trance.

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[I can't understand,
I'm walking in my head, where's my mind?
I can't find, where's the end?
I'm talking to myself
It's not a lie, I wanna die
Where's my home?]

{point of view; julie blaise}

Duas semanas depois.

— Por que está com essa cara? — Jessica indagou, fechando o zíper da minha pequena mochila.

— Não sei, acho que me acostumei a ficar aqui. — Ri fraco, encarando meu pulso finalmente livre da tala.

— Não deveria estar dando pulos de alegria por poder terminar de se tratar em casa? — Voltei meus olhos até seu rosto e ela respirou fundo, estendendo a mão na minha direção. — Será apenas por um tempo, Julie.

— Eu sei. — Sussurrei, pegando sua mão livre de apoio para descer da cama.

Senti um arrepio percorrer minha espinha quando sua palma encostou no meu dedo, ou, no caso, onde uma parte dele já esteve um dia. Engoli a seco e me desvinculei do toque o mais rápido possível ao aterrisar no chão.

— Já se passaram quase duas semanas e você o proibiu de vê-la todos os dias. — Ela envolveu seu braço no meu e eu suspirei, acompanhando seus passos para fora do quarto. — Não poderá ignora-lo pra sempre, amiga.

— Não temos mais o que falar. — Balbuciei rudemente, completamente insatisfeita com sua insistência no assunto. — Ele..

— É um idiota, um babaca, um burro, um manipulador fodido e, definitivamente, um stalker. — Eu assenti. — Devo te lembrar que ele está na recepção esperando?

— Céus, por quê?! — Resmunguei em súplica e ela deu de ombros.

— Ele está plantado nesse hospital há dias, saiu pouquíssimas vezes. — Ela torceu o nariz enquanto adentrávamos o elevador, apertando o botão do térreo. — Cá entre nós, ele não parece ser o maior fã de banhos constantes.

Não fui capaz de evitar a gargalhada ao ouvir suas palavras inesperadas, no exato momento que as portas se abriram.

— Olha só.. — Sua voz avaliativa se fez presente e eu arqueei uma sobrancelha, seguindo seu olhar. — Pelo visto ele sabe o que é um chuveiro e lembrou justamente hoje. — Apertei meu corpo na sua lateral enquanto andávamos até eles. — Por que será, né?

Eu não podia negar, nem em um bilhão de vidas, o efeito que aquele homem causava em mim. Apesar da distância ainda notável, eu conseguia vê-lo com tanta clareza e tê-lo tão perto era como uma nova sessão de tortura.

Era impossível ignorar sua presença, apesar dele fazer de tudo para passar despercebido, ele nunca conseguia. Pelo menos não pra mim.

Seu aspecto ligeiramente desleixado e preguiçoso lhe davam um charme desconcertante, o qual contrariava seu rosto devidamente angelical e simétrico.

Haviam bolsas debaixo dos seus olhos e seu rosto parecia mais fino que da última vez que o vi, o que, infelizmente, me incomodou dentro do meu íntegro.

Afinal, eu ainda era humana.

E, quanto mais perto nós chegávamos, mais meus joelhos tremiam e mais rápido meu coração inflamava a cada bombeada, completamente desconcertado.

— Você está pálida. — Jessica murmurou para que apenas eu escutasse, diminuindo os passos gradativamente ao notar meu estado. Respirei fundo, sem conseguir tirar os olhos dele.

— Acho que vou vomitar. — Fechei os olhos e deixei que ela me guiasse, sentindo meu estômago se revirar. — Ele ainda está olhando pra mim?

— Você sabe a resposta. — Engoli a seco e voltei a abrir os olhos, notando-o muito mais perto do que eu esperava. Me desvinculei do toque de Jessy e enfiei às mãos nos bolsos do moletom, parando casualmente a poucos centímetros de distância.

Where Are You?Onde histórias criam vida. Descubra agora