Vovô

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Seguindo para o quarto de Roberto Freitas, Penélope lamentava o terrível reencontro e, embora tenha sido uma ordem, arrependia-se de ter recepcionado Diego. No momento em que colocou os olhos nele ressuscitou a dor da rejeição e do abandono. Pelas ofensas, o mesmo ocorreu com ele.

Deslizou os dedos pelos olhos, apagando qualquer traço de fraqueza, calando fundo a própria mágoa.

Entendia o ódio dele. Diego viu a família ruir por causa do envolvimento entre uma Teixeira e um Freitas. Maltrata-la era esperado, mas, quando ele direcionou esse rancor à mãe dela, morta por culpa da família dele, Penélope sentiu o insulto como uma facada a atravessa-la. Não poder defendê-la doía mais que o desprezo de Diego.

Paloma Teixeira foi vítima e não algoz dos Freitas. O único erro de sua mãe foi - assim como a filha - amar demais um Freitas, e ela definhou e pagou com a própria vida por causa desse amor.

Bateu na porta do quarto de Roberto e, após receber permissão, entrou devagar no recinto, crispando o rosto ao encontrar o ambiente na penumbra, as pesadas cortinas marrons cerradas, o ar pesado. Sem aguardar autorização, afastou as cortinas, deixando a luminosidade do fim de tarde irradiar sobre cada parte do dormitório, e abriu a porta dupla que dava passagem para uma pequena varanda.

— Feche-as! — ordenou a voz severa que em outros tempos a fazia tremer de medo.

— O senhor precisa de ar puro e luz — informou firme antes de sentar em uma das cadeiras acolchoadas da mesa de café próxima da cama. — Isso é um quarto, não um túmulo.

— Esse é o seu ponto de vista — ele resmungou amargurado.

Apesar de compadecida com a crescente fragilidade dele, Penélope ocultava seus reais sentimentos e o tratava com severidade. Roberto abominava sentimentalismos e cobrava o mesmo das pessoas ao seu redor, embora recorresse a eles desde o diagnóstico.

Roberto sucumbira ao tom mórbido após a descoberta do câncer e o tratamento, que sugava suas forças pouco a pouco, só pioravam seu humor.

— Como pediu, recepcionei o Diego e falei que o senhor precisava de tempo, mas ele não demorará a aparecer aqui.

Roberto aspirou o ar com dificuldade.

— Quero que você esteja comigo quando ele aparecer...

— Tenho que buscar Samuel na escola e depois ir à exposição do Lucas — recordou completando com um muxoxo. — A realeza não aguardará a plebe terminar suas funções antes de visitá-lo. — Diante da expressão confusa de Roberto, resmungou: — Diego me odeia, me tratou pior que um capacho.

— Bobagem! — retrucou o homem de face cansada. — Resolverei as coisas entre vocês antes de morrer.

Atenta e com o coração palpitando acelerado de esperança, Penélope aproximou o tronco em direção à cama.

— Contará o que realmente aconteceu?

— Não há o que contar — ele respondeu desviando o olhar.

— Então como pretende mudar os sentimentos de Diego por mim e Samuel?!

— Falarei quando estiverem os dois aqui.

Exasperada por Roberto persistir em ocultar a verdade do filho, e não querendo discutir com o homem de saúde debilitada, Penélope se levantou.

— Tenho que buscar o Samuel — lembrou querendo dar fim aquela conversa. Mesmo que quisesse cobrar a verdade dele, não adiantaria. Roberto fazia o que lhe dava vontade e em benefício próprio. — Passarei aqui antes de ir à exposição do Lucas.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora