Alvarenga
É o meu "trabalho", faço e tudo, mas não aguento ficar muito tempo só aqui dentro não. A atmosfera aqui no morro é diferente, gosto de ficar um pouco na pista também.
Muito problema, muito peso nas tuas costas tá ligado ? Não ter que me preocupar com a Suellen no meio dessa merda toda já é um alívio.
Maior desenrolado por causa dessa garota. Quando a gente não tem noção dessa vida bandida acha que a mesma facilidade que você entra é a mesma facilidade com que se sai.
Uns consegue, mete marcha mermo e não se vê mais de peça na mão pelo resto da vida. Outros duram até a primeira dificuldade, aí voltam com mais ódio ainda de quando saíram.
Minha mulher ainda não teve esse problema e nem eu acho que vá ter. Suellen é determinada, se botar uma coisa na cabeça fudeu, é aquilo mermo que vai ser. Geniosa pra caralho e quem atura sou eu.
- Oi
- Tá faltando nada depois desse "oi" não ?- Oi amor, fala !?
- Se arruma que eu tô indo te buscar...
- Alvarenga, não começ...
- Só isso só, beijão gostosa!
Com a Suellen tem que ser assim, não explico nada por telefone pra ela, gosto de falar pessoalmente que aí fica logo sem argumento.
Peguei um carro limpo, documento nos conformes. Sempre deixo um assim, gosto de dar meus rolês.
Nem liguei muito pra me arrumar, camiseta, bermuda e chinelo, tá muito bom, os kits e os ouros a gente deixa pro baile.
Meti o pé de casa e fui pra da Suellen, se deixar por conta dela a gente não sai dessa favela hoje.
Alvarenga - Oi dona Eva, tudo bom ?
Eva - Tudo sim meu filho, entra ? _ falou e eu passei pra dentro _ Fiz uma carne assada! _ pegou na orelha e eu ri _ Quer um pouco ?
Alvarenga - Quero sim, tem aquela farofinha ?
Eva - Tem! _ pôs o prato pra mim _ Ô, prontinho!
Alvarenga - Obrigada!
Vários pedaços de carne assada recheada com bacon, farofinha, uma delícia. Comi sem pensar que quando chegar na minha mãe vou ter almoçar.
Suellen - Você tá acostumando esse cara mal! _ fingiu repreender a vó e ela riu.
Alvarenga - Deixa eu comer em paz, perturbada cara... _ impliquei e ela me deu um tapa de leve no braço.
Eva - Vocês são demais, misericórdia! _ levantou as mãos e a gente riu.
Terminei de comer meu pedaço de carne, me despedi da dona Eva e saí com a outra. Rapidinho tava na pista, me senti livre com as mãos no volante viu ? Uma paz muito grande.
Suellen - Pra onde a gente vai ?
Alvarenga - Pra casa da minha mãe...
Suellen - Hum..
Alvarenga - Achei que tu fosse ficar nervosa e essas paradas.
Suellen - Eu não, o que é um peido pra quem já tá cagada ?
Alvarenga - Tu é demais! _ nós rimos.
Final de semana, pista limpinha, rapidinho a gente chegou em Campo Grande. Pedi pra Suellen abrir o portão, entrei com o carro e estacionei no quintal da frente.
Suellen - Cadê ela ?
Alvarenga - Lá pra trás.
Minha mãe tava na varanda sentada na mesa, fumando um cigarro e mexendo no telefone. Abracei ela por trás e dei um cheirinho nela.
Naná - Lembrou que tem mãe, né !?
Alvarenga - Lembrei Nádia, lembrei! _ falei o nome dela pra implicar.
Naná - Que Nádia o quê ? Vou dar em você! _ me deu uns tapas _ Tu nem falou que ia trazer a menina, desculpa viu ? Jorge André tira a minha paciência desde que nasceu.
Suellen riu, foi bom que acabou logo o nervoso. Minha mãe foi logo chamando ela pra ver a casa, depois serviu o almoço.
Ficou encantada com a Su, de todas as namoradas oficiais que eu tive é a que Naná mais gostou.
Naná - Vem cá pra tu ver as fotos Suellen ? _ chamou e ela foi.Fui atrás depois de um tempo, deixar a Suellen ficar um pouco com a minha mãe pra ver que ela é bruta, mas tem um coração gigante.
Suellen - Você é a cara do teu pai, meu Deus! _ olhou pra foto e depois pra mim.
Naná - Ele é todinho o pai dele em aparência, os olhos e a altura, mas o gênio é todo de mamãe.
Alvarenga - Percebe-se, né Nádia !? _ me deu dedo e eu ri.
Vim embora no final da tarde, Suellen dormiu o caminho todo, acordou só quando eu tava entrando no morro. Deixei ela no portão e fui pra minha casa, dormir que amanhã a vida continua.
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29/06/2022
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Dama Periférica
Short StorySer uma dama é muito mais do que a elegância, roupas caras e bons modos. É sobre humanidade, resistência e sobrevivência!