Fúria

156 11 1
                                    

Assim que encerrou sua conversa com Penélope, voltaram juntos ao salão, porém ela, indiferente aos demais e a impressão que deixaria, seguiu diretamente para as escadas, rumo aos quartos. Sendo o último anfitrião presente na festa de noivado - de início de aniversário -, Diego juntou-se aos Mendez para uma conversa leve.

Percebia nos olhos de todos os Mendez a curiosidade contida. Enrique com certeza o interrogaria quando só estivessem os dois. Os pais dele, por não serem tão próximos dele, jamais o fariam. Tereza, mesmo em silêncio, tinha as feições tensionadas, o olhar se prendia nele por alguns instantes, logo se desviando quando ele a fitava.

A viúva de seu irmão sofrera muito com o luto e, assim como a mãe dele, culpara e amaldiçoara os dias das Teixeiras. Era óbvio que seu casamento com Penélope a ofendia. Tanto quanto ofenderia Marcela Freitas quando descobrisse o recente noivado do filho.

Horas depois, em seu quarto, teve a confirmação de suas suspeitas. Sua mãe lhe enviou cinco mensagens exaltadas em áudio, minutos e mais minutos de ofensas direcionadas a sua noiva, alguns palavrões e lamentos. O choro dela e a menção de Luiz foram os que mais o atingiram.

Sua mãe era frágil, tinha caído em depressão após a morte de Luiz e cometeu tantos desatinos que Roberto ameaçou interna-la. Só não cumpriu as ameaças, pois isso macularia a reputação da família, a imagem de perfeição, do casal inabalável. Porém, com a chegada dos Teixeira na mansão, essa imagem quebrou-se sem que Roberto move-se um só dedo para proteger, e manter, a esposa.

Havia sido insuportável para Marcela ter a prova da traição do marido debaixo do mesmo teto, então, mesmo ainda amando o marido, fez as malas no mesmo dia e partiu para o loft de Diego na capital.

Diego largou o celular na mesinha de cabeceira. Conversaria com sua mãe quando tivesse uma desculpa perfeita para o noivado. Contar a verdade a sua mãe, sobre a imposição de Roberto, estava fora de cogitação. Sendo o único filho que lhe restava, aquele que cuidou dela nos últimos anos e cultivou o ódio pelos Teixeira, Marcela estragaria qualquer chance dele conquistar a confiança de Penélope.

Deitado de costas na cama, fitou o teto, tentando traçar os passos para seduzir sua relutante noiva. Mas a preocupação com Marcela o fez mergulhar em amargas lembranças.

~*~

Não seria mentira dizer que toda cidade se reuniu para o enterro de Luiz. O primogênito dos Freitas era amado pelos funcionários da fábrica e, por consequência, de seus familiares.

Diego não saiu do lado de sua mãe um só momento. Desde o anúncio do acidente, quase quarenta horas atrás, Marcela não parava de chorar e murmurar incoerências e acusações.

A fragilidade dela, e o fato dos medicamentos tomados para se acalmar a deixavam quase sem poder andar sem parecer bêbada, o fez sugerir que a deixassem em casa. No entanto, concordando pela primeira vez, seus pais disseram ser necessária a sua presença na última homenagem a Luiz.

Abraçando e amparando sua mãe durante toda a cerimônia, olhou para o pai do outro lado da cova. Seus pais também tinham entrado em acordo sobre manterem distância um do outro. Se sofria, Roberto Freitas não o demonstrava, continuava com sua costumeira feição austera e pose altiva.

Mais do que nunca sentiu a dimensão do buraco entre ele e seus pais, culpa dos anos de estudos longe deles. Não sabia como agir com nenhum dos dois. Como consolar sua mãe? Limitava-se a, sem expressar uma única palavra, abraça-la e acariciar seus cabelos. Mas sentia não ser suficiente. Quanto ao pai. Queria questiona-lo a respeito da tal traição e saber como, segundo a acusação de Marcela, isso influenciou o acidente de Luiz. Faltava-lhe não somente a coragem como também a intimidade. Isso os pais tinham com Luiz, o filho que mantiveram sempre ao lado.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora