Penélope trabalhou obstinadamente o restante do expediente, apesar das dúvidas interferindo sua concentração e o sono. Quase não dormira na noite anterior, nem nas anteriores, por culpa das tramoias de ambos os Freitas. Quando enfim deu seu horário, desligou ansiosa o notebook e, segurando a vontade de olhar para o homem a sua frente, recolheu suas coisas.
— Já vai?
Apertou o botão lateral de seu smartphone, pousado na escrivaninha, e, quando o horário reluziu na tela, o virou apontando as horas.
— Trabalhei exatas nove horas — resmungou ao captar um tom reprovativo na voz dele. — E tenho de buscar o Samuel na escola.
Normalmente saia dez minutos antes, mas, com Diego de olho em todos os seus movimentos, segurou-se.
— Nem vi o passar das horas. — O comentário irritou Penélope, que sentiu cada segundo de estar na mesma sala que ele, e torcera o tempo todo pelo fim do dia. — Só um minuto que já te acompanho — ele disse fechando os arquivos em que mexia para desligar seu notebook.
— Não é necessário.
— Claro que é — ele retrucou curvado sobre o eletrônico, à mão movendo o mouse.
Impaciente, e não querendo Diego ao seu lado, colocou o notebook em sua bolsa, agarrou seu casaco e seguiu com passos largos para fora da sala.
— Até mais tarde, Ana! — disse ao passar rapidamente pela mesa da assistente e amiga.
— Até, Penny! — Ana devolveu, também finalizando o trabalho.
Penélope atravessava a saída, quando Diego, esbaforido, a alcançou.
— Pedi para me esperar — ele reclamou segurando seu antebraço, fazendo-a parar.
— E eu avisei que não havia necessidade — revidou soltando-se.
— Quando disse que faremos o trajeto do trabalho juntos, me referia ao da volta também — Diego replicou exasperado com o comportamento arredio dela.
— Pode ir para casa. Irei buscar meu irmão.
— Iremos juntos buscar o nosso irmãozinho — ele disse daquele jeito que parecia depreciar a criança.
— Diego, ainda não sei o que pretende, mas não finja gostar do Samuel para, quando conseguir o quer, descarta-lo.
— É isso que pensa de mim? Que descarto as pessoas quando obtenho o que desejo? — ele questionou se acercando.
Penélope segurou a vontade de recuar, de demonstrar o quanto ele a abalava.
— Não penso, tenho certeza.
Ele inclinou a cabeça, o olhar agudo fixo nela.
— O que fiz para me julgar dessa forma?
"Você me descartou", vibrou em sua garganta, mas sabia que se o falasse trilhariam um caminho tortuoso de segredos e mentiras, nem todos dela.
Respirou fundo, fechou os olhos por um segundo e ao abri-los a prudência apresentou-se.
— Só não quero magoar o Samuel.
Diego assentiu com a cabeça, os olhos movendo-se para algo atrás dela por um instante. Ao voltarem para Penélope, pareciam queima-la.
— Acredite, só quero passar mais tempo com vocês dois, conhece-los melhor, afinal, em breve serei seu marido e pai dele.
— Será só de fachada — ela recordou com uma pontada de tristeza.
Diego a puxou pela cintura. Seu movimento inesperado fez Penélope arfar e pousar as mãos no tórax dele, os olhos arregalados fitando-o.
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Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ Degustação
Lãng mạn+18 ~ No mundo de Penélope e Diego, a verdade é tão complexa quanto os sentimentos que nutrem um pelo outro. Tudo começa em uma noite de diversão onde suas vidas se entrelaçam. Penélope, com uma identidade falsa, e Diego, um homem apaixonado, estão...