Mamãe

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Ajudando Marcela a sentar na primeira cadeira que visualizou na biblioteca, percebendo a palidez que havia tomado o rosto dela e o tremor no corpo frágil, questionou preocupado:

— Mãe, está tudo bem?

Marcela piscou rapidamente, tentando recompor-se. O desafio de manter a máscara de compostura era visível.

— Só uma tontura... — disse deslizando os dedos pelo suor frio em seu pescoço.

Diego puxou uma cadeira para perto dela.

— Tem se cuidado e tomado seus remédios? — questionou ao segurar as mãos de Marcela entre as suas, sentindo-as frias.

— Remédio nenhum resolve o meu caso — ela respondeu endereçando a Diego um olhar afiado. — Tanto desgosto não me faz bem... Ainda mais quando meu filho foge com uma qualquer.

A resposta fez Diego soltar as mãos de Marcela.

— Mãe, não sei por quanto tempo pretende ficar na mansão, mas enquanto estiver aqui, por favor, pare com essa hostilidade estúpida — pediu, mantendo um tom respeitoso, mas firme. — Sei quais são seus motivos para não aceitá-la na família, e os respeito. Porém, é importante para mim que você pelo menos tente não destratá-la e nem ao Samuel. Penélope é minha esposa e o menino... — titubeou incerto de como explicar sua relação com o garoto que causou a separação de seus pais. Optou pela sinceridade que tanto faltava na mansão Freitas. — Samuel me vê como um pai.

Tensa, Marcela encarou o filho profundamente, suas feições endurecendo.

— O que Roberto te ofereceu para esquecer tão rapidamente o que aquela mulher fez ao seu irmão e a nossa família? — Marcela perguntou com a voz carregada de desconfiança. — Qual é o seu preço para aceitar os filhos da amante dele em sua vida?

Diego baixou os olhos por um momento, controlando-se e avaliando como prosseguir aquela conversa e, talvez, chegar em um resultado positivo. Sabia que não podia mudar o passado, tampouco citaria os termos do testamento de seu pai, mas estava determinado a verdadeiramente construir um futuro com Penélope e Samuel.

— Penélope não tem culpa dos erros da mãe dela, assim como eu não tenho culpa pelos do meu pai — indicou, acrescentando na esperança de aliviar o ódio no coração de sua mãe: — Amo a Penélope. Casei com ela e aceitei Samuel como filho. Somos uma família agora e não permitirei que os machuque de forma alguma.

— Enlouqueceu! Caiu no mesmo feitiço que seu pai — ela rosnou, as unhas afundando nas palmas de suas mãos. — Não permitirei que essa mulher destrua o que resta da minha família.

— Uma vez na vida, pense na minha felicidade e esqueça os mal-entendidos do passado — Diego suplicou.

Marcela se ergueu, o olhar frio, cortante e carregado de uma determinação furiosa.

— Provarei que essa mulher é indigna, mau caráter e leviana como a mãe — disse altiva, um riso cáustico moldando-se em sua face ao citar: — E será mais rápido do que imagina.

~*~

A pisar no segundo piso, Penélope sentiu como se fosse lançada em um campo minado, onde cada passo poderia detonar uma série de consequências explosivas.

— Como vai, Penélope?

O encontro inesperado formou um nó no estômago de Penélope e lançou uma sombra sobre os olhos presos com preocupação na figura parada a sua frente: Lucas Miller, seu ex-namorado.

Lucas estava vestido com roupas descontraídas, como se estivesse aproveitando as férias, e um sorriso largo iluminou seu rosto ao vê-la. Ele se aproximou com passos confiantes, como se o rompimento deles não tivesse ocorrido da pior maneira.

— O que faz aqui, Lucas? — Penélope questionou parando ao lado de Samuel.

Penélope engoliu em seco, nervosa com o encontro inesperado. Samuel, ao seu lado, observava a cena com curiosidade e um traço de irritação. Uma criança que não entendia todos os detalhes dos dramas adultos, mas demonstrava claramente quando não gostava de alguém.

Colocou a mão no ombro do menino, puxando-o para perto de si.

— Fui contratado para fazer uma pintura especial para Marcela Freitas — Lucas explicou com os olhos escuros presos no dela. — Inclusive ela me reservou um quarto aqui, pra que eu não precise me locomover da cidade para a mansão todo dia.

— Entendo...

Imediatamente Penélope compreendeu o caminho traçado por Marcela para atacar seu casamento. Como se precisasse de ardis para isso ocorrer. Diego já tinha motivos suficientes para desconfiar dela, a presença de seu ex-namorado na mansão só complicaria as coisas.

— Agora estaremos próximos por mais tempo — Lucas disse e se atreveu a deslizar a mão pelo braço de Penélope.

— Larga a minha mamãe! — Samuel gritou e deu um tapa forte na mão de Lucas.

Surpresa pela forma que Samuel a chamou, aceitou desnorteada o abraço apertado do menino.

— Não quero ele com você, e o papai também não vai gostar — Samuel disse apertando-se contra ela, o rosto escondido contra o ventre dela.

— Calma meu amor! — disse acariciando o cabelo do menino. — Ele só é um amigo, não é Lucas? — Penélope questionou olhando para Lucas, buscando ajuda para tranquilizar o garoto.

Lucas fitou o menino com raiva. Nunca simpatizaram um com o outro, mas não podia prever que o moleque se apegaria ao seu rival. Respirou fundo e se obrigou a ser educado com o menino. Não recuperaria Penélope se não agradasse o irmão dela.

— Claro! Sou um grande amigo da Penélope e quero ser seu amigo também.

O menino virou o rosto em sua direção, só o tempo suficiente para lhe mostrar a língua e voltar a esconder a face contra a barriga de Penélope.

Lucasdeu de ombros, mantendo seu sorriso radiante. Pouco importava que o fedelhofosse malcriado e resistente a sua relação com a irmã dele. Seguindo o plano deMarcela o menino seria um problema a se pensar somente depois de se livrar deDiego e ter Penélope de volta. 

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora