Noivado

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A primeira vez que Roberto Freitas impôs sua vontade na vida de Penélope foi no mesmo dia em que o filho dele a pediu em casamento.

Após deixar Diego sem resposta, e magoado, Penélope pegou carona na moto do namorado de Ana, retornando para Cezário a tempo de ir ao colégio.

Queria tanto ter dito um sonoro "aceito" ao inesperado pedido. Vibrou eufórica ao recebê-lo, então, sufocando sua alegria, foi golpeada pelas mentiras contadas ao longo do namoro.

Durante o trajeto, de quase duas horas, concluiu que era hora de contar a verdade a Diego. Explicaria seus motivos, pediria perdão pelas mentiras e torceria para o namorado não colocar um ponto final no relacionamento.

Não duvidava do amor dele, porém temia sua reação às mentiras. Diego namorava Penélope Waldorf, de dezenove anos, estudante de administração em uma faculdade conceituada e cujos pais, rígidos e conservadores, tinham uma produtiva fazenda no interior de São Paulo. Imagem distante da Penélope Teixeira, uma colegial pobre de dezesseis anos, criada somente pela mãe, pois seu pai as abandonou após descobrir a gravidez.

O amor dele era forte o bastante para perdoá-la? Ele manteria o pedido? Essas questões a perturbavam conforme se aproximava da humilde casa de dois cômodos. Por isso não reparou nos vizinhos observando sua casa e nem no elegante carro parado, até quase cair quando um homem alto trombou contra ela.

— Ei! Olhe por onde...

Ficou sem palavras ao dar-se conta de se tratar de Roberto Freitas. Até tentou pedir desculpas pelo início da grosseria, mas o homem seguiu em frente sem nem mesmo lhe lançar um olhar.

Reparou que ele tinha o rosto alterado, punhos cerrados e a postura de um homem transtornado. Foi quando também notou os vizinhos, com olhos fixos na direção dela, e que Roberto havia saído da residência dela, entrado no elegante carro e partido.

Confusa pela estranha visita, apressou-se para dentro da casa, deixada aberta após a saída de Roberto. Assim que pisou na cozinha ouviu uma miríade de sons vindo do quarto, passos apressados, batidas, coisas caindo e copioso pranto.

Ao entrar no quarto, dividido ao meio por uma cortina para ter um cantinho só para si, viu sua mãe recolhendo roupas, sapatos e outros objetos menores para colocá-los dentro de sacolas.

— Mamãe?!

Os olhos dourados de Paloma estavam injetados de sangue e lágrimas cortavam sua face.

— Arrume suas coisas, Penny. Temos poucas horas para sumir da cidade.

Paloma fazia as malas o mais rápido que suas mãos trêmulas permitiam, parada ao seu lado, Penélope, de olhos arregalados, não compreendia o motivo da absurda decisão.

— Sumir? Como assim?

— Coloque suas roupas em mochilas, sacos, fronha, qualquer coisa — comandou de costas para a filha, enquanto guardava freneticamente seus itens. — Em dez minutos temos de estar prontas.

— Mãe, não entendo...

— Inferno! Só faça o que mandei! — ela gritou transtornada. — Ele mandará alguém nos buscar, temos de estar prontas.

— Ele?

— O senhor Roberto.

— O senhor Roberto?

— Pare de agir como um papagaio e faça as malas. — Cansada da inércia da filha, Paloma a segurou pelos braços com força. — Por favor, arrume suas coisas agora. Quando estivermos seguras juro que contarei tudo.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora