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Maratona 5/6

Sina Deinert

Fiquei imóvel no mesmo lugar, olhando para o ponto no final da rua que o Volvo havia desaparecido, sentindo um leve formigamento no lugar onde ele havia deixado aquele beijo.

Finalmente saindo de meus devaneios, entrei pelos fundos e fiquei aliviada em ver que a cozinha estava deserta. Passei pela sala onde já havia algumas meninas, mas não dei importância a nenhuma delas. Fui direto para o quarto e me tranquei lá.

Aquele tinha sido o melhor dia da minha vida. O fato de ser meu aniversário era apenas um detalhe. Ele passou o dia inteiro comigo. Ele escolheu pela minha companhia, embora não estivesse totalmente confortável com isso. Ele havia me dado um presente lindo, que agora chamava toda a atenção do meu quarto.

Sem pensar, fui até o vaso e tirei, do meio das flores, o papel com a lista das diversas espécies que ali estavam. Deitei de bruços na cama e li uma por uma, tentando identificá-las. Depois de muito tempo nesse jogo, finalmente dobrei novamente o papel, pronta para guardá-lo em uma das gavetas e estudá-lo depois, mas ao encarar uma das quatro partes do verso do papel, fui pega de surpresa por algo escrito a lápis.

A letra, embora parecesse estar ali por rascunho, era bonita e imponente, diferente da lista que trazia os nomes das flores, então imediatamente entendi que aquela caligrafia só poderia ser de Noah.

Desdobrei novamente o papel, para poder ler a frase inteira.

Era uma citação. Uma citação que não fazia sentido estar ali.

Não fazia sentido...

"Um covarde é incapaz de demonstrar amor. Isso é privilégio dos corajosos." Mahatma Gandhi.

Noah Urrea

– Senhor?

– Sim.

– Está tudo bem?

– Está tudo ótimo, Any. Não poderia estar melhor.

Notei pela minha visão periférica que ela me encarava com dúvida, mas não fiz menção em me virar e encará-la para tentar mostrar que eu estava falando a verdade.

Primeiro, porque minha cabeça doía demais para que eu tentasse fazer alguma coisa além de falar e respirar. Segundo, porque eu simplesmente não me importava mais com o fato de Any acreditar ou não em mim. Terceiro, porque eu não estava falando a verdade.

– O senhor parece cansado.

Eu também teria pedido que ela me chamasse pelo nome. Quanto mais o tempo passava, mais me irritava a insistência de Any em ser formal comigo. Mas até isso exigia de mim uma força de vontade que eu não tinha.

– Eu estou cansado. Cansado e com enxaqueca. Mais alguém quer falar comigo hoje?

– Não senhor.

– Ótimo. Então pode trancar a porta assim que sair.

Any permaneceu em silêncio por algum tempo. Não abri os olhos para verificar o porquê.

– Tudo bem. Aqui estão as anotações das reuniões de hoje. O senhor está indo bem com as suas decisões.

– Obrigado.

– E aqui estão os três contratos.

Senti os papéis sendo jogados à minha frente, em cima da minha mesa. Ainda assim, continuei imóvel, fazendo movimentos lentos e circulares com os dedos nas têmporas para tentar aliviar a pressão que eu sentia na cabeça.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora