Rosas Vermelhas

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Eram poucos minutos a pé do centro da cidade até a fábrica, mas, não querendo deixar seu carro abandonado na rua, Diego convenceu Enrique a acompanha-lo de carro.

Parando em sua vaga no estacionamento da fábrica, Diego notou uma pessoa parada na porta, um grande buquê de rosas vermelhas nas mãos.

Desceu do carro e, franzindo o cenho, duvidou dos próprios olhos. Ao seu lado, Enrique soltou um barulho semelhante a engasgo. Possivelmente um riso contido, uma vez que o amigo tinha a tendência de divertisse com a insensatez alheia.

Controlando a irritação com a ousadia do ex de Penélope, forçou um sorriso e caminhou até Lucas, as mãos afundadas nos bolsos da calça social.

— Essas flores são para comemorar meu noivado com a Pen? — alfinetou ao se aproximar do outro, recebendo um olhar azedo.

— Não sei o que você e seu pai fizeram para convencer Penélope a terminar comigo, mas lutarei por ela. — Lucas revidou de queixo erguido. — Ela me ama.

— Quando estava nos meus braços ontem à noite e hoje, ela demonstrou o contrário — fez questão de frisar com um sorriso largo e provocativo.

Lucas grunhiu e moveu-se em direção a Diego, a intenção de apagar o sorriso do outro com um soco reluzindo em sua expressão carregada e no punho fechado.

Enrique se colocou entre os dois, para evitar a agressão iminente e levar a discussão para um ambiente controlado. O encontro entre os amores de Penélope atraia olhares curiosos, sedentos por novas peças para as fofocas.

— Vamos para a minha sala — Enrique comandou.

Diego, que conhecia a direção, foi na frente. Enrique fez questão de continuar entre os dois, mantendo Lucas poucos passos atrás dele, em seu campo de visão o tempo todo. Mais que cuidar da integridade do amigo, uma briga na frente dos funcionários envolvendo a presidência causaria danos a imagem da empresa.

Seguindo os dois a contragosto, Lucas tinha o intuito de colocar fim a qualquer plano dos Freitas para estragar seu relacionamento com Penélope. E foi exatamente isso que disse quando a porta do escritório de Enrique foi fechada, isolando os três.

— Sempre soube que existia um domínio de Roberto sobre Penélope e agora me aparece você para roubá-la de mim — soltou furioso. — Nenhum de vocês vai conseguir me afastar dela, incluindo o pirralho, entendeu?

Diego o encarou com irritação. A última coisa que necessitava era de um enamorado correndo atrás de sua futura esposa. Com Lucas perseguindo Penélope seria difícil convencê-la a dar uma chance real ao casamento deles. Tinha de se livrar dele o quanto antes.

— Quanto quer para sair do nosso caminho?

Sua pergunta causou o assombro de Lucas e de Enrique, embora só o primeiro verbalizasse sua descrença com a inusitada oferta.

— O que disse?!

Ignorando o aviso mudo no olhar de Enrique para não continuar naquela direção, persistiu:

— Todo mundo tem um preço, qual é o seu?

— Acha o mesmo de Penélope, que ela tem um preço?

Diego sorriu, um repuxar irônico e sombrio.

— Perguntei o seu preço.

— Amo Penélope, a quero como minha esposa, seu dinheiro imundo jamais me afastará dela.

Diego encostou o quadril na escrivaninha de Enrique, os braços cruzando-se em frente o tórax, o olhar agudo fixando-se no rosto transtornado de Lucas.

— Meu casamento com Penélope é inevitável — informou, acrescentando mordaz: — Vá até ela, ajoelhe-se, jogue palavras de amor eterno e implore com afinco. Nada que fizer vai alterar esse fato.

— Mostrarei para Penélope que vocês Freitas não passam de aproveitadores, e que ela deve ficar comigo.

— Por favor, faça isso — Diego incentivou movendo-se até a porta, um sorriso ladino cortando seu rosto ao escancara-la para Lucas. — Farei questão de confirmar suas palavras ao aproveitar cada noite com ela na minha cama, gozando e gritando o meu nome.

Foi o estopim, não deu nem tempo de Enrique se intrometer e evitar o confronto. Lucas avançou com punho e flores. E Diego riu, como se os socos não passassem de plumas. Parte deveria ser, pois voavam pétalas para todos os lados.

Diego não teve dificuldade em defender-se, uma vez que tinha ambas as mãos livres e seu oponente o atacava com rosas. Um empurrão e Lucas caiu no corredor, o rosto vermelho, a respiração apressada, os olhos injetados de fúria. Ele chegou a se erguer, pronto para atacar novamente, mas uma exclamação indignada a suas costas o fez gelar.

— Que bagunça é essa?

Olhou para trás, confirmando se tratar de Penélope.

Com Ana seguindo-a de perto, Penélope caminhou até os três homens, dois em pé e um sentado no chão, pétalas vermelhas cercando-os. O espanto com a cena inusitada aumentou quando o homem no chão virou o rosto, mostrando se tratar de Lucas.

— Lucas? O que faz aqui?

Quem respondeu à pergunta foi Diego.

— Ele veio te trazer suas flores favoritas, as magníficas rosas vermelhas da paixão — zombou, observando um constrangido Lucas se erguer. — Infelizmente, como a paixão e seu romance com esse idiota, pouco resta delas — completou espanando uma pétala grudada em sua camisa.

Dessa vez, Enrique se projetou rápido no caminho de Lucas, embora não fosse necessário. Em vez de voltar a atacar Diego, Lucas preferiu se mover para Penélope.

— Precisamos conversar, meu amor.

Inspirando fundo para não surtar, de novo, com a falta de juízo de Lucas, Penélope apontou para a porta de seu escritório.

— Venha comigo.

Lucas a seguiu como pedido.

— Não esqueça as rosas — Diego disse, fazendo todos se virarem e verem-no segurando os talos despetalados.

Percebendo o estado descompensado de Lucas diante da provocação, Penélope o agarrou pelo braço, indicando a sala para que entrasse na frente. Antes de ela mesma entrar, olhou séria para Diego e, com apenas os movimentos dos lábios, avisou:

"Depois conversamos".

Sem tirar os olhos do escritório da presidência, Diego largou a planta, encostou-se a parede do corredor e, depois de confirmar a hora em seu relógio, fixou os olhos na porta fechada.

— Ana, chame a faxineira para limpar essa bagunça — Enrique pediu à secretária, aguardando ela se afastar antes de perguntar para Diego: — Pensa em ficar de guarda?

— Sairei daqui só quando aquele imbecil abandonar a minha sala.

— Sala da Penélope — Enrique corrigiu.

— Dividimos a sala, então é minha também.

Enrique o imitou, encostando-se a parede ao seu lado.

— Não sou amigo dele, mas não é fácil virar a chacota da cidade toda e ser apontado como corno.

— Foi opção dele se envolver com a Penélope.

— Ela era solteira quando eles começaram a namorar.

— Agora não é mais — soltou entredentes.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora