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Sina Deinert

A viagem até o restaurante foi silenciosa. Por um momento, cheguei a pensar que Noah me perguntaria o que eu havia achado de minha nova conhecida, que nos seguia em seu carro logo atrás, mas ele não o fez. Assim, a curta viagem foi como as tradicionais viagens que nós constumávamos fazer. Sem qualquer tipo de comunicação, o que mais uma vez fez com que eu lembrasse da nossa atual situação, como "casal". Um casal de conhecidos. De desconhecidos, talvez. Nada mais do que isso.

Chegamos em um restaurante ao qual não dei muita atenção até que tivesse entrado. No momento em que atravessei a porta, me dei conta de que estava em um lugar provavelmente muito, muito caro, tanto pelo ambiente em si como pelas pessoas ali presentes. Me senti estúpida e completamente deslocada, lembrando que minhas roupas eram apropriadas para, no máximo, um passeio no shopping, e sentindo minha cabeça ferver aos poucos, enquanto me dirigia à mesa tentando me esconder atrás de Noah.

Senti raiva de sua atitude, primeiro por sequer cogitar a possibilidade em me informar que iríamos a um lugar daquele tipo. Depois, por não me alertar sobre minha aparência. O fato de me sentir completamente fora de lugar era culpa unicamente dele, mas Noah parecia não se importar.

Depois de muito tempo, escolhemos os pratos sugeridos pelo maitre e, a partir daí, ele e Any passaram a conversar entre si, ambos se esquecendo completamente da minha presença. Ao invés de me incomodar, esse fato serviu para que eu ficasse um pouco mais à vontade, completamente sozinha em meu espaço enquanto, calada, observava o uso correto dos muitos talheres por parte de meus acompanhantes, tentando imediatamente repetir as ações de forma certa e memorizá-las para uma próxima ocasião.

Any falou sobre novos contratos, empregados da empresa, reuniões, festas de praxe e algo relacionado a arranjos de viagem. Noah parecia entretido, respondendo com vivacidade a qualquer comentário, enquanto eu me mantinha calada e ignorante a qualquer assunto que eles discutiam. Algumas vezes, pude ver pela minha visão periférica que Noah olhava para mim, mas depois voltava-se para Any, apenas como se quisesse checar se eu ainda estava viva.

Por aquele momento, me permiti simplesmente viver o pouco do que estava acontecendo. Então éramos só nós três, eu, Noah e sua melhor amiga, sentados em uma mesa enquanto eles conversavam sobre trabalho, e simplesmente me deixei levar pela simplicidade da situação. Como um espectador, eu assistia à minha própria vida, ao menos naquele momento, sem complicações ou pendências, e por mais que essa paz me enganasse sobre o que realmente eu tinha que enfrentar, era bom estar daquela forma.

E então, a presença de Noah ao meu lado, sua postura firme e protetora, seu calor e sua voz me faziam bem. Era como se eu tivesse que estar ali, como se não houvesse outro lugar no mundo em que eu devesse estar. Mesmo que tudo fosse muito mais complicado do que isso. Por isso, me permiti prestar atenção apenas nele, mesmo sem realmente escutar suas palavras, mesmo sem tocá-lo, mesmo sem olhar para ele. Sua presença agia sobre mim, sem a menor necessidade de interação.

- Vamos?

Com o susto, meu corpo pulou discretamente no assento, agora encarando Noah como se ele tivesse acabado de aparecer ali.

- Você já pagou? - Perguntei, confusa.

- Acabei de pagar. Você não viu? - Ele respondeu me olhando preocupado, como se eu estivesse verde.

- Estava distraída. - Murmurei, e dando uma rápida olhada em Any, me aproximei dele para falar em seu ouvido. Como o ambiente era excessivamente silencioso, talvez por causa da maldita educação de toda aquela gente rica em quase não falar, eu duvidava que minhas palavras tivessem saído em um volume audível apenas para Noah - Pode me dizer quanto foi?

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora