CLARY
Eu nunca vi o Burlone tão cheio. A Synchrony não é uma banda famosa, nem mesmo tem um CD gravado, mas é notório que ela deixa as noites de sexta-feira mais divertidas. E a notícia de que hoje será o último show da banda parece ter comovido toda a cidade, porque sinto que é impossível respirar dentro desse lugar com tantos corpos amontoados em um espaço que parece incapaz de abrigar tantas pessoas.
Mas, ainda assim, eu garanti um lugar na primeira fila, bem em frente ao palco. Não há outro lugar onde eu poderia estar agora.
Perdi as contas de quantas vezes eu estive na frente desse palco. Todas aquelas noites de sexta-feira foram especiais, mas hoje tem algo de diferente: sinto como se fosse o fechamento de um ciclo.
Os últimos anos foram extremamente agridoces. Não posso dizer que tudo foi perfeito, mas posso afirmar com muita convicção que estou mais do que satisfeita e mais feliz do que nunca desde que Dean entrou na minha vida. Estamos juntos há quase três anos, e todo esse tempo ao lado dele me ensinou que o amor é uma via de mão dupla, onde temos que dar e receber na mesma medida. E Dean faz isso muito bem: me amar. Ele é carinhoso, paciente, extremamente gentil e compreensivo. Ele está lá toda vez que estou triste e cansada, mas também quando estou alegre e entusiasmada. Quando me sinto perdida, ele age como um farol e ilumina o caminho à minha frente, e me dá paz nas noites mais tempestuosas.
Eu nunca achei que seria capaz de amar uma pessoa tanto quanto amo Dean. É um sentimento que transcende o meu peito e se espalha pelo resto do corpo como um incêndio incontrolável. Com ele eu tive uma segunda chance, e não poderia ser mais grata por isso.
E estamos bem. A confeitaria vai bem, e Dean continua dando aula como professor de música, mas também se tornou um grande compositor musical. Vez ou outra escutamos as letras dele tocando no rádio, e ele já trabalhou — e continua trabalhando — com grandes potências da música mundial. Ele até mesmo já recebeu um convite de um grande empresário para investir na sua carreira musical, mas Dean não quis. Ele não quer fama: Dean só quer continuar ensinando música e ser feliz. Eu não poderia estar mais orgulhosa.
— Último show — comenta Roxie, lançando um olhar para o palco vazio. — Quem diria, hein?
Abro a boca para responder, mas sou interrompida por uma gritaria coletiva que preenche o bar. Olho para o palco e logo entendo: os rapazes acabam de surgir sob as luzes intensas dos holofotes. Eles fazem alguns gestos agradecendo o carinho do público, e eu só consigo olhar para o meu homem. Eu não sei como isso é possível, mas Dean parece ainda mais bonito toda vez que o vejo. Ele está usando calça jeans, camisa preta lisa e jaqueta. É o seu estilo habitual, mas que é sua marca registrada.
Tem aquele sorriso de menino no rosto, mas noto um pouco de melancolia por trás dele. Sei que vai ser difícil dizer adeus a tudo isso, ao mesmo tempo que sei que ele está mais do que feliz por ter chegado até aqui. Cantar com seus amigos foi motivo de diversão por anos, mas chega uma hora que precisamos colocar um ponto final em um ciclo. Nada dura para sempre.
Aqueles olhos verdes que eu tanto amo encontram os meus, e ele dá uma piscadinha maliciosa. Reviro os olhos, mas não consigo evitar o sorriso.
— Boa noite, pessoal — Dean fala ao microfone, recebendo uma onda de gritaria e assobios como resposta. — Fico feliz que estejam animados essa noite. Eu também estou — ele lança um olhar para os companheiros de banda e depois para o público novamente. — Como vocês devem saber, esse é o nosso último show — as pessoas gritam em protesto, o que desencadeia um sorriso nele. — Eu sei, eu sei, também é difícil dizer adeus. Vivemos bons momentos, não foi? — Ele reserva um instante para olhar para as pessoas, então continua: — Em nome de todos os meus companheiros de banda, eu queria agradecer a cada um de vocês pelo carinho e apoio que temos recebido todos esses anos. Vocês são incríveis. Quero que saibam que, apesar de estarmos nos despedindo agora, eu, assim como meus amigos aqui — faz um gesto para Cody e Archie —, vamos levar todos os momentos que vivemos juntos nesse palco pelo resto da vida. Obrigado por terem tornado o sonho de três caras idiotas possível — há uma onda de risadinhas misturada com palmas. — Bom, vocês não vieram aqui para me ouvir choramingar, não é mesmo? Vamos lá!
Cody faz uma introdução eletrizante com a guitarra, e logo em seguida Dean cantarola os primeiros versos de "Pour Some Sugar On Me", do Def Leppard… sua música favorita. Seus olhos encontraram os meus mais uma vez, e como da última vez, ele dá uma piscadela. Parece que é nossa provocação interna desde que eu o provoquei, anos atrás, sobre essa música ser ideal para um garoto de dezoito anos cheio de hormônios, e que ele estava velho demais para gostar desse tipo de coisa. Desde então ele tem cantado essa música só para me provocar.
O show continua com "Runnin' Wild", do Airbourne, "I Want It All", do Arctic Monkeys, "Sex on Fire", do Kings of Leon e várias outras músicas da sua playlist favorita que ele passou a semana toda organizando. Dean quer que essa noite seja perfeita, mas ele não precisa se esforçar muito para isso: o dom de cantar está em seu sangue, e cada palavra que sai da sua boca é com muita profundidade e paixão.
Uma vez ele disse que me amava mais do que cantar e tocar guitarra, e eu não consigo ter a dimensão exata do tamanho desse sentimento, porque a sua paixão pela música é algo imprescindível.
Parece que as horas estão passando como se fossem minutos, e então, infelizmente, acontece: o show, o último show, está chegando ao fim, e ninguém parece estar preparado para dizer adeus. Dá para notar a emoção transbordando dos olhos de Dean quando ele diz:
— Estamos chegando ao fim — há uma longa pausa enquanto ele espera a gritaria cessar. — E para finalizar essa noite, eu gostaria de cantar uma música que marcou muito a minha vida. Uma música que, pra ser sincero, não tinha muito significado para mim até que ela me trouxe a pessoa mais importante da minha vida.
Dean olha para mim, e meu coração acelera. Ah, não… ele não está pensando em…?
— Há um pouco mais de dois anos, eu chamei uma garota para subir nesse palco e cantei Electric Love para ela, e não imaginava que a minha vida mudaria drasticamente a partir dali. Naquela noite eu encontrei o amor da minha vida — eu estreito os olhos ele abre um sorrisinho —, e nada mais justo do que terminar essa noite da mesma forma como tudo começou.
Ele estende a mão para mim, e parece que tudo desaparece ao meu redor — a gritaria, a multidão que nos envolve —, restando apenas ele ali, esperando uma reação minha com os olhos cheios de paixão.
Sinto meu rosto corar e meus pés simplesmente travam no chão. As pessoas ao meu redor começam a gritar e a me incentivar. Parece que estou tendo um déjà-vu.
— O que você está esperando? — Roxie me dá um empurrãozinho. — Vai lá!
Olho para Dean novamente, e seus olhos me tranquilizam de um jeito absurdo. Não importa que milhares de olhos estejam voltados para nós dois agora, porque tudo o que importa é ele e a devoção que seus olhos transmitem ao me encarar. Seguro a mão dele e ele me ajuda a subir.
— Ei, Merida — ele sorri, claramente se divertindo.
Olho no fundo dos seus olhos, e então digo as mesmas palavras que eu disse quando nos conhecemos:
— Houve um engano. Trouxeram a garota errada.
Demora um segundo para ele se dar conta, e seu sorriso se torna mais terno, carinhoso. Dean me puxa para mais perto, sua mão apertando levemente a minha, e então me dá a mesma resposta daquela primeira noite:
— Receio que não. É você quem eu quero.
Trocamos um sorriso.
— Eu vou matar você — sussurro.
A ameaça não o abala.
— Se for para ter você em meus braços, vale a pena.
Como eu poderia ficar com raiva depois disso? Eu posso ignorar o constrangimento de estar em cima desse palco, porque não importa onde; eu só quero estar perto dele.
Dean faz um sinal para os outros rapazes e então finalmente a batida de Electric Love começa a ressoar. Quando ele começa a cantar, sou transportada para a mesma noite em que nos conhecemos, me recordando de cada emoção que senti naquela noite inusitada de sexta-feira, e seu corpo se posiciona atrás do meu, com seus braços ao meu redor, enquanto ele canta cada verso perto do meu ouvido e a plateia o acompanha como um coro.
Pode parecer um momento meio bobo para as outras pessoas, mas significa muito para nós dois. Esse é o nosso momento, a nossa música, a prova viva de que o amor pode surgir das maneiras mais inimagináveis, e transformar a vida de duas pessoas para sempre.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DEAN • COMPLETO
RomanceParece que a vida real não é como os romances dignos de best-seller, e Clary sabe bem disso. Depois de guardar um amor platônico pelo melhor amigo por anos, ela finalmente decide que chegou a hora de seguir em frente. Com o coração partido, ela está...