Amigos?

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Palavras certas, ditas tardiamente machucam, Penélope concluiu ao ouvir as desculpas que esperou por anos e, no lugar do alívio, sentir um enorme vazio, junto da vontade de chorar. Elas não mudavam o que passou e as escolhas que tomou pela falta delas.

— Isso foi em outra vida — comentou fracamente afastado a mão dele de seu rosto.

E tinha sido exatamente isso: Outra vida; outra Penélope; outro Diego. Uma vida de mentiras; uma Penélope falsa; um Diego imaginário. Um castelo de ilusões que ruiu e soterrou tudo e todos que ajudaram em sua construção.

— Será que não podemos no entender, pelo menos sermos amigos? — Diego pediu detestando a muralha que Penélope colocava entre eles. — Afinal, sabe-se lá quanto tempo ficaremos juntos.

Ela o encarou com expressão duvidosa.

— Quer ser meu amigo?

Os olhos dele passearam pelas curvas do corpo feminino, cobertos apenas por um diminuto biquíni florido, e uma forte excitação o dominou por inteiro, fazendo-o segurar o fôlego por um instante.

— Sinceramente? Prefiro ser seu amante, não amigo, mas temos de começar de algum ponto — respondeu com um toque malicioso.

Penélope voltou a deitar na espreguiçadeira e acompanhou o voo de um pássaro ao longe.

— No final dessa semana, retornaremos a mansão e sua mãe estará nos aguardando, pronta pra atormentar minha existência — indicou desanimada.

Diego a imitou, deitando-se, porém, no lugar de fitar algo no céu, focou no rosto dela, nas linhas delicadas, na curva do nariz arredondado, nos lábios cheios que imploravam por beijos. Embora sua dona os usasse para expor formas de rejeita-lo.

— Minha mãe não suporta o meu pai, acabará partindo da mansão antes que retornemos — deduziu, acrescentando em defesa de sua mãe: — Ela só não superou a perda do Luiz.

— Entendo os motivos, só que as coisas que ela me disse e fez foram desnecessárias — retrucou fazendo menção ao tapa.

— Peço desculpa no lugar dela. Um dia ela compreenderá.

Penélope moveu a cabeça e o encarou com uma sobrancelha erguida.

— Compreenderá o quê?

— Que você não tem culpa da traição que ela sofreu.

— Isso é meio óbvio, não? — resmungou. — Eu era só uma adolescente, que influência teria na vida amorosa da minha mãe?

— Nem percebeu que ela estava envolvida com alguém?

— Eu estava ocupada demais pra isso — respondeu seca, o olhar agudo fixo nele indicando com quem. — Se estivéssemos numa saga para roubar a fortuna dos Freitas, como nos acusaram e continuam a me acusar, teria sido bem mais fácil aceitar seu pedido de casamento.

Diego assentiu de leve.

— Porque recusou?

Essa dúvida o perturbava desde que ela se esquivou de seu pedido. Depois da separação, pensou que não se importava com a resposta, mas se assim fosse, por qual motivo seu peito apertava-se aflito pelo motivo?

— Tive medo de te perder, o que é bem irônico, não acha?

Penélope moveu o olhar para uma árvore atrás de Diego, o incomodo evidente em sua feição contraída.

— Com sorte, nesse momento, meus pais estão tentando se entender como fazemos — Diego comentou.

— Acredita mesmo nisso?

Diego soltou um pequeno riso.

— Não. Mas eles bem que precisam — respondeu, acrescentando pensativo: — Eles nunca conversaram sobre o que houve com o Luiz. Minha mãe gritou, acusou e ameaçou. Mas meu pai, ele não disse uma palavra. — A encarou curioso. — Ele falou pra você? — Penélope desviou o olhar e negou. — E sua mãe disse algo? — sondou.

— Não.

Ela mentia em ambas as respostas. Diego percebia isso com a mesma força que sentia o sol secando as gotas de água em sua pele.

Penélope não confiava nele. Embora odiasse isso, admitia merecer a desconfiança. Não tinha a tratado da melhor forma após descobrir que o enganou. Deu a Roberto a chance de ser o herói, o apoio, a pessoa para quem ela devia fidelidade por socorrê-la quando foi necessário. Tinha de desfazer essa imagem. Só não sabia como.

~*~

Determinada a resgatar o filho das garras dos Teixeira, Marcela visitou antigas conhecidas de Cezário e, entre xícaras e guloseimas, questionava sobre sua atual nora. Seu sobrenome abria portas e, mesmo as mais relutantes em recebê-la após anos sem contato, o fazia com amplos sorrisos e abraços empolgados.

Infelizmente, a única família com a qual de fato mantinha contato, por trabalho e pela longa amizade entre famílias, os Mendez, não estava em sua lista de possíveis fontes de ajuda. Ficou claro em sua conversa com Tereza, de que lado os Mendez estavam.

Ainda assim conseguiu informações preciosas, e comprometedoras, sobre Penélope Teixeira.

Todas evitavam tocar no romance da mãe de Penélope com seu marido, e rasgavam elogios a jovem, achando que agradariam Marcela, mas, conforme a conversa prosseguia, soltavam comentários inocentemente depreciativos.

Ela instalou uma creche na fábrica, ajudando muitas das mulheres da cidade. Principalmente as que foram largadas pelo parceiro, como a mãe dela.

Um amor de pessoa, mas cheia de problemas familiares. Dizem que o pai as abandonou por causa da fama de namoradeira dela e da mãe.

Ela namorou por alguns anos o Lucas, filho do Tarso, dono do mercadinho. Mas foi seu filho chegar à cidade para ela cair de amores mais rápido do que troco de roupa. O amor não é lindo?

Procurou a casa do ex-namorado de Penélope, porém não o encontrou. Com algumas indicações, descobriu que o artista plástico, trabalhava em uma galeria na capital, em que atualmente tinha obras expostas.

Dirigiu por duas horas, mas conseguiu falar com o rapaz.

Sua primeira impressão foi que Lucas Miller poderia se passar por seu filho. Tinha o mesmo tom de cabelo e olhos, e até os traços lembravam Diego, embora o filho nos últimos anos adota-se uma barba cerrada e o Miller tinha o rosto limpo. A segunda impressão, a mais importante, foi que Lucas ainda tinha interesse em Penélope.

Sem alardear seu sobrenome, conseguiu em meio a uma conversa sobre os quadros dele, falar que esteve no casamento da antiga namorada dele, e isso foi o suficiente para o jovem expor sua raiva contra Roberto e Diego.

— Tenho uma proposta a lhe fazer, que nos beneficiará — Marcela disse quando Lucas cessou as ofensas o marido e filho dela. — Sou casada com o velho controlador e mãe do almofadinha arrogante — declarou bem humorada, para deixar claro não ter se ofendido.

Ainda assim, Lucas empalideceu e jogou mil desculpas.

— Se eu soubesse...

— Não deixaria evidente seu desgosto com o casamento. Eu sei, por isso ocultei esse fato até agora — ela o cortou. — Concordo com tudo que disse sobre meu marido. E meu filho mostrou-se uma decepção ao deixar-se controlar pelo demônio que chama de pai — comentou enojada. — Minha proposta é que me ajude a causar o divórcio deles.

— Que interesse tem nisso? — questionou Lucas, sem entender como à senhora simpática, de cabelos brancos e sorriso ameno, de repente, sustentava uma carranca e oferta para acabar com o relacionamento do filho.

— Muitos. — Pousando a mão no antebraço de Lucas, pediu: — Me acompanhe até o apartamento que tenho aqui perto, para que eu possa te explicar detalhadamente.

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N/A : Tô em uma correria danada e nem percebi os dias passarem. Tá complicado, mas pra compensar posto dois hoje <3

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora