Quando ela processou o que eu havia dito ela voltou a sorrir, dessa vez com mais brilho e emoção do que antes. Seus olhos brilhavam, percorrendo o meu rosto buscando vestígio de piada, mas ela sabia que nunca brincaria com isso.— Você quer o quê?!
Ela perguntou extática, com a voz tremida e meio falha, com as sobrancelhas juntas como dúvida, o sorriso incompleto por estar desacreditada e os olhos com toques de irrealidade.
Parecia o momento perfeito.
Era o momento perfeito.
Sob a luz fraca, em nossa maior intimidade que era no nosso conforto da nossa bolha pessoal... Respirei fundo buscando toda a confiança que havia dentro de mim e me sentei na cama, a fazendo sentar-se também e ficando de frente pra mim.
Ok.
É agora ou nunca.
— Eu quero assumir a gente. — repeti, a fazendo piscar os olhos hipnotizada. — Eu quero segurar sua mão enquanto andamos até o ginásio. Quero sussurrar estratégias no seu ouvido e errar bolas que seriam suas para brigarmos quando chegar em casa depois do jogo. Quero ouvir seus sermões poliglotas sobre minhas coisas espalhadas pela casa e ri comigo mesma por não entender nada do seu alemão enraivado, mas mesmo assim vou te obedecer. Quero te levar pra Nova Trento e te apresentar cada lugar em que estive durante a minha vida, por todas as vezes em que eu não consegui te apresentar quando estávamos lá. Quero que minha mãe volte a te chamar de Norita e te obrigue a colher maracujá com ela na fazenda da minha avó.
Falei a fazendo se lembrar da vez que minha mãe a levou para o quintal da minha avó e a usou para colher os maracujá bom, e ainda fizeram doces juntas naquele dia. Ela sorriu caindo mais na realidade e eu me estiquei um pouco, enfiando a minha mão embaixo do travesseiro e tirando o seu presente.
Ela me acompanhava com curiosidade e quando ela viu a caixinha de veludo em minhas mãos a sua reação foi instantânea. Seus olhos se arregalaram e sua boca fez um perfeito O em choque. Uma de suas mãos foi parar em seu peito e a outra na sua boca, como se a usasse para abafar um som que não saia. Seu rosto ficou incrivelmente vermelho e os seus olhos encheram-se de lágrimas como se uma cachoeira tivesse surgido atrás deles.
É Natal! É fim de ano! É época de renovações e a melhor maneira de fazer isso é recomeçando a vida ao lado dela com a certeza de tudo o que temos e queremos.
— Eu quero ter o prazer de ver seus olhos brilhando sobre a lua e depois sobre os primeiros raios solares da manhã. — as minhas mãos tremiam, mas a minha voz estava intacta e eu conseguia passar a confiança que dentro de mim estava desfalecendo. — Quero poder te beijar sempre que eu quiser. Quero passar horas transando com você sem me preocupar com alguém chegando e nos flagrando. Quero ouvir você me chamando de amor, mas não como a minha algumacoisa ou o meu sexo grátis para destressar. Quero que me chame de amor como a minha mulher. — Opa! Talvez isso não tenha saído certo. — Quero dizer, não que você não seja a minha mulher agora, porque você já é. Eu só quero oficializar isso. — suspirei, mas logo arregalei meus olhos. — Não que o que tínhamos não fosse oficial. Quero dizer-. Eu não quis dizer tínhamos, tipo no passado, porque eu não estou terminando com você ou algo do tipo. Não é isso. Essa não é a intenção. E-eu quero-. Quer saber? É melhor eu me calar.
Me distraí e consegui a distrair também. Minhas palavras saíram emboladas e confusas e ditas de forma besta. Eu nem ia dizer o que disse, mas acabou saindo e saiu tudo errado. Eu ensaiei isso tantas vezes e agora ela estava segurando um sorriso de dó que eu não queria que acontecesse.
Passei a mão em meus cabelos nervosa e acabei deixando a aliança cair na cama e rolar pra fora dela. Me estiquei toda para a alcançar e voltei já sentindo o ar sair do meu pulmão em descontrole. Escutei meu nome sendo pronunciado por ela, mas levantei um dedo a interrompendo de qualquer coisa que quisesse dizer.
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Looking At You
FanficApós vivenciar um trauma aos 15 anos, (Seu Nome) Franceschinelli é obrigada a levar outro rumo em sua vida, mas o que é para ser uma hora acontece. Quando ela se depara com a oportunidade de ser a fisioterapeuta da seleção feminina de vôlei ela se e...