Recordando - Parte I

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Osasco, São Paulo. – República Federativa do Brasil.
Terça-feira, 31 de Outubro de 2017.

O famoso Halloween, ou apenas Dia das Bruxas, para Christopher Christian, Bernardo Kudiess e Melissa Benoist, na cidade de Los Angeles, estava sendo um dia típico americano.

Pela manhã eles cortaram abóboras com os amigos, pela tarde estavam dando os últimos toques em suas fantasias que haviam escolhido há alguns dias, e de noite iriam a uma festa à fantasia. Um dia entre doces e travessuras.

Para Gabriela Guimarães, Rosamaria Montibeller e (Seu Nome) D'Angel, na cidade de Osasco, estava sendo um dia comum de preparativo para mais um jogo em busca de manter a liderança na tabela da Superliga.

Tiveram a manhã de treino e academia, pela tarde descansaram e agora se preparavam para ir ao ginásio, onde jogariam contra um dos times que estavam por últimos na tabela. Era mais um dia de trabalho em meio ao conforto de ter a presença uma das outras.

Elas estavam passando quase 24h juntas e conforme os dias passavam a frequência de brigas era menor. Surpreendentemente, Rosamaria e (Seu Nome) eram as que mais discordavam das coisas. Independente do que fosse, havia sempre uma razão para discutirem e se não fosse por Gabriela as fazendo pedir desculpas, talvez o orgulho das duas as deixariam um tempo sem se falar.

Mas, tudo bem. As coisas estavam fluindo e elas estavam bem.

Enquanto Gabriela terminava de se arrumar em seu quarto, Rosamaria fazia um lanche leve, já pronta, e embalava em uma conversa tranquila com a líbero de seu clube. Essa que também já estava pronta e se organizava para acompanhar a amiga comendo iogurte com cereal.

– Já leu J.K. Rowling? – a oposta a encarou entortando de leve a sua boca, tentando recuperar aquele nome em sua memória e a fisioterapeuta sorriu consigo mesma, lembrando que Rosamaria não gravava os nomes dos autores. – Harry Potter.

– Ah, sim, sim. É mais fácil quando você apenas diz o nome do livro.

– Vou anotar isso por você. – tocou em sua testa e apontou para a loira no outro lado da bancada. – Rowling escreveu que a felicidade pode ser encontrada mesmo nas horas mais sombrias, se você lembrar de acender a luz. – a mais baixa direcionou-se até a bancada, sentando-se de frente para a catarinense e finalmente parando para comer. – Em outras palavras, é nítido que às vezes dá pra ver um lado bom nas coisas ruins que acontecem.

– Viu alguma coisa boa em alguma coisa ruim?

A mulher deu de ombros afundando em suas memórias, convertendo seus pensamentos e lembranças aleatórias condizendo com a realidade do momento. Todo dia ela podia sentir que superava um medo diferente e ela se orgulhava disso. Rever suas vitórias era gratificante.

– Eu estava pensando... Acho que se eu não tivesse na academia eu não teria visto Gabriela caindo e eu não teria corrido até ela. Não teria feito a imobilização certa, mesmo estando em total choque, e ela não jogaria no campeonato.

Se referiu ao acidente na quadra, na primeira vez que ela foi forçada a entrar na quadra, quando ainda atuava como fisioterapeuta em 2015. Lembrar daquilo era um pouco assustador ainda. Não pela superação em si, mas o desespero de ver Gabriela naquela forma. Uma força a mais e Gabi poderia ter se machucado seriamente, quase como ao nível de sua lesão no jogo.

A verdade é que sempre pode ser pior. Todas elas correm esse risco, seja um simples movimento que seja.

– Nós víamos você na academia. – a oposta lembrou. – Isso já era um passo que você mesma tinha dado sozinha. Poderia demorar mais, obviamente, mas acho que conseguiria chegar lá sozinha.

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