Dama Periférica

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Dois meses depois

Suellen

Olha, esse é o dia mais feliz da minha vida. É como ver luz depois de anos de escuridão.

Eu nunca pensei que isso fosse ser possível sabia ? Mas Deus pôs um bom juiz no meu caminho e um ótimo advogado criminalista, se não fosse isso eu tava aqui dentro até hoje.

Vou sentir saudades das meninas, mas isso aqui não é lugar pra ninguém ficar, até mesmo elas. Só crê na reeducação de um detento quem não sabe da realidade do sistema prisional.

Se você não tiver as costas quentes as coisas são precárias tá ? Tem muita gente abandonada pela família, é muito triste, uma energia muito ruim emana dessa lugar.

Paula - Vai com Deus menina! _ me abraçou.

Suellen - Fica com Ele, você vai precisar mais do que eu daqui pra frente! _ falei e ela concordou.

Cristiane - Gosto de despedida não, vou só te abraçar tá ? _ nos abraçamos com força.

Suellen - Não chora Bethânia, tu também tá pra sair! _ tentei acalma-lá _ Vai poder me procurar escutou ? _ falei no ouvido dela.

Bethânia - Tchau Dama!

Suellen - Agora é Suellen Beth, Suellen! _ corrigi e dei minhas costas.

Eu saí dali sem olhar pra trás, só quero levar na minha memória as minhas companheiras de cela, nada mais. Everton e Fabrícia estavam me esperando no portão, me emocionei muito.

É bom ver o mundo fora daquele quadrado, ainda mais estando livre de fato. Abracei Everton, vou sentir saudades do meu advogado medroso.

Suellen - Obrigada por tudo cara, se não fosse o teu empenho eu não tava solta agora!

Advogado - Só fiz o meu trabalho Suellen! _ sorriu amigável e eu retribui _ Boa sorte na sua nova fase e eu espero de verdade não ter que te encontrar nesse lugar novamente...

Suellen - Pode deixar! _ ele me abraçou e foi embora.

Eu e Bricia nos encaramos, nos abraçamos e pulamos muito na rua, as pessoas que passavam não entendiam nada e a gente não tava nem aí,  o que importa é comemorar a minha liberdade.

Suellen - Contou pra alguém ?

Fabrícia - Só pro Alvarenga e ele não tá no RJ Su.

Suellen - Eu queria fazer surpresa!

Fabrícia - Não estragou nada mona, é bom que dá tempo de você se montar de novo, dar uma engordada, só tem cabeça e bunda!

Suellen - Eê Evinha, dá um tempo! _ impliquei e ela riu.

Fabrícia - Bora, tu tem barba, cabelo e bigode marcado ainda.

Suellen - No morro ?

Fabrícia - Não, chamei a menina pra fazer tudo lá na minha mãe, no morro tudo se descobre rápido _ assenti.

Eu parecia uma criança, olhava todos os lugares como se fosse a primeira vez sabe ? Tomei um ventinho bom no rosto, maior sensação de liberdade não há!

A mãe da Fabrícia me abraçou muito, me recebeu super bem na casa dela, nem eu sabia que era tão querida assim por ela. Almoçamos juntas e depois o pessoal chegou pra dar um trato no trapo que eu tô.

O pessoal terminou no final da tarde e nós fomos direto pro morro.

Fabrícia - Agora eu tô te dando o teu celular, novinho amiga, vida nova! _ me abraçou _ Pode fazer o que quiser agora, você é livre! _ dessa vez fui eu quem abraçou ela.

A gente passou um tempão abraçadas, impossível desgrudar viu ? E olha que ela ia me visitar quase todo final de semana.

O bom de estar de cabelo liso é que ninguém me conhece, pra mudar tem que mudar tudo, inclusive o visual. Peguei a chave no lugar de sempre e abri o portão.

Andei devagar pra não chamar a atenção e procurei minha avó pela casa toda, acabou que ela tava mesmo na laje.

Dona Eva tava sentadinha na cadeira, acompanhada da brahma dela e de um bom cigarro, que saudade dessa mulher!

Suellen - Não acredito, tomando uma sem mim ? _ fingi indignação e ela me olhou surpresa.

Eva - Aí minha Nossa Senhora, vou é parar com a cachaça! _ passou a mão em mim _ É de verdade.... É DE VERDADE! _ me abraçou forte e eu retribui.

Foi difícil segurar o choro, eu finalmente estava em casa, tava nos braços da minha avó sabe ? Eu sonhei com isso o tempo inteirinho que tava presa e agora é real.

Minha avó me beijou todinha, me abraçou, me apertou, me beliscou, nem ela tava acreditando que eu tava ali. Meu grudinho, dormimos até juntas no quarto dela.

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20/06/2022