Outra noite péssima, por causa do momento de fraqueza na garagem da mansão. Diego estava entranhado em sua pele mesmo após deixa-lo, literalmente. Ela o queria com a mesma intensidade que quis quando não passava de uma adolescente desmiolada. O que tornava a decisão de casar com ele potencialmente perigosa.
Ele disse que seria fiel a ela, e a fez garantir que seria fiel de volta. Algo coerente para o histórico amoroso, e familiar, de ambos. O problema era que, sendo fiéis um ao outro, e com a tensão sexual crescente entre eles, resistir à tentação seria uma prova diária.
Sua suposição se confirmou naquela mesma manhã, ao seguir para tomar café da manhã com o irmão. Diego fez questão de lhe puxar à cadeira só para se inclinar e sussurrar em seu ouvido:
— Minha vontade é dobra-la sobre essa mesa e fodê-la até que implore perdão por ontem. — Seus lábios acariciaram a orelha de Penélope, causando um tremor sensual pelo corpo da jovem.
Aturdida e com a face em chamas, Penélope o observou se acomodar na cadeira ao seu lado como se não tivesse dito nada de mais.
Ele sorriu, os olhos estreitando de leve, formando marquinhas nos cantos, evocavam lembranças de como ela gostava de beija-las.
Abaixou a cabeça para o prato, ainda vazio, e se exigiu foco, controle, frieza, qualquer característica que apagasse as sensações causadas pela declaração e o sorriso dele. Não podia cair em tentação, de novo. Os hormônios foram os culpados em sua juventude, na noite anterior estava zangada, com sede de vingança, e se deixou levar. Agora não havia desculpa para cair na sedução dele.
Respirou fundo, ergueu os olhos e se concentrou em Samuel, do outro lado da mesa, devorando seu lanche sem perceber a tensão entre os adultos. Pela tutela dele suportou tanta coisa, o que seria mais alguns meses, ou anos, em um casamento de fachada? Nada, respondeu a si mesma com determinação.
— Bom dia, Penélope, Diego, Samuel!
Penélope observou surpresa Roberto entrar na sala de jantar, acompanhado por Bruno, seu enfermeiro, que empurrou a cadeira de rodas até a cabeceira da mesa. Desde que começou o tratamento, Roberto preferia fazer suas refeições no quarto.
— Bom dia, vovô! — saudou Samuel correndo até Roberto para abraçá-lo pelo pescoço.
Roberto sorriu para o menino, sua face pálida transmitindo todo o afeto que sentia pelo pequeno.
— Vai tomar café com a gente?
Ele confirmou e pediu para o menino voltar ao lugar. Ao olhar para os adultos o brilho apagou-se.
— De hoje em diante faremos todas as refeições como uma família.
Diferente dos adultos, Samuel ficou exultante com a novidade.
Penélope ouviu Diego fungar, embora ele não tenha emitido uma só palavra, nem mesmo para corresponder ao cumprimento do pai. Compreendia sua atitude. Mesmo não sendo contra a dividir a mesa com Roberto, Penélope não se achava capaz de considerar os Freitas parte de sua família, com ou sem um casamento prestes a uni-los. No entanto, se limitou a tomar seu café em silêncio, o que não foi difícil com uma criança monopolizando a conversa pelos poucos minutos que compartilharam a mesa.
Ao levantar para levar Samuel à escola, Roberto informou para ela e Diego:
— Meus advogados precisam dos documentos de vocês para dar início aos trâmites legais do casamento e transferência de tutela.
— Passará a tutela para o meu nome? — Penélope questionou esperançosa.
Roberto a fitou com dureza.
— Passarei para o casal, depois da minha morte — respondeu categórico, seu olhar deixando evidente que não adiantaria argumentar.
Resignada, Penélope assentiu. Não adiantava insistir, mesmo tomando um caminho torto para desfazer os erros do passado, Roberto insistiria naquela loucura e ninguém o convenceria do contrário.
Ao seu lado, Diego parabenizou Penélope pela atuação digna de Oscar. Chegou a esquecer da trama dela para roubar sua herança através de Samuel, até ver os olhos dela brilharem gananciosos ao perguntar se a tutela seria exclusiva dela. Gravaria aquele momento em sua retina para não se deixar envolver pelo charme e ar inocente dela.
~*~
Depois de deixar Samuel na escola, Penélope informou Diego que encontraria as amigas na cafeteria e depois seguiria com Ana para a fábrica.
— Vou com você.
— Não, não vai. Tenho que conversar com aquelas duas sem distrações.
Ele sorriu de canto e se aproximou dela com as mãos atrás do corpo, falsamente mostrando-se inofensivo, quando todo seu corpo vibrava suas intenções de provoca-la.
— Eu a distraio de que jeito?
— Não estou com tempo para joguinhos, Diego.
Virou-se para se afastar, mas teve a cintura segurada e puxada de encontro ao tórax masculino.
— Sempre podemos criar nosso tempo, como ontem — disse, instigando recordações da noite anterior, da sensação do toque dele em sua parte mais íntima. — Seu perfume é muito bom — murmurou enterrando o nariz no pescoço dela. — Foi cheirando a sua essência em meus dedos que gozei ontem.
Sentindo as pálpebras pesadas, Penélope respirou profundamente, o cheiro dele cercando-a, levando-a a imagina-lo se tocando enquanto pensava nela.
— Diego! Penélope!
Os gritos de Henrique despertaram Penélope como um potente balde de água. Aproveitando que Diego soltou sua cintura, afastou-se com o coração aos pulos.
Henrique se aproximou, com olhos estreitos observou primeiro a carranca de Diego, endereçada a ele, e depois para a face corada de Penélope.
— Vão para a fábrica?
— O Diego vai agora, eu vou com a Ana daqui a pouco — Penélope disse esbaforida, se afastando apressada em direção à cafeteria.
Mesmo querendo segui-la, Diego se conteve. Daria espaço para Penélope entender que era impossível negar ou fugir da atração que sentiam, e nem precisava fazer isso.
— Quer dizer que os boatos são verdadeiros? — Henrique perguntou, divertindo-se em ver o amigo não conseguir afastar os olhos da mulher que, até dias atrás, dizia odiar.
— Que boatos?
— Os passarinhos da Cezário amanheceram cantarolando sobre vocês se agarrando sem o pudor pelas ruas — contou lançando um braço pelos ombros do amigo. — Duvidei até flagrar você quase comendo a garota a luz do dia.
— As pessoas daqui, incluindo você, não tem trabalho a fazer?
— Temos, mas, ocasionalmente, gostamos de uma boa fofoca, ainda mais quando são picantes — brincou soltando-o. — Pelo jeito aceitou o casamento.
— Meu pai está muito doente e frágil demais para desgostos — disse dando de ombros. — Não tenho outra saída a não ser cumprir com os desejos dele.
— Não se preocupava com a saúde dele antes. Até queria interdita-lo — Henrique recordou, achando graça nas justificativas.
— Avaliei melhor a situação e vi algumas vantagens — Diego comentou, os olhos movendo-se até Penélope, sentada ao lado de Ana na cafeteria.
Henrique não conseguiu segurar uma gargalhada, recebendo um olhar atravessado do Freitas. Diego podia inventar a desculpa que fosse, e até se forçar a acreditar nelas, Henrique sabia a verdade: o amigo nunca superou o fim do relacionamento com Penélope.
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Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ Degustação
Romance+18 ~ No mundo de Penélope e Diego, a verdade é tão complexa quanto os sentimentos que nutrem um pelo outro. Tudo começa em uma noite de diversão onde suas vidas se entrelaçam. Penélope, com uma identidade falsa, e Diego, um homem apaixonado, estão...