Filipe Ret, o tatuador e intolerável dono de um estúdio de tatuagem, conhece Luisa, uma menina teimosa e um tanto alheia, que simplesmente não entende a lógica por trás de suas atitudes desagradáveis, mas está determinada a descobrir.
Luisa percebe...
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Tudo depois do que eu saí do armazém era um borrão.
Tropeçando até o carro, conseguindo ligar o motor, jogando a arma no banco do passageiro e saindo do estacionamento. Eu não conseguia me lembrar de dirigir, não conseguia lembrar se eu tinha parado em algum sinal vermelho, só que voltei para a casa de Ret em milagrosos 20 minutos, tremendo incessantemente e mal conseguindo enxergar direito.
Que porra acabou de acontecer?
No momento em que eu finalmente peguei todas as minhas coisas do carro de Ret, eu ainda não tinha certeza de como eu tinha feito pra chegar.
Só sabia que a primeira coisa com que fui recebida quando as portas do elevador se abriram diante de mim foi uma Marcela muito assustada que veio correndo na minha direção.
"Que porra é essa, Luisa?" Ela gritou, os olhos arregalados e os braços estendidos para os lados. "Onde que você estava? O que tá acontecendo?"
"Marcela, meu Deus!" Eu murmurei, deixando cair todas as minhas coisas no momento em que entrei. Meus pés trabalharam sem pensar, voando para a cozinha, passando pela garota de aparência raivosa esperando uma resposta, onde parei em frente ao lixo e esvaziei o conteúdo do meu estômago - a única imagem na minha mente era o homem que eu tinha acabado de ver ser baleado e morto.
"Meu Deus!" Marcela estava ao meu lado em um instante, juntando todo o meu cabelo atrás da minha cabeça. Ela correu uma mão tranquilizadora para cima e para baixo no meu pescoço. "Porra, o que aconteceu?"
"Eu atirei em alguém." Eu sussurrei, balançando minha cabeça. "Eu atirei em duas pessoas."
Apoiando um cotovelo no canto da pia, eu me virei para olhar para ela com olhos arregalados. Sua expressão vacilou e ela imediatamente fez uma careta, balançando a cabeça vigorosamente.
"Lu, eu preciso que você me explique o que está acontecendo!"
Eu respirei fundo, estendendo a mão para ligar a torneira. "Eu vi uma pessoa levar um tiro na cabeça, bem na minha frente."
"Jesus, você atirou na cabeça de alguém?"
"Não!" eu soltei. "Não fui eu!"
"Então-" Marcela parecia realmente confusa agora. Ela balançou a cabeça, fechando os olhos brevemente. "O que está acontecendo, Luisa? Você precisa me explicar!"
Meus ouvidos estavam zumbindo novamente quando eu finalmente consegui admitir.
"Eu fui me encontrar com o Roberto."
Por alguns longos segundos, Marcela apenas me olhou. Então sua expressão se transformou em uma que quase me fez querer correr e me esconder enquanto ela retirava a mão com força de mim e dava um passo para trás. Com uma calma letal, ela perguntou: "Você fez o quê?"
