Capítulo 32

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Os dias passam, mas por que nada muda? Por que os problemas não somem com o passar dos dias, das horas? Eu só queria acordar e ver que está tudo bem

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Os dias passam, mas por que nada muda? Por que os problemas não somem com o passar dos dias, das horas? Eu só queria acordar e ver que está tudo bem. Talvez eu só queira não sentir, não falar, não pensar. Claramente estou achando que com a mudança de dia, os acontecimentos mudem também.

Saí de dentro do meu carro e caminhei em direção ao portão, enquanto girava a chave no meu dedo indicador. Dei um leve aceno de cabeça para o guarda que estava ali me observando e abri o portão, caminhei pelo condomínio, observando as casas, os jardins das casas, observando tudo. Cheguei finalmente onde eu queria e apenas observei. Eu estava apenas parada, só olhando e pensando em tudo.

Eu não sei o que eu estou fazendo aqui, eu só precisava lembrar de algumas coisas, só precisava buscar algum tipo de conforto de um lugar que nem memórias eu tenho.

- Conhecia alguém que morava aqui? - dei um pulo ao tomar um susto quando uma senhora se aproximou - Desculpa, não queria te assustar - diz, sorrindo.

- Conhecia - falei vagamente - Hoje não reconheço mais.

- A pessoa que morava aí incendiou a casa. Ninguém veio refazer a casa, ou apareceu aí para salvar alguma coisa.

- Sério? - me fiz de desentendida - Por que?

- Ela, Joana, a moradora, sequestrou uma garota rica por algum motivo que ninguém sabe. Eu não estava aqui no dia, mas ouvi dos vizinhos.

Não saiu na mídia o motivo da Joana fazer tudo que fez. Aliás ninguém sabe o real motivo e o que passa na cabeça da minha mãe. Me impressionou o fato dela ter feito exames psicológicos e ter dado negativo, confirmando que Joana é bem lúcida.

- Depois incendiou a casa com a garota e uma criança dentro, detalhe: Ela também estava na casa - continuou.

- Isso parece meio...insano. Quem seria louca a esse ponto, não é?

- Exatamente. Talvez ela precise de ajuda psicológica. Tenho pena da garota - ela abaixa a cabaça.

- Que garota? - pergunto.

- Ela tinha uma filha, nunca mais vimos a menina. Mas provavelmente ela deve estar mais velha, não é mais uma criança. Me pergunto se sabe o que aconteceu com a mãe, se ela sabia que a Joana tinha sequestrado uma criança antes de tudo.

Graças aos meus amigos, eu fui bastante preservada naquela época. Toda vez que tinha o meu rosto em algum site, Mirela e Dominic corriam para mandar um processo. Com o tempo, pararam de vincular a minha imagem com o que aconteceu, o que deu espaço para vincular a minha imagem como a mãe do filho do Victor Angeles.

- Elas moravam aqui há muito tempo? - perguntei.

- Na época essa casa estava barata e a Joana conseguiu comprar com bastante esforço. Lembro que ela estava grávida e tão frágil na época. Ajudei bastante ela, cuidei da filha quando ela ia trabalhar, ensinei ela a cozinhar e a virar dona de casa. Joana era uma menina muito querida e fofa quando nova, não sei o que aconteceu com ela.

Chega a ser irônico Joana e fofa na mesma frase.

- E a menina? A filha dela? - perguntei.

- A menina era um amor, igual a mãe. Joana amava muito a filha, ensinava apenas coisas bonitas para a criança. Julieta o nome da menina. Ela era linda, vivia no jardim brincando e rindo, ela tinha uma risada muito fofa de se ouvir. Ninguém sabia o que acontecia com a mente da Joana, por isso foi estranho quando eu soube o que ela tinha feito.

- Ela era uma pessoa boa? - perguntei chocada.

- Boa? Ela era um anjo, eu nunca vi uma pessoa tão cheia de vida, alguém que amasse tanto a filha. Ela era mãe solteira e sozinha, mas isso não impedia dela criar a filha de uma maneira impecável. Eu nunca tinha visto uma criança tão amorosa e educada quanto a filha dela, ela era um pouco louquinha, mas era fofa.

- Era? - perguntei, observando vagamente a casa, ou o que tinha restado dela.

- Muito fofa e linda, os olhos muito azuis e os cabelos muito escuros, como o da mãe. O que você veio fazer aqui, minha flor?

Olhei para ela e retirei meu óculos de sol.

- O que? - franzi o cenho.

- Eu reconheceria você em qualquer lugar, você parece ela de costas. O que faz aqui?

- Eu... - fiz uma pausa - Não sei - abaixei a cabeça e fitei meus pés.

- Que tal comer um bolo? Acabei de preparar - sugeriu.

Assenti e fomos em direção a sua casa, a senhora abriu a porta e eu entrei. Sentei no sofá, enquanto ela ia na cozinha pegar bolo e café. Depois de um tempo, ela voltou, colocou a bandeja na mesa de centro e sentou em uma poltrona enquanto me olhava. Começamos a comer os lanches que ela tinha feito, com um silêncio ensurdecedor.

- Sinto muito pela sua mãe - disse ela.

- Está tudo bem, não me surpreendo com a Joana.

- Deveria, ela sempre foi muito carinhosa com você.

- Eu não lembro disso - falei, negando com a cabeça - Não lembro dela sendo boa comigo.

- Mas ela era. Você se tornou médica como queria?

- Sim, eu segui a medicina.

- Ela está orgulhosa de você.

Dei um sorrisinho, mesmo sabendo que ela não está.

- Eu não quero tomar seu tempo - ameacei levantar, mas ela levantou a mão, fazendo um sinal para eu esperar.

A senhora caminhou em direção a algum dos cômodos e demorou alguns minutos para voltar novamente. Eu estava quase indo embora, mas ela voltou com um álbum de fotos.

- Veja isso - me entregou.

Peguei o álbum e comecei a olhar as fotos antigas. Tentei manter o sorrisinho longe, mas era impossível, pois eu estava vendo muitas fotos minhas criança, muitas com a Joana e eu estava feliz. Ela realmente parecia outra pessoa.

Não consigo lembrar de coisas do meu passado. Na medicina dizem que quando algo é traumático você esquece, faz de conta que não existiu. Lembro poucas coisas da minha vida envolvendo a Joana.

- Você parece com ela - disse a senhora.

- Esse é o problema - sussurrei.

- Leve o álbum, veja e reveja todas as fotos. Tenho certeza que você irá enxergar coisas que não viu antes.

- Obrigado - tirei a mochila das minhas costas e coloquei o álbum dentro - Foi um prazer te conhecer - levantei.

- Foi bom ver como você cresceu e ficou linda. Julieta, sua mãe foi uma mulher incrível com você, coisas acontecem porque tem que acontecer, todos nós temos dois lados.

- Entendi. Tchau e obrigado pelo bolo - caminhei para fora da casa.

- Tchau - acenou.

Enquanto eu caminhava, prestei bastante atenção naquela casa que tinha sido meu lar por muito tempo, mas que agora virou um pesadelo e está totalmente queimada. Saí do condômino e entrei no meu carro.

Coisas tem que acontecer, não podemos evitar, assim como eu não posso evitar mudar quem eu sou, ou quem eu serei.

Minha Antiga Paixão - Minhas Paixões 03Onde histórias criam vida. Descubra agora