Pôr do sol

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No início da tarde, seguindo as indicações de Hortência, passaram pela Viela do Sahy, uma viela de acesso à praia repleta de frases pintadas nos muros. Penélope achou a vielinha charmosa e as risadas de Samuel, ao ouvir as frases pitorescas lidas por Diego, compensavam a grande movimentação no local.

Passaram o restante da tarde na praia, aproveitando o dia ensolarado e de brisa fresca, fazendo castelos de areia e batalhas de água na parte rasa do mar. Durante todo o passeio, Penélope apreciou a dinâmica de Diego com Samuel, pouco a pouco amenizando a desconfiança de que interpretava gostar da presença do menino.

Não havia como garantir que Diego abandonou todo o rancor do passado, porém era evidente que se esforçava para fazê-lo, para ser bom com Samuel e conseguir sua amizade, como declarou naquela manhã.

No fim de tarde, seguindo as dicas dos caseiros, os três foram assistir ao pôr do sol nas pedras no canto Bravo, o lado esquerdo da praia. O clima ameno, tranquilo, e o longo dia de brincadeiras fizeram Samuel adormecer antes que o sol sumisse no horizonte do mar.

Sentada ao lado de Diego, que mantinha o menino deitado em seu colo, Penélope o observava deslizar os dedos devagar pelo cabelo de Samuel, os olhos observando o dia se encerrando, alheio ao que seu carinho instintivo causava na muralha em volta do coração dela.

— Você tem jeito com crianças — ela murmurou sem pensar, atraindo o olhar dele.

— Só imito o meu irmão — ele respondeu dando de ombros, voltando a apreciar o sol caindo no mar, sem parar de deslizar os dedos pelo cabelo de Samuel. — Ele era nove anos mais velho, cuidava de mim e me tratava com carinho, mas que meus pais, na verdade — relembrou com saudade e tristeza.

— O senhor Roberto é severo com todos — Penélope comentou.

Os lábios de Diego se moveram em um sorriso sem brilho, notando pela segunda vez naquele dia que Penélope era fiel a Roberto, sempre pronta a defendê-lo.

— Não fui planejado como o Luiz. Meus pais não queriam um segundo filho e não sabiam o que fazer comigo, estavam ocupados demais em ampliar os negócios da fábrica — explicou, acrescentando abatido: — Assim que fiz doze anos eles me mandaram para o exterior e Luiz era o único a me visitar.

A dor que Penélope viu na face de Diego a fez se aproximar um pouco mais dele, encostando seus ombros, a mão pousando no antebraço masculino para transmitir conforto.

— Alguns pais são negligentes sem querer. Os meus eram tão jovens quando me tiveram que era como se houvessem três crianças em casa — falou com suavidade, apreciando os tons de vermelho e laranja que destacavam os traços fortes do rosto dele.

— Tem contato com seu pai? — Diego questionou querendo prolongar a conversa amigável.

Ela moveu a cabeça em negativa.

— Ele era violento com a minha mãe e comigo — contou, acrescentando friamente: — Sei onde mora, que tem uma nova família, dois filhos, mas prefiro manter distância. E ele nunca me procurou, mesmo sabendo como me encontrar.

Diego estendeu o braço, pousando-o nos ombros de Penélope e puxando-a para mais perto. Com um suspiro, Penélope aceitou o aconchego, pousando a cabeça no ombro dele, apreciando o calor e o perfume misturado ao aroma de terra e mar.

— Tivemos pais péssimos, mas criaremos Samuel e os outros filhos que teremos com o carinho e amor que nos faltou — Diego garantiu baixinho.

A declaração inusitada a fez erguer o rosto, encontrando o dele iluminado pelo entardecer. Em silêncio deslizou o olhar para os lábios sensuais, apreciou a luz do sol iluminando as maçãs do rosto másculo e refletindo nos cabelos desalinhados pelo vento.

Era inevitável, Penélope admitiu a si mesma quando Diego inclinou-se em sua direção, os lábios tocando os seus com ternura, deslizando devagar, prendendo-os por um instante, provando-os, soltando-os e repetindo o processo.

— Te amo, Pen! — sussurrou entre os beijos. — Me dê uma chance, só uma, de te provar que podemos ser um casal de verdade, uma família de verdade — suplicou fitando-a com intensidade.

Penélope afastou o rosto, o coração disparado, o ar em suspense, os olhos transformados num poço de desejo e dúvida. Foi dominada por uma flamejante vontade de jogar as dúvidas para o espaço e se entregar as promessas que encontrava nos olhos, lábios e corpo dele.

Sentindo estar perto de convencê-la, ele deslizou a mão pousada no ombro dela para as costas em uma carícia leve, suavemente descendo até a cintura coberta pela fina saída de praia, envolvendo-a, mantendo-a cativa.

A mão quente e possessiva em sua cintura contribuiu para aumentar a confusão de Penélope, preenchendo-a com o perfume, o calor e a sensualidade de Diego.

Quando ele se curvou para beijá-la novamente, Penélope aceitou de bom grado a provocante exploração.

~*~

Voltaram para a casa em silêncio, um clima diferente envolvendo-os, descendo por seus braços e se entrelaçando em suas mãos unidas, circulando como brasa por suas veias e corações.

A cada passo Penélope se dividia entre a mulher ansiosa em recebê-lo sem reservas e a que se blindou contra as esperanças amorosas. A segunda perdeu força quando, após deixarem Samuel no quarto infantil e fecharem a porta, Diego a puxou para seus braços e a beijou, explorando, provocando, exigindo uma resposta que a primeira ardia de desejo de responder de corpo e alma.

Um resquício de incerteza ainda a golpeou quando caíram na cama, com ele por cima, deixando sua boca para mordiscar seu pescoço. Sabia que se entregar a paixão lhe custaria mais do que estava disposta a dispor.

— Diego... não podemos...

Ele repousou levemente o indicador sobre os lábios dela, silenciando-a.

— Essa é a nossa lua de mel, podemos tudo que desejarmos — objetou acariciando a boca dela com a sua. — Você também me quer, Pen, confesse — ele suplicou com palavras e olhos.

Apoiando-se nos cotovelos, ele aguardava sua resposta definitiva, deixando evidente que recuaria se assim ela quisesse.

Era sua chance de recuar, afasta-lo e impor os limites que haviam combinado quando aceitou o noivado.

Queria recuar, rejeitar os sentimentos e sensações que só ele conseguia lhe despertar?

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora