ALGUNS ANOS DEPOIS
DEAN
Consigo chegar em casa antes da neve me soterrar. Está caindo uma tempestade branca lá fora, e sinto como se esta casa estivesse isolada em algum lugar do deserto de gelo do Alasca. O inverno está cada vez mais rigoroso em Londres ao passar dos anos, e é um alívio poder entrar em casa e receber uma lufada de ar quente pelo rosto que vem direto da lareira que está acesa na sala de estar.
Tiro a touca, o cachecol e as luvas, e penduro tudo no gancho atrás da porta junto com a jaqueta. Depois sigo as luzes natalinas penduradas nas paredes e elas me levam direto para a cozinha, onde um cheiro delicioso preenche todo o ambiente. Mas não é o aroma da comida que me atrai tanto, e sim a belíssima mulher diante da ilha, com o cabelo ruivo preso em um penteado elaborado e uma expressão concentrada enquanto arruma algumas frutas secas no topo de uma torta.
A mulher da minha vida.
Minha esposa.
— Papai!
Daisy pula na minha frente, me assustando. Isso acaba chamando a atenção de Clary, que ergue o olhar para mim e sorri.
— O senhor demorou — reclama a criança, colocando as mãos na cintura e fazendo a sua melhor cara de brava.
É adorável. Ela tem a pele pálida e o rosto coberto por sardas. O cabelo ruivo e rebelde, com cachos grossos formando uma juba, dá um ótimo contraste. Tão parecida com a mãe…
— Eu sei, gatinha — eu a pego no colo depois de colocar a sacola que eu trouxe da rua em cima da ilha. — Mas o papai precisou procurar bastante o que foi comprar, e isso demorou mais do que o esperado. Será que você poderia me perdoar?
Ela estreita os olhos.
— Com uma condição.
Lá vem.
— Hum — lanço um olhar desconfiado para Clary, e ela balança a cabeça, sorrindo. Olho novamente para nossa filha de dez anos. — E que condição seria essa?
Ela abre um sorriso travesso.
— O senhor vai ter que me dar o seu biscoito de canela.
Finjo uma expressão chocada.
— Mas se eu te der o meu, vou ficar sem. Você quer que o papai fique sem comer biscoito no dia de Natal?
Daisy revira os olhos e depois cruza os braços.
— Ok, ok, podemos dividir.
Abro um sorriso divertido e dou um beijo no seu nariz.
— Combinado, então — concordo, colocando-a no chão.
A criança vai para o outro lado da ilha e fica nas pontas dos pés, se apoiando nas bordas da mesma, tentando espiar os biscoitos de canela arrumados em uma bandeja com um olhar cheio de desejo. Eu não ficaria surpreso se ela roubasse um quando a mãe desse as costas, e é exatamente o que ela faz quando Clary vem andando até mim.
— Você conseguiu comprar? — pergunta ela, com um olhar preocupado, enquanto passa a mão pelos meus braços.
— Foi difícil achar uma farmácia aberta a uma hora dessas, mas consegui comprar — olho de soslaio para a sacola sobre a ilha. — Como ele está?
— Não mudou muita coisa desde que você saiu. Dei um pouco de chá para ele e o deixei dormir um pouco. Eu vou lá dar o remédio para ele e tentar convencê-lo a jantar conosco.
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DEAN • COMPLETO
RomanceParece que a vida real não é como os romances dignos de best-seller, e Clary sabe bem disso. Depois de guardar um amor platônico pelo melhor amigo por anos, ela finalmente decide que chegou a hora de seguir em frente. Com o coração partido, ela está...