Quarta-feira, às 09:21 em Sea Bright, Nova Jersey (EUA).
As cores preto e branco são as minhas favoritas. Elas representam uma determinada parte da minha vida, e neste exato momento, não me sinto simbolizado por nenhuma. Como posso expressar o que sinto, sem me conhecer da melhor forma?
Estou na janela do carro com os meus pais, viajando sob o domínio do veículo. A paisagem se mostra visível para mim, ilustrada de modo deslumbrante e acompanhada pela velocidade imposta.
Estou deitado com a minha cabeça apoiada no estofado elevado do veículo, emorizando os instantes passados. Como pode o amor ser julgado? A demonstração de afeto e carinho por alguém, simplesmente sentenciada por ser do mesmo sexo que o possuidor de suas emoções. As linhas desenhadas nas minhas mãos, desejaria que elas pudessem ser lidas, talvez uma previsão. O meu coração poderia errar facilmente as batidas. Até quando eu conseguiria respirar toda essa escuridão nebulosa.
Vidas perdidas, casais que tiveram uma despedida lenta e penosa. Algo invisível e que não saberíamos quando viria ou decidiria acabar com os romaces que florescem nos dias ao nosso redor. Ataques ferozes contra pessoas que se amam, nomeações esdrúxulas e sem nenhum cabimento competente. A morte poderia chegar de várias formas: atos violentos, descaso cívico e imoral, por um único e fútil motivo: sermos gays.
Sinto-me preso na delirante velocidade que move os meus longos fios. As nuvens carregadas demarcam o fim da temporada de outono. O sol forescerá levemente nos próximos dias, mas para alguns, a luz permanece distante e ligeiramente inalcançável. Estou admirando a nossa rota. A cidade pequena onde moro está localizada em Nova Jersey, com moradores apáticos, aproximadamente 1.400 habitantes. A intolerância chega aos lugares mais remotos do país.
Me assumi para os meus pais, não imagino o quanto planejei. Fantasias se passaram em minha mente, como ser expulso de casa ou uma vasta rejeição, té que meus vasos sanguíneos finalmente fossem considerados vermelhos, como a ciência comprova.
Seus olhos estão arregalados, uma expressão assombrosa. Os motivos de seus rostos tão medonhos. O que eu fiz de errado para receber um silêncio ensurdecedor? Eu não era o mesmo filho de antes, o Mason que eles tanto amam. Quais conflitos geram em suas figuras pálidas e gélidas? Meu coração, por um momento, pausou no tempo e não pulsou. O medo percorreu às extremidades do meu corpo, emoções se agitam com uma voz própria e independente. Eles simplesmente não dizem nada. Enquanto olho para a recém-alvorada, era isso que eu esperava. Talvez cenários fantasiosos de alegrias e abraços tenham sido criados por tempo demais em meu imaginário.
Não poderia estar mais iludido. Em que mundo eu vivo, com pessoas que não se perguntam ou uestionam a incidência de tamanha barbárie? É mais fácil seguir o rumo, deixar que os rebeldes de leis pré-expostas sejam castigados por tamanho pecado. "Depois conversamos, precisamos sair agora." Foram essas palavras quase inaudíveis e com um ruído cruel que ouvi do meu pai. A minha dócil mãe não pronunciou nenhuma fábula. Não sei o que pensar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Até Que O Dia Termine - Romance Gay
RomanceA vida pode ser boa ou magicamente trágica, apenas precisamos saber quem seremos até que o dia termine. Após a crise da AIDS ter causado inúmeras mortes e diante da falta de informações sobre um tratamento eficaz, o amor se tornou a cura mais acessí...