Dispensa

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No jantar, Roberto voltou a falar sobre os planos para o casamento.

No geral eram só detalhes. Uma pequena lista de convidados. Felizmente, poucas. Contratar os mesmos profissionais que serviram em outras festas. E o casamento seria realizado por um juiz de paz, no salão principal da mansão.

Penélope não imaginava, e nem desejava, algo diferente. Roberto, a pessoa mais ansiosa pela boda, evitava sair de casa desde que a doença comprometeu sua mobilidade, fazer o casamento na mansão era o ideal. E, visto que ela e Diego pretendiam se separar o mais breve possível, uma cerimônia pequena, discreta e esquecível era perfeita para aquele enlace.

Desinteressada no assunto, manteve o olhar em seu prato, vez ou outra mexendo a cabeça para mostrar que escutava. Sabia que sua opinião, ou a de Diego, nem sequer era importante para a linha de raciocínio do patriarca Freitas. O que ele decidisse seria feito do jeito ordenado e ponto.

Mas nada no mundo a preparou para o dia escolhido, o que evitaria sua boca estar cheia quando Roberto anunciou:

— O casamento será neste domingo.

Grãos de arroz voaram na toalha branca, alguns acertaram Diego do outro lado da mesa, enquanto outros tomavam direções diferentes por sua laringe.

Tossindo por causa do engasgo, buscou o guardanapo para limpar a boca e depois a mesa.

— Deixe que cuido disso — Carla pediu ao se colocar ao seu lado, pegando o guardanapo das mãos de Penélope. — Beba, vai aliviar a garganta, Penny — indicou a governanta estendendo o copo cheio de água.

Bebeu o líquido em pequenos goles, respirando devagar, o olhar baixo não por desinteresse, como antes, mas de vergonha.

— Sente-se melhor, Pen? — Diego questionou quando ela terminou a bebida.

O fitou com dureza, odiando o sorrisinho na face irritantemente bela.

— Melhorou, Penny? — Samuel, ao seu lado, perguntou tocando seu braço, os olhinhos apreensivos fixos nos dela. — Seu rosto tá vermelho.

— Estou melhor, não se preocupe, Same. Engasguei, só isso — explicou, brindando-o com um sorriso.

Samuel balançou a cabeça em afirmação.

— Voou comida pra todo lado — comentou olhando-a com preocupação. — Acertou até o papai.

Penélope trincou o dente, o estômago revirando ao ouvir Samuel chamar Diego de "papai". Moveu a atenção para o outro lado da mesa, encontrando os olhos castanhos cravado no menino. Um instante depois as íris escuras se dirigiram a ela queimando-a, intensos, acusatórios. Ergueu o queixo, devolvendo o olhar com a mesma intensidade. Ele que incentivou as esperanças da criança em ter uma família, em específico um pai, através do casamento deles.

Pensar no casório, a fez virar-se para Roberto.

O Freitas mais velho parecia satisfeito pela rapidez de Samuel em aceitar Diego como pai.

Por qual motivo não estaria? Como planejado, tudo se encaminhava para amenizar sua culpa. Penélope zombou mentalmente.

— Quando disse domingo, não se referia a daqui cinco dias? — Quando ele confirmou, o fitou alarmada. — Como é possível? — Estranhou. — É muito pouco tempo. Não demora, sei lá, um mês, antes de poder marcar data?

Tinha se conformado com o casamento, mas a definição em poucos dias a assustou.

— Pedi a dispensa de proclamas.

— E é tão fácil? É só pedir que marcam uma data em tão pouco tempo? — perguntou desnorteada.

— É necessário um bom motivo para a dispensa. Minha iminente morte é um bom motivo — Roberto explicou fúnebre. — E o meu dinheiro um ótimo incentivo — acrescentou com a típica arrogância de quem conseguia tudo num estalar de dedos, ou, no caso dele, balançar de notas.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora