Escarlate

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Sentindo a ardência dominar o lado esquerdo de seu rosto, Penélope levou a mão ao local, os olhos arregalados observando o caos dominar o ambiente.

Transtornada, Marcela tentava alcançá-la novamente, sendo contida por Diego. Ele segurava a mãe pela cintura, mantendo-a afastada, suportando os tapas que ela desferia em seus braços e rosto.

Roberto gritava ordens, algumas direcionadas a ela, pois identificava seu nome em meio aos berros, mas em choque não fazia a conexão necessária para entendê-las.

Os convidados comentavam, zombavam, riam, apontavam. E o foco no palco daquela tragédia era ela. A mentirosa, a traidora, a Jezebel. Apontada, estigmatizada, com a letra escarlate bordada em seu corpo e alma.

A tensão acumulada em anos estourou, a abateu com mais força e ardência que o tapa de Marcela. Sem se importar com mais nada, andou trêmula para longe da confusão. Devagar, um passo atrás do outro, curto, longo, rápido, mais rápido, correndo escada acima.

~*~

Vendo Penélope correr para longe, sendo seguida pelas amigas, Diego lamentou não poder segui-la, não antes que sua mãe estivesse controlada.

— Solte-me, agora! — Marcela exigia aos berros, virando para a direção em que Penélope correu. — Não permitirei que a serpente case com meu filho. A devolverei ao inferno, direto pros braços da prostituta mãe.

— Diego está casado, embora não com uma serpente — Roberto zombou aproximando-se da esposa.

Marcela o encarou surpresa e parou de se debater.

— Não... Não é possível...

— É fato, todos os convidados podem confirmar, incluindo Diego — Roberto indicou com frieza.

— Como pôde fazer isso comigo, Roberto? De novo outra traição, outro golpe baixo — soltou dolorosamente. — Você e aquela cobra persistem em destruir a nossa família.

— Por favor, Marcela! Conversaremos melhor em particular, não precisamos expor nossos convidados ao ridículo.

— Ridículo? Ridículo é misturar nosso sangue com essa gente ruim.

— Acalme-se para conversarmos como seres racionais — Roberto ordenou com autoridade.

Tendo mandado Carla levar Samuel para o quarto, e com Penélope longe, Roberto só desejava dar fim ao escândalo dado por Marcela. Sua esposa não mudará nada em oito anos, continuava destemperada.

— Não tenho nada a conversar com você, adúltero assassino — ela cuspiu furiosa. — E você, Diego, como pode me trair dessa forma?

Com o fim dos tapas, Diego a soltou e passou as mãos rapidamente pela roupa, os olhos reparando nos convidados apreciando a discussão.

— Vamos levar o assunto para um lugar privado — recomendou a exemplo de Roberto.

— Do que tem medo? Assuma que é um fraco, um fantoche nas mãos do seu pai e daquela meretriz — Marcela declarou, lançando ao filho todo seu rancor. — Luiz jamais me causaria tamanho desgosto.

Diego balançou a cabeça e bateu três palmas, afastando-se para o vão entre a sala de estar e o salão principal.

— Está certíssima, mãe! Sempre fui e serei um desgosto comparado ao santíssimo Luiz. — Voltou-se para os convidados com um sorriso forçado. — Agradeço a presença de todos e peço que curtam a festa — disse antes de seguir para o salão principal. — Sirvam os convidados — ordenou para a chefa da equipe do bufê.

Os funcionários, aguardando o fim da cerimônia e espantados com o que ocorreu no cômodo ao lado, movimentaram-se de imediato para seguir com a festa planejada, enquanto o noivo subia as escadas.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora