12.

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Noah Urrea

Acordei na manhã seguinte com um raio de sol que havia resolvido passar pela persiana e se concentrar no meu rosto. Depois de alguns segundos lutando contra o sono e tentando abrir os olhos, consegui voltar a mim e entender um pouco do que me rodeava.

Eu estava de bruços em cima de um emaranhado amassado que consistia nos lençóis e no edredom branco que costumavam forrar minha cama. Diretamente ao meu lado, uma mulher com pele um pouco escura e cabelos negros dormia silenciosamente, também de bruços, com o rosto virado para mim. Ambos estávamos nus, e eu sentia que minha cabeça poderia explodir a qualquer momento, fazendo com que alguns dos meus miolos decorassem o estilo clean do quarto.

Fiz o que me pareceu ser uma força sobre-humana para levantar minimamente o corpo e me virar para o lado da cômoda, com o objetivo de verificar as horas. Eu imaginava que estava atrasado, mas ao olhar para os números vermelhos luminosos tive uma certeza: Any me mataria.

Era provável que ela tivesse insistido em ligar para meu celular durante as últimas três horas ao constatar que eu não estava no trabalho. Eu confirmaria aquela suspeira assim que encontrasse o maldito telefone.

Reuni toda a força de viver que me restava e sentei no colchão. Senti meu cérebro se revirando dentro da caixa craniana como se quisesse sair do lugar. Isso fez com que meus olhos momentaneamente perdessem o foco, o que me forçou a fechá-los e tentar não gritar com a enxaqueca absurda que parecia querer me matar lenta e dolorosamente.

Caminhei até o banheiro, liguei o chuveiro e me enfiei completamente lá dentro. Tentei não pensar em nada porque pensar doía.

Saí do banho me enrolando em uma toalha, escovei os dentes e caminhei para o closet, escolhendo aleatoriamente um terno preto, uma camisa que me parecia ser de alguma tonalidade verde e uma gravata cinza escuro.
Vesti-me lá mesmo, sem nem me preocupar em conferir no espelho se a camisa ainda tinha a etiqueta de nova ou se o nó em minha gravata estava torto - o que era bem provável.

Voltei para o quarto e vi que a mulher ainda dormia. Caminhei até ela. Qual era mesmo o seu dela? Acho que começava com C ou L...

- Ei... - Soltei, segurando em seu ombro e balançando-o um pouco. Infelizmente, falar também doía. - Ei... - Outra sacudida, agora com mais vontade. Ela pareceu sentir, e começou a despertar.

Porra, como diabos você se chama? Letícia? Célia?

- Hmmmmpf?

- Você tem que ir. Eu tenho que ir! Já são quase 12h e a minha secretária vai me matar!

Procurei por seu vestido no chão enquanto tentava falar. Ao achá-lo do avesso, dobrei-o do lado certo e o entreguei a ela. Graças a Deus a garota obedeceu, cambaleando para o banheiro com o vestido nas mãos enquanto não me dava a mínima atenção.

Segui para a cozinha à procura de algum analgésico ou qualquer coisa anti-ressaca. Ouvi meu celular tocando baixo, mesmo minha audição estando comprometida com um zumbido irritante e ensurdecedor. Fui até a sala e identifiquei que o som vinha da massa de roupas no chão.

Ah, no bolso das minhas calças. Da noite anterior.

Soltei um gemido ao abaixar para pegar o aparelho.

- Alô.

- Senhor Urrea. Fico feliz em saber que o senhor está vivo.

- Desculpa, Any...

- O senhor está atrasado. Espero que já esteja a caminho.

- Eu... Me dê mais uns vinte minutos, ok?

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora