Lua-de-fel

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No final da tarde, longe do sol e mar, da mágica do ar impregnado de risadas e perfume da brisa marinha, Penélope, Diego e Samuel retornaram à imponente mansão Freitas. A felicidade parecia ter encontrado um lar nos corações dos três, irradiando por eles como um manto cálido.

Esquecida de seus receios, pela janela do carro Penélope olhou para a mansão, sentindo que ela parecia receber seus residentes com uma aura diferente, como se os próprios pilares de pedra e os corredores imensos sorrissem para eles. Olhou para os homens dentro do carro, Diego no volante e Samuel no banco de passageiro, sorrindo, sentindo que tinham uma nova vida, uma nova chance para corrigir os erros do passado.

Depois de estacionar, Diego segurou a mão dela e se inclinou para beijar o topo de sua cabeça com carinho, transmitindo uma conexão profunda e um sentimento que palavras não precisavam expressar.

Enquanto eles se dirigiam ao interior da casa, as portas duplas se abriram e Marcela Freitas apareceu, vestindo um traje elegante e totalmente preto, seu semblante gélido como uma rajada de inverno. Os olhos dela encontraram Penélope e Diego, e um instante de tensão encheu o ar, antes de ela oferecer um cumprimento formal e frio.

— Enfim os traidores retornaram. Como foi a lua de fel? — pronunciou.

A voz de Marcela estava tão carregada de ódio que fez Penélope lamentar que Samuel preferiu ficar ao lado de Diego e não do seu, evitando que pudesse puxar o menino para mais perto e protegê-lo.

Samuel, ainda exausto pelas aventuras na praia e a longa viagem pela estrada, permanecia perto de Diego, agarrando-se à perna do homem que agora representava uma figura paterna em sua vida.

Movendo sua atenção para a terceira pessoa a sua frente, Marcela olhou para baixo, para o rosto da criança que via pela primeira vez. Um arrepio a percorreu, seus olhos se arregalando, um vórtice movendo-se veloz em sua cabeça. Era como se o passado colidisse contra seu corpo.

Uma tontura momentânea a dominou, e ela precisou apoiar-se na parede próxima para manter o equilíbrio, sem conseguir tirar os olhos da figura infantil. Era difícil não notar a semelhança marcante entre Samuel e Luiz, seu filho falecido, quando era criança. O mesmo tom de cabelo, o mesmo brilho atento e curioso nos olhos, como se o mundo fosse uma constante e emocionante aventura. Cada traço do menino era um eco doloroso de suas memórias enterradas, uma lembrança cortante da perda que nunca conseguiu superar causada justamente por aquela criatura.

Penélope percebeu a mudança na expressão de Marcela, o turbilhão de emoções que cruzou os olhos dela antes de ser ocultado sob a máscara de controle. A jovem tinha uma intuição aguçada, uma capacidade de ler entre as linhas que a vida a ensinou a desenvolver. Samuel era uma cópia inegável dos homens Freitas.

Preocupado com a fragilidade de sua mãe, Diego se moveu para ajudar Marcela. Penélope permaneceu no mesmo lugar e puxou Samuel para perto. Embora quisesse ajudar, sabia que seria rejeitada pela matriarca Freitas e sua boa intenção seria mal interpretada.

— Filho, por favor, me acompanhe até a biblioteca — Marcela pediu movendo o olhar para longe da criança que a observava com interesse. — Preciso de um pouco de ar puro — soltou lançando um olhar cáustico para Penélope.

Amparando a mãe pela cintura, Diego se voltou para Penélope.

— Irei com minha mãe e depois encontro com vocês — Diego prometeu, antes de lançar um sorriso motivador para Samuel. — Peça para prepararem um lanche bem delicioso pra vocês, amigão.

— Sim, papai!

Diego ouviu sua mãe soltar um som seco, como se uma dor a atravessasse, o que o fez andar o mais rápido que podia pelo salão de entrada rumo à biblioteca, para conseguir um lugar para que ela sentar e se recuperar do mal-estar.

Observando mãe e filho se afastarem, apesar de tudo que sofreu nas mãos as sogra, Penélope sentiu uma pontada de compaixão por Marcela, por imaginar o quando aquela mulher estava ferida pelas cicatrizes do passado.

O coração de Penélope pesava com o resquício da felicidade dos dias passados com Diego e Samuel e a crescente consciência de que o caminho adiante não seria tão simples. A fria recepção de Marcela era um lembrete de que feridas profundas nunca desapareciam completamente, e que o passado continuaria a lançar sombras sobre o presente se algumas verdades não viessem à tona.

Com uma longa inspiração e cansada expiração, segurando a mão de Samuel caminhou em direção as escadas. No entanto, o menino a reteve no lugar, um bico rechonchudo na face ao indicar:

— O papai pediu pra fazer lanche, Penny!

— Vamos, mas antes precisamos de um banho — indicou forçando um sorriso e acrescentando para acabar com a resistência. — Assim damos tempo pro papai terminar a conversa e se juntar a nós no lanche.

— Sim! — o menino gritou correndo para as escadas empolgado.

Contagiada pela felicidade dele, Penélope o seguiu pelos degraus da escada até o segundo piso. E foi ao chegar ao topo das escadas que, com um resmungo aborrecido, teve a certeza que as esperanças criadas na casa na praia foram transformadas em fumaça ao vento diante das armadilhas que se apresentavam dentro da mansão Freitas.

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N/A: O livro está próximo do fim nos apps Buenovela e Dreame, por isso aumentei de 1 para 2 capítulos na terça e na sexta. Espero que tenham curtido os capítulos. Big beijos!!! :)

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora