Patodavida?

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Belo Horizonte, Minas Gerais.

Bloqueei meu celular, calcei meus saltos, dei uma última olhada no espelho e respirei fundo. Eu estava me sentindo bonita, minha roupa estava ótima. Nada que fosse formal demais, mas também não muito jogada para não parecer pobre e nem muito enfeitada para não parecer prostituta de classe.

Tudo certo.

Fui desligando tudo e já ia saindo quando me deparei com um papel em cima da bancada perto da porta junto com dois anéis de... Patos? Ri da bobeira de Gabi e peguei os anéis os colocando em meus dedos, um no anelar e o outro no indicador para depois entregar para a mineira de humor infantil.

As letras em verde escuro anunciavam uma pergunta de uma palavra: "Patodavida?", um pedido que eu nunca negaria. Mesmo que aquele anel amarelo não combinasse em absolutamente nada com a minha roupa. O sorriso em meu rosto não se desfez.

Uns segundos a mais olhando para as letras formais de computador e eu me lembrei de outra escrita. Passei a mão em meu pescoço o sentindo nu e voltei meus passos para o quarto. Abri minha mala e peguei a caixinha específica que sempre levava comigo.

Ela fez o pedido há quase dois anos e eu não havia aceitado, quase mudando meus rumos. Aquele cordão sim era a peça que complementava minha roupa. O encaixe perfeito em meu pescoço, alinhado ao tamanho ideal. Eu nunca mais o tiraria.

Joguei o cabelo todo pra um lado e desci. Ouvi latidos conhecidos e logo avistei minhas companhias me esperando do lado de fora do carro. Conforme eu me aproximava os brilhos nos olhos de Gabriela ficavam mais intensos e eu mais boba.

Uou. – dei uma voltinha assim que me aproximei dela, como ela costuma fazer para mim e recebi um sorriso. – Você está absurdamente linda. Eu amei... Tudo. Você é perfeita.

Awn, obrigada, baby.

– Mal vejo a hora de arrancar tudo fora.

– Meu Deus! – fiquei esperando ela rir ou dizer que era brincadeira, mas seus olhos me devorando negavam que fosse uma piada. – Você não vale nada.

– E ainda assim você me aceitou patodavida. – ela ergueu sua mão e eu pus a minha sobre a sua, mostrando o anel ridiculamente fofinho. Tirei o meu do indicador e pus em seu anelar da mesma mão que o meu estava. – Quack.

Abri a porta do carro e Nadal pulou entrando no veículo. Olhei para Gabi e ela tinha a mão erguida em minha direção mostrando o anel. Ela fechou em forma de punho e continuou em minha direção, esperando que eu desse um soquinho e assim o fiz, mas ela repetiu o som do pato e eu entendi.

– Eu não vou falar isso.

– Por que não? – perguntou desapontada e eu neguei.

– Porque não, baby. Precisamos ir ou vão achar que eu que fiz você chegar tarde de propósito.

– São oito horas, eu nunca chego cedo. – ela justificou e eu olhei o horário. – Vai, faz por mim! Por favor. – pediu que nem criança pedindo balão no parque e eu revirei os olhos quando o "favooor" se prolongou mais ainda.

– Quack. – falei e bati nossos anéis, como ela queria, mas um bico insatisfeito de formou.

– Não, faz direito.

– Aí, Gabriela, pelo o amor de Deus.

Entramos no carro e pus meu cinto de segurança. Alguns segundos depois Gabi fez o mesmo no lado do motorista e adentramos as ruas de Belo Horizonte. O endereço que Sheilla havia nos mandado era um pouco longe do condomínio e pegamos um curto trânsito em frente a praça onde estava tendo um show da prefeitura que nos deixou alguns minutinhos paradas.

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