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Minha mãe se sentia sozinha, então nas férias nós visitávamos sua família no Brasil e fingíamos como duas atrizes que as coisas eram perfeitas entres nós

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Minha mãe se sentia sozinha, então nas férias nós visitávamos sua família no Brasil e fingíamos como duas atrizes que as coisas eram perfeitas entres nós.

Mas não eram.

Embora ela se sentisse sozinha, não atendia minhas ligações quando eu estava fora e mal olhava na minha cara quando eu estava em casa.

Talvez eu tivesse herdado um pouco mais do que o cabelo preto e a pele meio bronzeada. Talvez eu tivesse herdado um pouco o dom do teatro.

—Você saiu no jornal ontem —Ela disse enquanto mordia uma torrada cheia de geleia de morango do outro lado da mesa — Uma matéria muito tendenciosa. “Cecília Ferrari faz o pai se revirar no túmulo após aceitar proposta da Red Bull Racing— Disse, usando seu tom de “que desgosto”. Eu já estava acostumada com esse.

—Hum — Murmurei dando uma mordida na minha própria torrada, mesmo que o papo tenha me deixado sem fome — Não tenho culpa se deixou ele colocar esse nome em mim — Dei de ombros.

—Você sabe o quanto seu pai amava a Ferrari — Disse usando seu tom de “não coloque a culpa em mim”, que eu também já estava acostumada.

Decidi não prolongar o assunto e me levantei, pronta pra ir embora. Estava saindo da cozinha quando decidi abrir a boca.

—Seria legal ouvir um “parabéns”, sabe mãe? — Foi o que disse.

Ela não me respondeu e eu não estava esperando uma resposta, na verdade. Saí da cozinha, entrei no quarto, peguei minha mala e me mandei.

Era esse o tipo de convivência que tínhamos. Eu já tinha me importado muito com isso, no Ensino Médio, quando via minhas amigas sendo abraçadas pelos pais, ficava me perguntando o que tinha feito de errado.

Depois entendi.

O erro foi parecer demais com meu pai. Os mesmos olhos, a mesma boca, o mesmo tom de cabelo, os mesmos sonhos. A Fórmula 1. Pra ela era um sacrilégio ter que conviver com alguém tão parecido com o marido que perdeu.

Mesno assim nós duas conseguíamos ser apenas nós duas, uma rrlacace estranha, mas... Eu sabia que ela estaria ali se eu precisasse e eu estaria aqui se ela precisasse também.

Eu balancei a cabeça e espantei esses pensamentos.

A primeira corrida do ano só aconteceria na semana que vem, no Bahrein, mas uma centena de testes deveriam ser feitos antes de finalmente colocar o RB18 na pista.

Todos os funcionários da Red Bull viajariam num voo comercial, já que de acordo com as normas aéreas do país, os voos fretados eram limitados para países próximos.

O avião estava uma muvuca quando entrei, depois de quase uma hora finalmente consegui passar da classe econômica para a primeira classe, dando de cara com ninguém mais, ninguém menos que Max Verstappen sentado no meu assento. O assento da janela. Eu usava o assento da janela de apoio pra dormir e não ficar tonta. Senti outra onda de calor se espalhar e subir pelo meu pescoço.

𝐁𝐀𝐃 𝐈𝐍𝐓𝐄𝐍𝐓𝐈𝐎𝐍𝐒 • 𝐌𝐀𝐗 𝐕𝐄𝐑𝐒𝐓𝐀𝐏𝐏𝐄𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora