Capítulo 45

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Addison chegou brava na clínica, passando apressada pela recepção, sem falar com ninguém e entrou direto na cozinha para pegar uma garrafa d'água. Aquele dia estava quente lá fora. Todos perceberam que o humor dela não estava dos melhores, mas não entendiam o motivo. Naomi e Jake, que também estavam lá, abaixaram a cabeça para tentar disfarçar para os outros amigos que eles sabiam a razão, e não disseram nada enquanto a colega batia a porta da geladeira e saía da cozinha. Eles sabiam que os motivos dela para agir daquela maneira eram pertinentes. Naomi tentou não dar atenção para aquilo e dar espaço para a amiga absorver a informação que tinha lhe dado na noite passada, mas em vez disso levantou e foi atrás dela.

- Addie...

- Sai daqui, Naomi! Eu não quero falar com você! – ela exclamou apontando pra porta antes mesmo que a amiga dissesse qualquer coisa.

- Nem eu e nem o Jake...

- Sai daqui, Naomi! Eu não quero falar com você! – repetiu pausadamente, deixando evidente que estava impaciente.

Naomi se assustou, nunca tinha visto a amiga tão agressiva. Então saiu do consultório, deixando Addison sozinha. Ela precisava decidir se deveria ou não contar para Derek o que tinha acontecido. Não tinha ideia de como ele reagiria. Aquela situação era tão imprevisível, que ela não podia dizer se ele ia querer a qualquer custo ter aquela criança pra eles, ou se a convenceria de que era só um embrião.

Uma mensagem dele chegou em seu celular, a deixando ainda mais dividida. Ela pegou todos os exames de Beth e começou a conferir, torcendo para que ali tivesse alguma coisa que indicasse que aquela inseminação daria errado. Tinha que dar. Então lembrou que tinha uma consulta marcada com a paciente aquele dia e contraiu os lábios. Pegou o telefone na mesa e esperou que alguém atendesse na recepção.

- Mason, você desmarca todas as consultas que eu tenho com a Beth essa semana, por favor.

Desligou o telefone antes que o rapaz respondesse ou, pior, fizesse alguma pergunta, e voltou ao trabalho. Sentia que precisava se desligar daquele caso e daquela paciente, ainda que parecesse impossível. Pegou os históricos das outras pacientes com quem deveria fazer exatamente aquele procedimento e pensou se ainda teria disposição para continuar com essa pesquisa depois disso. Ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Aquela pesquisa tinha se tornado seu principal propósito nos últimos anos e agora ela não conseguia nem se imaginar continuando fazendo isso se a gravidez de Beth fosse confirmada.

Os colegas da clínica ficaram a observando de longe, através das persianas abertas do consultório, como sempre faziam quando alguém tinha um problema. Addison podia imaginar, mas ignorou. Ligou o computador e resolveu abrir sua agenda no sistema para atender novas pacientes. Passou o dia inteiro naquele consultório, o que deixou os amigos preocupados. Não saiu de lá nem pra comer e desligou o celular quando percebeu que aquelas mensagens estavam lhe desconcentrando. A última coisa que queria era lembrar dele.

Não viu o tempo passar enquanto montava sua nova agenda para a semana. Ao fim do dia Sam entrou em seu consultório a deixando surpresa. Podia imaginar porque ele estava lá, então fechou a cara esperando que ele fosse embora, mas ele entrou mesmo assim.

- Ela não está nenhum pouco bem com toda essa situação – Sam comentou, se referindo à esposa. – Ela está se sentindo culpada.

- Ah... Você jura? – Addison perguntou sem sequer olhá-lo. – Eu pensei que ela estaria feliz por eu não usado o meu complexo de Deus pra manipular essa situação e evitar que o primeiro bebê da minha pesquisa fosse um filho meu e do meu marido, o filho que eu nunca tive coragem de ter, e que eu nunca vou ter a oportunidade de ter também por que agora eu não tenho mais nenhum óvulo.

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