55.

1.4K 51 22
                                    

Maratona 5/6

Sina Deinert

Era estranho como meu corpo não sentia a falta de descanso. Eu não tinha dormido bem, já que a noite havia sido recheada de pensamentos sobre o meu casamento e o quão irreal aquilo parecia ser. Por isso, era de se esperar que eu acordasse tarde - no mínimo, depois de Noah.
Mas lá estava eu, com os olhos arregalados às 6:15h da manhã, encarando sua expressão tranquila e hipnotizada pelo movimento do seu peito de inspirar e expirar. O tapete embaixo de nós dois era tão fofo e confortável que eu poderia passar horas naquela mesma posição, fazendo exatamente aquilo.

Entretanto, eu tinha um plano. E era preciso pô-lo em prática. Por isso, me levantei de uma vez e procurei durante algum tempo pela caixinha e pela minha aliança antiga. Achei-os jogados de qualquer maneira em um canto do tapete e os peguei, caminhando devagar para fora, tentando não acordar Noah.

Subi e tomei um banho quente, me vestindo com uma roupa confortável e voltando para o andar de baixo. Tirei a nova aliança do dedo e a depositei outra vez dentro da caixinha, deixando-a em cima da mesa do escritório e vestindo o anel antigo. Rumei para a cozinha e preparei qualquer coisa de café da manhã. Depois esperei, um tanto animada comigo mesma, imaginando como meu plano se sairia.

Quando ouvi seus passos pesados subindo as escadas, comecei a me preparar. Talvez aquilo fosse ser difícil para ele, mas Noah tinha que entender. Precisava ser feito.

Algum tempo depois, quando os mesmos passos pesados desceram as escadas e foram direto para a sala de estar outra vez, esperei um minuto e fui de encontro a ele. Quando entrei, encontrei-o tentando estender da forma certa a manta sobre o sofá. Seus olhos estavam um pouco fechados, talvez da ressaca, e seu nariz estava inchado, embora não parecesse quebrado.

Quando Noah olhou para mim, sorriu de forma instintiva, e eu tive que fazer muita força para não retribuir o sorriso e me agarrar a ele como um urso panda. No segundo seguinte, seus olhos deslizaram para minha mão esquerda, e vendo que ali se encontrava a aliança antiga, seu sorriso sumiu completamente, dando lugar a um ar de confusão.

Aquela era a hora de não me deixar levar pela cara de cachorrinho abandonado que Noah sabia fazer tão bem. Era a hora de dar seguimento ao meu plano.

– Bom dia. - Comecei, empregando um tom de naturalidade na voz - Como está o seu nariz?

Ele continuou me encarando com uma expressão de completa confusão. Ficou um tempo na mesma posição, e ao constatar que não chegaria à conclusão nenhuma, fossem quais fosses seus pensamentos, ele coçou a cabeça e fechou os olhos com força, tentando se situar outra vez.

– O que aconteceu ontem? - Noah perguntou com uma voz rouca.

– Nós transamos nesse tapete. - Apontei para o lugar em que ele estava pisando.

– Antes disso...

– Antes disso você arrebentou o nariz na bancada da cozinha e quase me matou de susto.

– Desculpa. Não queria te deixar preocupada... Meu nariz está bom... - Ele falou, parecendo um pouco desconfortável - Mas... Depois disso...

Olhei-o de maneira confiante.

– Depois disso... Nós transamos nesse tapete.

Noah ficou mudo mais uma vez, com o olhar desfocado, claramente tentando se lembrar da ordem dos fatos. Conforme os segundos passavam, sua expressão ficava sempre mais triste, e então tive a certeza de que ele estava pensando exatamente o que eu queria que pensasse. Que o pedido de casamento não havia passado de um sonho. E não passando de um sonho, Noah não tinha a minha resposta. E não tendo a minha resposta, ele teria que fazer o pedido outra vez. Sóbrio.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora