Capítulo 28

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Todos no hospital ficaram preocupados com o estado em que Katie ficou depois que Derek e Eva contaram sobre os prazos para o restabelecimento de seus movimentos de antes. Agora não reclamava mais e passava a maior parte do tempo em silêncio, às vezes olhando para o teto, sem vontade de comer, e até mesmo sem curiosidade sobre o que aconteceria dali para frente. Era evidente que ela estava desesperada com a possibilidade de passar a vida inteira daquele jeito, mas todas às vezes que Eva lhe dizia que aquilo era mais psicológico do que físico, e que tudo se resolveria com fisioterapia, revirava os olhos. Não confiava em sua paciência para reverter qualquer quadro psicológico, e não queria depender de fisioterapia para recuperar qualquer habilidade motora que sabia que tinha. Sempre teve! Por que era difícil que as pernas obedecessem a seus comandos agora?!

Addison ficou ao seu lado em absolutamente todos os momentos, e Henry era o único que ela permitia que lhe acompanhasse na fisioterapia. Sabia que se a mãe estivesse por perto, a forçaria a seguir todo o cronograma dos médicos, o que não tinha vontade na maioria das vezes. Ao menos só com Henry e Link podia impor suas exigência de baterias de exercícios mais eficientes. As sessões duravam cerca de uma hora, mas sempre sentia que era ridiculamente inútil por colocar tanto esforço em algo que parecia não dar resultado nenhum.

- E aí? Como você está se sentindo? – Henry perguntou depois que Alice, a residente que Link designara para aquelas sessões, definiu o fim da consulta do dia.

Katie estava sentada na cama, com os cabelos amarrados em um rabo de cavalo e o rosto levemente corado com alguns fios de suor descendo em sua testa. Sentia como se tivesse passado horas na academia – uma experiência que na realidade ela nunca teve, já que nunca gostou de academias. Mas tudo o que conseguiu fazer durante todo aquele tempo foi dobrar um dos joelhos

- Você quer que eu responda mesmo? – questionou em um tom impaciente. – Primeiro foi a quimioterapia, agora a fisioterapia... Eu acho que agora a minha vida será resumida em pequenas terapias.

- Não fala assim, Katie. Você precisa acreditar.

- Todo mundo diz isso, mas vamos ver até quando eu aguento.

- Você vai aguentar.

- Será, Henry? Todo dia eu acordo pensando que eu vou melhorar, mas aí chega no fim do dia e eu vejo que eu não melhorei porra nenhuma! – reclamou. – Isso não pode estar acontecendo comigo. Por que está acontecendo isso?

- Você precisa de um pouco de paciência.

- Paciência... Como paciência, Henry? Duas semanas desse inferno de fisioterapia e parece que não acontece nada! Diz pra mim que isso vai passar – ela pediu o olhando. – Por favor. Em você eu acredito.

- Calma. Isso vai passar – ele disse limpando o suor em sua testa. – Você só precisa ter um pouco de paciência.

- Eu não consigo ter paciência. Você sabe que eu não consigo

Ele se manteve em silêncio.

- Eu fico aqui sem fazer nada, assistindo série na internet, pensando em toda a minha carreira, o que eu tenho feito esse tempo todo... Nada disso serviu pra nada! – continuou. – Eu vou ter que reformular toda a minha carreira.

- Você não deveria pensar nisso agora.

- Eu tenho que pensar nisso agora! Eu preciso pensar nisso agora! Eu vou pensar nisso quando?

- Se dar um tempo, Katie. Você é jovem, você só tem 23 anos. Você tem a vida inteira pela frente.

- E você acha que isso é vida? – ela perguntou. – Você acha que eu vou conseguir viver a minha vida se eu tiver que ficar assim a vida inteira? Que eu vou conseguir fazer o meu trabalho, as coisas que eu fazia antes?

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