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QUINTO MÊS

Noah Urrea

A manhã seguinte ao nosso casamento começou perfeita, mesmo que nada fora do normal tivesse acontecido. O simples fato de tê-la ali ao meu lado, dormindo, linda como um anjo, já era o suficiente para me deixar bem.

Sua maquiagem, embora mais fraca, se mantinha perfeita. Seus cabelos estavam soltos, e tentei me lembrar em que momento da noite anterior eu havia desfeito sua trança. O perfume de amêndoas parecia fraco se comparado ao perfume natural que sua pele emanava.

Ela estava tranquila, respirando devagar, e o movimento de subida e descida que o peito dela fazia era um pouco hipnótico. Mesmo inconsciente, Sina parecia feliz, e aquilo fez com que eu sentisse uma paz de espírito tão grande que, de repente, me dei conta de que poderia passar o resto da vida ali, daquele jeito, assistindo-a não fazer nada.

Mas em algum momento ela acordaria. E quando isso acontecesse, eu queria estar preparado. Era engraçado como me sentia disposto a parecer o melhor marido do mundo para ela, e igualmente engraçado era o fato de que eu achava que realmente podia ser. Eu havia prometido a ela - e a mim mesmo - que cuidaria dela para sempre, e sempre a faria feliz. Era uma das pouquíssimas promessas que eu havia feito a alguém algum dia, e seria talvez a única que eu realmente cumpriria.

Contra a vontade, levantei-me da cama e caminhei até o banheiro para um banho morno, tomando cuidado para não acordá-la. Ela ainda dormia na mesma posição quando voltei ao quarto. Escolhi uma calça de moletom qualquer para vestir e recolhi do chão as nossas peças de roupa, esquecidas na noite anterior, saindo logo em seguida.

Desci e preparei o melhor café da manhã que consegui, com sucos de maçã e morango, torradas, dois tipos de geléias, patê, chocolate e biscoitos de água e sal. Não sabia de onde havia surgido aquilo tudo, mas só pude pensar que tinha um dedo de Sabina. Sentei na cozinha e comi distraidamente, tentando lembrar de todos os detalhes da nossa festa de casamento, mas só conseguindo lembrar sempre da mesma coisa. Ela.

E de como ela estava maravilhosa. E de como eu me senti ao vê-la caminhando para mim, me aceitando, aceitando ser minha. E de como tudo parecia girar em torno dela de uma forma natural. E de como eu a amava. Senti uma saudade boba de repente, como se estivéssemos longe há tempo suficiente.

Coloquei em uma bandeja tudo que consegui e subi com ela para o quarto, sem pensar se Sina já havia acordado àquela hora. Para minha felicidade, ela estava se espreguiçando em volta do edredom como um gato manso - e a melhor parte: completamente nua.

Por um bom tempo tudo que consegui fazer foi admirá-la da porta, com a bandeja ainda na mão. Fiquei feliz quando ela não fez menção em se cobrir ao me ver ali.

- Bom dia. - Ela sussurrou contra o travesseiro, meio de bruços, me olhando com aqueles olhos verdes perfeitos.

- Ótimo dia. - Respondi, deixando a bandeja no colchão ao seu lado e beijando suavemente suas costas - Com fome, sra. Urrea?

Ela escondeu o rosto e soltou um riso baixo, mas suficientemente alto para que eu ouvisse e me apaixonasse ainda mais.

- Estou. A sua filha está mexendo com o meu apetite.

Eu não sabia por que tudo que ela dizia fazia com que eu me derretesse, mas ouvi-la se referir à sua barriga daquela forma definitivamente me deixou mais bobo do que nunca. Quando Sina virou de barriga para cima, fui tomado por uma vontade imoral de agarrá-la e enchê-la de beijos, mas tudo que fiz foi beijar sua barriga.

- Ela anda muito quieta... - Comecei, espalmando minha mão ali, e como se fosse uma resposta à minha constatação, senti imediatamente um minúsculo chute.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora