Com o vestido moldando suas curvas, Penélope impressionou-se por Roberto ter encomendado a roupa sem consulta-la e mesmo assim a peça encaixar como uma luva em seu corpo.
Desconfiava que Carla o havia ajudado. Mesmo sendo uma senhora discreta e de poucas palavras, a governanta tinha controle absoluto em cada passo dado na mansão, assim como sabia as medidas de todos, entre outras coisas que guardava para si.
Maquiou-se com simplicidade e deixou o cabelo solto por seus ombros. Optou por não ostentar joias e nem adereços, todos que possuía pareciam inapropriados.
Sendo sincera consigo mesma, admitia que nas condições em que se casava, quase forçada a fazê-lo, preferia passar por aquele dia sem o glamour e romantismo de uma noiva real.
Seu "noivo", no entanto, não pensava do mesmo jeito. Quando Ana retornou da ligação, trouxe consigo um presente de Diego, um ostentoso buquê cascata de rosas vermelhas.
Mesmo sabendo que o fazia para impressionar os convidados, as rosas de pétalas aveludadas causaram uma comoção no coração de Penélope, percorrendo-a em um vértice que umedeceu seus olhos.
— São lindas...! — murmurou baixinho, segurando-o estendido nas mãos.
— Por tudo de mais sagrado, não chore. Vai estragar a maquiagem — Ana avisou abanando o rosto de Penélope. — Guarda a emoção pra lua-de-mel.
— Ai, Ana! — soltou embargada.
Inspirou fundo, alinhou a postura, segurou o buque na altura da cintura e seguiu para a porta do quarto, aberta por Jéssica.
Com suas amigas de cada lado, Ana a sua direita, em um longo azul cobalto tomara que caia, e Jéssica à esquerda, em um vestido lilás rodado poucos dedos abaixo dos joelhos, desceu a longa escada e seguiu para a sala de estar.
Os móveis tinham sido removidos, dando lugar a fileiras de cadeiras e um altar em que o juiz de paz e Diego aguardavam.
Antes que pisasse dentro da sala, Samuel correu para seu lado.
— Vovô disse que tenho de leva você até o papai — ele disse com um amplo sorriso, estendendo a mão com expectativa e empolgação.
Aceitou o doce oferecimento com um calor gostoso subindo por sua garganta. Voltou-se para a primeira fileira à direita, em que, olhando-a como os demais convidados, Roberto estava em sua cadeira de rodas.
Apesar de se tratar de uma farsa orquestrada pelo patriarca Freitas, não conseguiu deixar de sorrir para ele, em um agradecimento mudo por ter se importado com aquele detalhe.
Iniciou a caminhada até o altar sendo acompanhada por uma suave melodia tocada no violino por uma mulher, posicionada alguns passos atrás do altar. Não fazia ideia de que música era, mas, ainda tocava pelas flores e pela mãozinha suave de Samuel na sua, Penélope sentiu a emoção crescer em seu peito.
Por fim, a atenção dela se voltou para o noivo, aguardando-a ao lado de Roberto. Vestindo terno escuro e gravata prateada, Diego a fitava com expressão compenetrada. O olhar focado nela e o sorriso recepcionando-a, como se de fato a quisesse como esposa, fazendo-a sentir o estômago repleto de pequenos beija-flores em revoada, colhendo e distribuindo pelo corpo dela o mais doce mel.
Estava acontecendo. Não era um sonho adolescente, nem um pesadelo em que ele lhe virava as costas e partia. Casaria com Diego. Por um curto espaço de tempo seria a senhora Penélope Teixeira Freitas, como foi decidido durante um café da manhã de três dias antes. E em breve Samuel, o motivo daquela cerimônia, também teria o acréscimo em seu sobrenome, relembrou estreitando os dedinhos gorduchos do irmão.
Ao chegar a poucos passos do noivo, Diego adiantou-se e, para delírio da plateia, agachou-se para ficar na altura de Samuel.
— Hora de me dar à mão da Pen, amigão — ele disse deslizando a mão carinhosamente pelo cabelo do menino, evitando bagunça-lo dessa vez.
Samuel alargou o sorriso, deixando à mostra as duas fileiras de dentes, em que faltavam dois na parte de baixo, e puxou a mão de Penélope em direção a Diego.
— Pode levar, papai! — anunciou alto causando uma maré de risadas.
Diego fez um carinho na bochecha do menino e, enlaçando seus dedos aos de Penélope, ergueu-se.
Em vez de seguir com ela os poucos passos até o juiz de paz, Diego a analisou. O brilho intenso nos olhos escuros ampliou a revoada, espalhando mel cálido por sua pele, sua respiração e batimentos aceleraram e, vergonhosamente, seus seios enrijeceram no sutiã meia taça.
Constrangida pela reação a um simples olhar, adiantou-se para junto do juiz.
A cerimônia foi rápida. Trocaram votos, colocaram as alianças douradas e assinaram no local indicado. Aquela parte quase automática da celebração, de simplesmente se deixar levar por instruções, realinhou a respiração e pulsação de Penélope. A recordou que não passava de um simples peão no tabuleiro.
Quando por fim o juiz os declarou marido e mulher, sentindo-se vazia de sentimentos, Penélope voltou-se para os convidados observando-os com um sorriso forçado.
— Temos de selar nossa união, Pen — Diego declarou próximo ao seu ouvido.
Envolvendo sua cintura com um braço e trazendo-a lentamente para junto de seu corpo, Diego segurando seu rosto, o erguendo em direção ao dele.
Ele a beijou suavemente, saboreando seus lábios com a doçura do mel que distribuiu no coração de Penélope só por olha-la, acariciando sua bochecha de leve. Um ato de carinho e intimidade para uma plateia sedenta. Terno, amoroso e letal por reavivar sentimentos que ela queria – e deveria - ter esquecido. Um beijo sem nenhum significado ou sentimento verdadeiro. Pelo menos não para ele.
Quando o beijo encerrou-se - muito contra a vontade de Penélope -, ela o observou sentindo-se péssima por, assim como a plateia felicitando-os e batendo efusivas palmas, acreditar na veracidade do amor reluzindo nos traços bonitos e másculos.
Penélope piscou, desejando que fosse o suficiente para reprimir as lágrimas que ameaçavam jorrar bem antes da cerimônia iniciar-se.
Ainda a segurando pela cintura, Diego virou-se para conduzi-la em direção ao salão principal, preparado para comemorarem com comes e bebes o casamento junto dos convidados.
As palmas impediram que percebessem a chegada de uma convidada inesperada, mas ao olhar para o vão separando os cômodos, Penélope reconheceu Marcela, mais magra e abatida, vindo em sua direção como se tivesse mil demônios acompanhando-a.
Os aplausos diminuíram até o silêncio cair pesadamente no ambiente, Marcela a alcançou e um estalo ardente virou sua face.
— Não deixarei que mate meu filho, Jezebel!
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Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ Degustação
Romantik+18 ~ No mundo de Penélope e Diego, a verdade é tão complexa quanto os sentimentos que nutrem um pelo outro. Tudo começa em uma noite de diversão onde suas vidas se entrelaçam. Penélope, com uma identidade falsa, e Diego, um homem apaixonado, estão...