Não é esquisito?

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Diferente dos Freitas, os Mendez tinham construído a moradia na cidade, em uma parte com subida, de forma que se destacava das construções ao redor. O fato era que, enquanto Roberto prezava a privacidade, impondo distância dos populares; Leonardo Mendez, pai de Enrique, preferia se misturar à população de Cezário. Tal atitude lhe garantiu o posto de prefeito da pequena cidade.

As diferenças entre os sócios também eram perceptíveis em seus gostos. Apesar de a casa ser tão grande quanto as dos Freitas, o lar dos Mendez não era opulenta por dentro e nem fria, constatou Diego ao pisar novamente na casa do amigo.

Antes de o pai manda-lo estudar fora do país, Diego passava mais tempo na casa do amigo, do que na própria, por causa daquela sensação de aconchego. Mostrando que nada mudara no lar dos Mendez, Erika, mãe de Enrique, recepcionou ambos com abraços apertados e lanches antes de deixá-los sozinhos na sala de estar.

Aproveitando o lanche, mesmo após ter tomado um café da manhã fortificado, Enrique ouvia Diego com atenção. Sua concentração e silêncio deu ao Freitas a certeza que compreendia a extensão do problema, por isso Diego espantou-se com a risada estrondosa emitida ao fim do relato.

— Céus! Roberto não perdeu a mania de casamenteiro — Enrique comentou afastando uma lágrima causada pelo acesso de riso.

Diego franziu o cenho.

— Não vejo a graça.

— Ah, Diego! Sabemos que você não possui senso de humor — ele retrucou ainda rindo.

— E você tem até demais — resmungou entredentes.

Enrique ergueu as mãos em sinal de rendição, embora um e outro riso ainda o atacasse.

— Ok! O caso é sério. — Diego estreitou o olhar diante do sorriso bailando nos lábios de Enrique. — O que pretende fazer?

— Analisar a situação.

— Aceitará?

— Óbvio que não.

— E o que tem a analisar?

— Maneiras de provar que meu pai está senil. A doença afetou o juízo dele.

Enrique coçou o queixo.

— Não sei o juízo, mas a doença sugou a vitalidade do Roberto.

O comentário causou desconforto em Diego. Apesar das desavenças, Roberto sempre seria seu pai, o amava e respeitava, não queria vê-lo no estado em que se encontrava, frágil e preso ao leito de morte. Mesmo considerando uma justiça divina por tudo que Roberto fez a própria família.

— Só aviso, mesmo doente, Roberto tem comandado a fábrica com perfeição — Enrique comentou, acrescentando: — O que prova que está em plena faculdade mental.

— Ele me disse que não vai à fábrica há mais de um ano. Foi por isso que voltei — Diego contou, acrescentando em seguida: — E fui à fábrica hoje. A sala da presidência está vazia, nem mesmo a sala da secretária estava ocupada. Os funcionários fazem suas funções, mas claramente ficarão perdidos sem alguém para comandar.

— Você visitou a fábrica antes da Penélope chegar. Ela ocupa a presidência — revelou para espanto do amigo.

— Penélope faz o quê?!

— Por causa do tratamento e dos medicamentos, Roberto deu uma procuração para Penélope mandar e desmandar como bem entender. Embora, posso garantir, só faz o que ele manda — informou, acrescentando em seguida: — Por isso, melhor esquecer qualquer declaração de insanidade.

— Penélope não tem capacidade para ocupar o cargo dele — Diego esbravejou indignado. — Coloca-la na presidência é prova de que está senil.

— Não é isso que os balanços semestrais dizem.

Desejos ~ O filho secreto do CEO ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora