Manipulação

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Trancada em seu quarto, Penélope afundou o rosto no travesseiro e gritou de frustração e medo. Uma combinação perigosa que a deixava a beira das lágrimas.

Passou a pior noite de sua vida, revivendo o beijo de Diego, pensando no que deveria ter feito e não fez, nas palavras que não disse. Pouco antes de o sono vencê-la, concluiu que a recaída foi culpa da decepção com Lucas. Prometeu ser forte e evitar velhos sentimentos, no entanto, assim que o despertador do celular a acordou, as lembranças do dia anterior voltaram a atingi-la.

Sua angústia não era por causa da briga com Lucas e nem por causa do beijo, embora deveria ser. Era antiga e profunda. Anos atrás tinha uma vida tranquila e repleta de sonhos apaixonados. Perdeu tudo em questão de meses. Primeiro o grande amor de sua vida, o homem que a pediu em casamento, virou as costas as suas súplicas. Depois abandonou a estabilidade do lar ao fugir com a mãe para outra cidade, e a viu definhar por amor e morrer. Por fim, desiludida e com a responsabilidade de cuidar de um recém-nascido prematuro, fez o acordo pelo qual pagava caro.

Cumpria sua parte, abaixava a cabeça diante dos falatórios e do desprezo a sua volta, mas, até o momento, não recebia nada em retorno. Ao contrário, acumulava outra perda à pilha: Lucas.

Batidas na porta a obrigou a erguer o rosto.

— Quem é?

— Carla, senhorita Penélope. O senhor Roberto quer lhe falar.

— Diga que irei em alguns minutos.

— Sim, senhorita!

Apressou-se para ir ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes e forçou um sorriso dissimulado para o reflexo. Suspirou, derrotada em sua tentativa de afastar os vestígios da perturbação que a dominava. As olheiras e o cansaço em sua face não escondiam a péssima noite. Estava desolada com o fim de seu namoro, não tanto quanto esperava, mas estava. Somado a tensão dos últimos dias, as lembranças que causavam e o beijo roubado na noite anterior, dificilmente sua aparência seria de entusiasmo.

Pegou o colírio e jogou uma gota em cada olho, penteou o cabelo e respirou fundo. Necessitava estar apresentável e inabalável para o que quer que Roberto armasse dessa vez. Sentindo-se preparada para enfrentar o patriarca Freitas, Penélope bateu na porta do quarto dele e aguardou Roberto permitir sua entrada.

— Com licença! O senhor me chamou?

— Sente-se!

Controlando seu temperamento, fez o que foi rudemente pedido, ocupando a poltrona ao lado da cama do Freitas. Torceu para ser mais uma das reuniões sobre o andamento da fábrica.

— Temos que falar sobre seu noivado com Diego — Roberto disse, jogando fora as esperanças de Penélope de ter uma conversa normal e pacifica.

— Até onde lembro, Diego recusou.

— Tolice. Ele vai concordar.

— Mas eu não. Gosto da minha vida do jeito que está a não quero me casar com seu filho.

— E pretende casar com quem? Com o pintor sem futuro?

— Esse é um problema meu. — Queria não ser rude com o senhor debilitado, mas Roberto conseguiu aumentar seu estresse.

— Dispensei-o.

Soltou uma risada descrente.

— Só porque o senhor pediu? — perguntou sarcástica, poupando-se de acrescentar que dispensar Lucas já não era uma escolha.

— Porque estou ordenando.

Ergueu-se, as bochechas coradas de raiva.

— Acontece que não sou obrigada a fazer o que o senhor manda.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora