Do que tem medo?

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Penélope se arrumou com esmero para a exposição do namorado. As curvas se destacando no vestido vinho que chegava pouco abaixo dos joelhos; o cabelo preso em um coque frouxo com alguns fios soltos ao lado da face perfeitamente maquiada. Só não conseguiu arrumar o conflito interno.

Pegou uma taça de champanhe, distribuídas no evento, e caminhou devagar pelo salão, observando, sem prestar atenção, aos quadros dispostos nas paredes brancas da elegante galeria. As pinturas de Lucas, o trabalho do homem que deveria ocupar sua mente no lugar dos Freitas.

Tinha que procurar o namorado e suas amigas, mas as palavras de Roberto, e a curta conversa com Diego, rodopiavam em sua mente como um filme sem fim.

Sorveu um pequeno gole de sua bebida, o pensamento fixo no que poderia acontecer de manhã. Temia o que Roberto planejava para o futuro dela e de Samuel. Seja lá o que definisse, só esperava que Roberto cumprisse com a palavra e a lhe desse a guarda de Samuel. Desejava escapar da mansão Freitas, se livrar do passado e formar um lar com seu pequeno.

Parou em frente a pintura de perfil de um homem. As variações de branco e pretto tornavam o semblante dele frio. Tinha a impressão que a qualquer momento ele viraria com uma ordem ou comentário sarcástico. Um Freitas colocando-a em seu "devido lugar".

Por isso não conseguia parar de fitá-lo? Porque lhe lembrava Diego?

Tomou outro gole, os olhos fixados na pintura. A imagem não a perturbava, nem o tratamento recebido horas antes, o que a incomodava era o contraste o Diego de agora e o do passado.

~*~

Após o susto na boate, as três juraram nunca mais pisar os pés no Artêmis, estendendo o juramento para a fábrica Freitas & Mendez. Arquitetaram mentalmente modos de fugas para o caso de topar com Diego em Cezário.

Não se preocuparam com os Mendez. Enrique não as reconheceria, por estar embriagado quando as encontrara. Prova disso foi que a mãe de Jéssica, na tarde seguinte, ordenou a trêmula filha a atendê-lo e, para alívio da jovem, Enrique nem sequer a notou. Uma parte de Jessi, a apaixonada pelo rapaz, até ficou chateada.

As primas deles também não eram um problema. Ao servir a mãe de Enrique na cafeteria, Jéssica conseguiu a informação de que as jovens moravam na capital e vinham para o interior em raros encontros familiares.

Restava as três evitarem o filho mais novo de Roberto. O que não parecera complicado. A propriedade Freitas ficava próxima à fábrica, no limite da cidade, em uma mansão rodeada por muros altos. Nenhum dos Freitas fazia questão de passear entre os comuns habitantes de Cezário. Tudo o que precisavam pediam a seus empregados. Roberto vivia do trabalho para casa. O filho mais velho, Luiz, não era diferente, só acrescentava, segundo fofocas, algumas noites de divertimento na capital longe dos olhos da esposa. Com certeza o mais novo trilharia o mesmo caminho.

Tudo perfeito. Probabilidade mínima de reencontrá-lo antes que fossem manchas na memória temporária, apenas pessoas sem importância. Só não contavam com um detalhe: O desejo de Diego em rever Penélope.

Após duas noites aguardando a volta de Penélope, Diego utilizou a amizade com o dono da Artêmis e o nome dado por Ana para alcançar seu propósito, conseguindo a informação de que Pedro, o novo DJ, pediu os crachás VIPs para a namorada e suas amigas.

Assim que Pedro terminou o serviço na boate, Diego o abordou e pediu o telefone de Penélope. Ciente que se descobrissem a idade da jovem perderia o emprego, Pedro se negou com a desculpa de que não sabia. Persistente, Diego o convenceu a pedir para Ana ajuda-lo a encontrar Penélope.

Com medo das mentiras serem descobertas, a princípio, Penélope se negou a encontrar Diego. Só que Ana choramingou tanto em seu ouvido que o namorado perderia o emprego, que terminou por aceitar. Não se perdoaria se um inocente se prejudicasse por sua causa. Seu ponto fraco era a consciência.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora