Erro

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Envergonhada, Penélope colocou a primeira roupa que suas mãos trêmulas alcançaram no guarda-roupa, um vestido florido de uso diário. Uma peça simples e fácil de colocar para se apresentar diante de Roberto Freitas, após vexativamente cair em tentação nos braços do filho dele.

Se arrependimento matasse, estaria esturricada no chão. Um erro, dos grandes, foi isso que cometeu, dizia a si mesma mentalmente ao caçar na gaveta uma calcinha e coloca-la às pressas. Tinha um acordo seguro, sem envolvimento emocional ou físico, e ela destruiu por se deixar levar pelo momento, por palavras bonitas, por um sentimento que só lhe trouxe sofrimento.

Correu até a penteadeira, pegou a escova e ajeitou seu cabelo. A última coisa que necessitava era provas de sua queda.

Com uma respiração longa, bateu as mãos na saia do vestido e virou-se, pronta para enfrentar o mundo.

Sua confiança desceu ralo abaixo ao colocar os olhos em Diego.

Ele a observava com um sorriso de canto, cabelo desavergonhadamente desalinhado, os botões da camisa social abertos até a metade do tórax definido, o tecido para fora da calça amassada, sem mostrar a menor intenção de colocar a gravata e o terno, largados a alguns centímetros da cama.

— Se vista — ordenou entredentes, a pele das bochechas quentes por ter que dizer algo óbvio.

— Estou vestido, meu amor!

Urrando de nervoso e irritação, com ele e consigo, resgatou as peças e o forçou a pegá-las, mantendo um silêncio constrangido durante o processo, antes de seguir com passos firmes para fora do quarto.

Sentiu a pele em chamas quando ele encaixou as mãos em suas costas ao seguirem até o quarto do pai dele. Afastou as costas do toque quente e apressou o passo, em nenhum momento verificando a reação dele, com medo do que veria nas feições dele.

Depois da conversa com Roberto viria a pior: Reafirmar os termos do casamento falso. Nada de beijos, nada de toques e, principalmente, nada de sexo intenso, apaixonante, que a deixava com pernas bambas e coração acelerado.

Seria permanecer no erro, dos grandes.

Estava com os nervos em tamanho descontrole que entrou no dormitório de Roberto sem bater.

O Freitas a fitou com o cenho franzido, mas algo modificou as feições severas, dando-lhe um incomum ar divertido, quando ele focalizou algo atrás dela. Assim como ele, Bruno, atrás da cadeira do patrão, tinha um sorriso idiota na boca, os olhos fixos no mesmo que Roberto. Não foi necessário se virar para saber exatamente o que eles viam, e compreendiam.

Graças aos céus, foi poupada de comentários sobre sua troca de roupa, ou desalinho total das de Diego. Roberto voltou-se para um envelope branco, pousado em seu colo, o pegou e estendeu para Penélope.

— Entregaria isso para vocês no final da festa — indicou.

Com a esperança queimando em seu peito, Penélope abriu ansiosa o envelope, a decepção atingindo-a como um banho de água fria.

— Imaginei que fosse a tutela do Samuel — comentou retirando do envelope um molho com cinco chaves.

— A tutela será passada para vocês nos próximos meses — Roberto explicou, fazendo Penélope encará-lo com irritação, sentindo-se enganada, de novo. Notando isso, justificou: — Os trâmites legais levam tempo para a conclusão.

Observando e ouvindo atentamente, Diego cruzou os braços e balançou a cabeça com divertimento. Duvidava da veracidade da declaração. Quando Roberto Freitas desejava algo, em um piscar – balançar de notas - o tinha em suas mãos, sem esforço ou demora. O velho usava as cartas ao seu favor para controlar todos ao seu redor, sabia disso e apostava que Penélope também.

— As chaves são da casa de praia da família. Meu presente de lua-de-mel para vocês — Roberto contou, acrescentando satisfeito com o presente dado: — Avisei os funcionários para deixarem a casa pronta para passarem a semana com conforto e tranquilidade.

Penélope olhou para as chaves com pouco caso, as colocou no envelope e o estendeu de volta ao Freitas.

— Não me afastarei do trabalho e de Samuel para uma estúpida e falsa lua-de-mel — retrucou exasperada com a escolha absurda de presente. — Ainda mais com a senhora Marcela na cidade.

— Sou o patrão, lhes dou os dias de folga — Roberto revidou sem se abalar e nem pegar o envelope esticado a sua frente. — Samuel irá com vocês. Passarão esses dias como uma família, como deve ser daqui em diante — contou, os olhos escuros e ainda perspicazes encarando Penélope com altivez.

Diego notou a tensão abater Penélope e apiedou-se. Era óbvio que ela desconhecia as intenções de Roberto com o casamento deles. Ao mesmo tempo, lamentou por si mesmo. Seu pai movia todas as peças com frieza, ocultando suas intenções, não deixando ninguém entrever que forma o quebra-cabeça teria ao final, e nem se preocupando com as consequências disso.

~*~

Depois de horas na estrada, com a noite preenchendo a cidade com seu manto de estrelas, Diego estacionou na garagem da casa de praia. De pronto uma senhora de corpo atarracado e um senhor magro e alto apareceram.

— Como foi à viagem, senhor Diego? — O homem, caseiro da residência, perguntou o observando-o sair do carro e se mover para o banco de trás.

— Tranquila, mas minha esposa e meu... — Titubeou, a mão hesitando em pegar o garoto adormecido. Pigarreou, limpando a garganta para dizer baixo: — Filho, acabaram dormindo antes de chegarmos.

Ergueu o menino no colo e olhou para Penélope, dormindo pesadamente no banco da frente.

— Pode levar o menino para o quarto? — Perguntou para a mulher do caseiro, parada a sua frente fitando maravilhada o rostinho de Samuel.

— Sim, senhor!

Passou o menino com cuidado para os braços da mulher. Ela o levou para dentro da casa, embalando a criança como se fosse um bebê.

Foi para o lado de Penélope, removeu o cinto de segurança e a ergueu em seus braços pela segunda vez naquele dia, antes de seguir o caseiro para o quarto reservado para eles.

Ela permaneceu em sono profundo durante todo o percurso pela casa.

— O senhor Roberto, pediu que aprontássemos três quartos. O da criança é o último do corredor. O do senhor é esse. — Apontou a porta a poucos passos dele, depois indicou outra, do lado oposto do corredor. — E o da sua senhora é esse — ele finalizou acanhado, sem olhar diretamente para Diego.

— Obrigado! Você e sua mulher podem se retirar — disse entrando no quarto reservado para ele com Penélope junto a si, logo em seguida fechando a porta com o pé.

Com cuidado para não desperta-la, Diego a pousou na cama, removeu as sandálias e ajeitou as cobertas em volta dela, lembrando-se de quando fez o mesmo dias antes. Retirou suas roupas, deitou-se ao lado dela e deslizou os dedos pela face bonita a centímetros de seu rosto.

Tendo em vista a atitude dela quando Carla avisou do chamado de seu pai, imaginou que de manhã ela não aprovaria sua escolha em ficarem no mesmo quarto. Estava decidido a convencê-la a dar uma chance real ao casamento deles. Não por causa dos termos de Roberto, mas porque não se imaginava fazendo o contrário.

Desde o momento em que retornou para sua vida, Penélope havia, sem perceber, o desafiado. Tentou resistir aos sentimentos que o dominava só por olha-la, disse a si mesmo que aceitava o casamento por pressão e desejo de vingança, para fazê-la infeliz e abandona-la na sarjeta quando cumprisse os termos do testamento de Roberto.

Mas agora não conseguia mais mentir a si mesmo. No altar, quando ela caminhou até ele, soube de imediato que se casava porque a amava. Indiferente às mentiras do passado, aos segredos que ela insistia em esconder dele, aos que ele próprio ocultava, ao caos causado pelos pais de ambos, ele a amava.

Só não tinha certeza se o seu amor era suficiente para esquecerem o passado, se perdoarem e manterem o casamento. Necessitava que ela o amasse em retorno e confiasse nele.

Aproximou sua testa da dela, os braços envolvendo-a pela cintura, aproximando-a dele. Esperava que aquela semana, isolados dos problemas, acabasse com os segredos e reavivasse o que tinham antes dos enganos afastá-los.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora