21.

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Sina Deinert

Aquela era a última mala de roupas que eu colocava no banco traseiro do taxi.

Não sabia sequer de onde tinha tirado a força de vontade para conseguir colocar tudo que me pertencia dentro de sacolas e mochilas de viagem, antecipando a hora da partida.

Eu não tinha muitas coisas. As roupas de cama, móveis e objetos de decoração que ficavam no meu quarto não me pertenciam, então só restavam algumas roupas, sapatos, livros e outros pertences menores para levar comigo. No total, eu tinha quatro sacolas grandes onde tudo se misturava. Muito daquilo eu nem lembrava que tinha.

Na verdade, eu não precisava de muitas daquelas coisas. A grande maioria das peças de roupa eram próprias para o que eu fazia, e em raras ocasiões as havia usado.

Lingeries, vestidos apertados e saias justas, todas peças esquecidas no fundo de algumas gavetas, quando, em um ato de rebeldia, resolvi me vestir de uma maneira mais casual e confortável para receber clientes naquela casa.

Aquela casa, que agora não era mais meu lar.

Minha estadia ali havia sido rápida, mas foi o suficiente para que eu pudesse fazer amizades. Eu sentiria saudades de Angela e Jéssica, principalmente. Elas estiveram do meu lado em momentos importantes, e agora eu não sabia como seria sem elas.

Mas não me restava muito mais coisas a fazer, por isso optei por uma despedida rápida e objetiva. No estado em que me encontrava, mais sensível que o normal, não consegui conter as lágrimas ao falar com cada uma das meninas que me fizeram companhia por esse curto período de tempo, mas consegui fazer com o que o drama durasse pouco.

– Vou sentir saudades suas. - Disse Jéssica aos prantos, enquanto me abraçava na cozinha.

Optei por não responder, temendo que a tentativa de emitir som acabasse com o pouco do controle que eu tinha e me fizesse, também, me debulhar em lágrimas.

– Sabe o que eu acho? - Começou Angela, sorrindo esperançosa enquanto fazia mais força para não chorar do que queria admitir - Acho que você vai ficar bem. Você é forte, sabe se cuidar.

Eu poderia responder que não, eu não sabia.

Estava perdida demais, triste demais e sozinha demais para saber o que fazer da minha vida, como iria me virar dali para frente, quais seriam os planos e qual era o momento para começar a traçá-los.

Eu estava perdida, mas não quis falar. Isso traria preocupação desnecessária da parte delas, e embora eu precisasse de alguém, não poderia dar esse peso a pessoas que não eram responsáveis por mim.

– Quando souber onde vai ficar, nos avisa?

Apenas assenti com a cabeça, ainda evitando falar para que o choro, agora dolorido na garganta, continuasse preso.

Eu havia mentido quando disse que não sabia para onde ir. Iria para o lugar onde Tanya havia me achado. Era possível que eu arranjasse algum lugar para ficar por ali, enquanto tentava dar um jeito na minha vida.

A vizinhança não era agradável, mas os aluguéis não eram caros, o que era bom porque eu não procurava nada luxuoso e estava em contenção de gastos, já que havia perdido uma boa quantidade de dinheiro ao pagar meus próprios programas para Tanya.

Mas ninguém precisava saber disso.

Querendo apressar as coisas, dei um último abraço em Angela e saí pela porta dos fundos, onde um taxi já me esperava.

Era mais uma despedida. Mais uma triste despedida, como tantas outras na minha vida.
Mas que despedida não é triste?

Sem olhar para trás, entrei no carro e parti.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora