Derrotas e Vitórias - Parte II

806 78 4
                                    

O placar estava 15x16 e nas mãos de Natália Zilio havia uma responsabilidade: levantar aquela taça.

O apito soou e ela bateu algumas vezes a bola no chão antes de jogar para cima e sacar. Todos os olhares atentos a bola que foi parar na manchete mal formada da camisa 7, mas a levantadora turca correu e levantou para o ataque da camisa 18.

Rios foi quem recepcionou e Rosamaria levantou para a ponta onde Gabriela estava, como uma sincronia perfeita de um movimento já feito milhões de vezes. A camisa 10 atacou em uma diagonal curta que não deu para a líbero adversária. Os turcos no estádio não esperavam comemorar aquele lado, mas houve uma alvoroço tal qual depois do apito final.

Bernardinho tacou seus óculos no chão e todos saíram correndo para comemorar.

Fim de jogo. Fim de campeonato.

Minha mente mal pôde processar o verdadeiro fim do jogo. Quando dei por mim, eu estava rodando no ar em um abraço apertado de Bruno Gagliasso e nós nem nos dávamos bem, mas o esporte tinha disso. Confetes caindo sobre nós dois e isso me despertou da situação e logo me separei dele que também pareceu perceber e arrumou sua rouba "se limpando" de mim antes de sair correndo para abraçar nosso técnico.

Por Deus, eu nunca mais voltaria para essa seleção e eu queria rir ao mesmo tempo soltar algumas bênçãos em palavras. Eu estava feliz, aliviada e muito orgulhosa pelas garotas. Havia tanta coisa dentro de mim que eu sentia que iria explodir a qualquer momento.

Não podia imaginar como cada uma estava transbordando de sua maneira, mas os visíveis choros e os abraços e gritos escandalosos em meio a sorrisos e gargalhadas para o nada já diziam muita coisa.

Os confetes não paravam de voar impedindo parcialmente minha visão, mas eu podia ver a felicidade bem clara no ar.

No outro lado da quadra, as turcas estavam reunidas em um abraço grupal enquanto alguém no meio delas falava ou tentava falar em meio aquela gritaria toda e a música estrondosa soando pela arena. Fui tirada do chão novamente em um abraço, desta vez pelos braços da capitã do time.

Antes que eu pudesse retribuir ela só me soltou e foi correndo para longe de mim como uma verdadeira criança feliz. Eu não sabia descrever o momento. Eu tinha tantas emoções misturadas que não sabia interpretá-las e favorecer alguma para o momento.

Eu estava tão orgulhosa e feliz, perdida em meu próprio momento vendo seus ápices de festividade momentânea. Esse momento, o exato momento, em que eu desejaria que nunca acabasse.

A seleção brasileira feminina Sub23 consagrou-se campeã mundial pela primeira vez na história em Agosto de 2015, após ganhar da Turquia em sua casa. Na seleção do campeonato Rosamaria foi a oposta escolhida, mesmo estando fora da semifinal, sua atuação durante todos os jogos anteriores e na própria final foi esplêndida. Zilio foi a MVP e não se esperaria menos, o que fez a capitã brasileira marcou o inicio de seu inesquecível fluxo com a camisa do Brasil.

Foram horas de festa. Havia comemoração para todos os lados e muitas fotos e rápidas entrevistas e festas, festas, festas. Toda a comemoração foi estendida até alta madrugada no apartamento da cobertura que a federação cedeu. Foi tudo muito incrível.

Finalmente todas foram liberadas para provar a bebida deixada em seus apartamentos no primeiro dia em que chegaram aqui e algumas não gostaram, já outras não tinham largado a garrafa da mão. Como Drussyla e Mara, que eram as mais agitadas da noite.

Um dia que nunca sairia da minha memória.

Na Turquia não é tão quente, mas se você acabar dormindo sem o ar-condicionado ligado com a porta e as janelas fechadas você vai acordar inevitavelmente grudado de suor. Acordei primeiro que Gabi e levantei para fazer minha higiene matinal e tomar um banho necessário. Antes de entrar no banheiro fiz o favor de fechar as cortinas que deixamos abertas e ligar o bendito ar, para que ela não acordasse como eu.

Looking At YouOnde histórias criam vida. Descubra agora