Sem preocupações.

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Betim, Minas Gerais. - República Federativa do Brasil.

Durante os últimos quatro meses eu estive morando em São Paulo, enquanto minha melhor amiga e meu irmão mais novo residiam em Minas Gerais. A cada ano que passava era uma ou duas pessoas a menos nas minhas festividades de fim de ano. Eu não sabia como me sentir sobre isso, mas uma parte de mim já estava acostumada.

Primeiro foi meu irmão gêmeo. Depois meu pai. Depois minha mãe. Por último minha irmã. Um de cada vez. Um a cada ano, quase. Eu não entendia que tipo de propósito a vida tinha para mim, mas se esse era o processo, se isso fazia parte, eu esperava no mínimo que eu chegasse ao topo do mundo.

Não seria egoísmo. Não seria soberba. Seria algo justo, mas ainda assim isso não valeria por absolutamente nada. Todo ano eu procurava passar minha virada de ano em um lugar diferente pela razão de não haver um lugar em que eu chamasse de "casa" para ficar com a família.

Eu fui criada assim. Eu não tive avós, tios ou primos que surgiriam no fim do ano e que falassem: "Oh, meu Deus, você cresceu tanto!", não. Eu tive conhecidos. Ao menos alguns números limitados de famílias vizinhas em cada país que conheci e eu ainda tinha o contato, mas era bem pouco.

Eu relutei para conhecer a família de Gabriela. Era algo tão íntimo e tão... Família. Eu só conheci os avós de Melissa aos 14 anos e eu já era sua melhor amiga desde os 9. Eu só conhecia Gabi há seis meses e isso parecia desesperadamente desesperado em minha cabeça.

Mesmo eu estando um pouco desesperada por ela... Eram linhas diferentes.

Por outro lado, ela reagia de uma maneira tão natural e tranquila. No exterior nós sabemos o quão acolhedor os brasileiros são. O que chega a confundir algumas estatísticas, porque os brasileiros também são bem xenofóbicos, mas não admitem isso, já que fazem a prática em formas de "brincadeiras e piadas".

Meu irmão que o diga. Ele não me falava, mas eu ficava sabendo dos apelidinhos que ele ganhava na escola, assim como a indiferença em algumas situações, mas "ele teve ótimas companhias ao seu lado que o faziam conseguir aturar o dia a dia.", palavras de Bernardo Kudiess, uma das companhias.

O garoto se apegou ao meu irmão e vice versa. Os viviam juntos, iam para a escola juntos, iam para os treinos juntos, passavam o fim de semana juntos. Eu recebia todos os feedbacks das jogadoras do Minas Tênis Clube que acabavam acompanhando um pouco da amizade dos dois, já que quase sempre estavam pelos mesmo locais.

A junção foi tão forte que fui deixada de lado sem nenhum obstáculo. Christopher não pensou duas vezes antes de aceitar passar o natal e ano novo na fazenda dos pais de Bernardo a algumas horas da capital de Minas Gerais. Os adultos também criaram um carinho pelo novo amigo do filho e estavam o acolhendo mais do que eu imaginava. Eles são bem sucedidos e são presentes com os filhos. Se resolvessem querer adotar Chris eu estava ferrada, mas isso nunca aconteceria.

Minha melhor amiga tinha embarcado para os Estados Unidos para encontrar a família e possivelmente passaria a virada de ano por lá também. Eu estava triste? Eu estava me sentindo sozinha? Eu estava desesperada? Talvez um pouco desesperada sim e Gabi sabia disso e estava fazendo de tudo para me fazer sentir o mais tranquila possível.

Seria meu primeiro natal longe de Christopher e Melissa. Seria meu primeiro ano novo longe de Christopher e Melissa. O natal eu passaria com Gabriela e sua família. O ano novo? Eu não fazia ideia, mas se até dia 26 eu não decidisse eu estaria embarcando no primeiro voo rumo ao Texas.

- Ok. Ser atacada e morta por um vampiro ou por um lobisomem?

Perguntei dando continuidade ao nosso joguinho de isso ou aquilo. Um escape de Gabriela para tirar meu nervosismo, já a caminho do sítio onde ficaríamos por esta noite. Aparentemente todos já estavam reunidos lá desde ontem e já chegaríamos quase às nove da noite. Culpa minha. Atrasei nossa saída e parte do nosso trajeto, mas isso já havia sido resolvido.

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