parecia cheia e vazia ao mesmo tempo.
Eu nem tinha certeza do que estava passando na minha cabeça, nem se tinha algo que valesse a pena colocar em uma tela de pintura.
Eu fiquei fora por horas ontem à noite e hoje de manhã, com o cartão de crédito de um milhão de reais queimando no meu bolso.
Foi intimidante, sim, mas me forcei a não pensar muito sobre isso - como fiz com todo o resto.
Uma vez que você pensa muito sobre qualquer coisa, essa coisa está fadada a dar merda.
Eu gostaria de poder dizer que fiquei surpresa quando voltei no meu apartamento no início dessa tarde e encontrei ele destrancado. Se tivesse sido uma semana atrás, a noção de saber que outra pessoa tinha entrado no meu apartamento teria me feito sair gritando.
Agora, infelizmente, eu apenas dei um pequeno suspiro e empurrei a porta aberta.
Mas hoje foi diferente.
Em vez de Ret preguiçosamente esparramado no meu sofá, pés para cima e despreocupado, ele estava de pé e andando pela cozinha, vestindo um par de calças pretas de alfaiataria, uma camisa Polo preta com sapatos combinando e uma grande quantidade de cordões de ouro.
Fora o forte perfume amadeirado que eu consegui sentir o cheiro lá no pé da escada.
Seus olhos saltaram para os meus quando entrei.
"Você tem que parar de fazer isso" Eu reclamei, deixando cair algumas sacolas aos meus pés. "Eu sei que você tem uma chave, mas o mínimo que você pode fazer é esperar até eu chegar aqui."
