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Noah Urrea

– Parabéns mais uma vez, cara. - Falei a Pepe, abraçando-o e desejando-lhe uma boa viagem depois de fechar a mala da taxi.

– Obrigado. Estou torcendo por uma menina, mas vamos ver. - Ele disse, animado, mas então voltou a ficar com a expressão um pouco séria quando repetiu as desculpas sobre a piada que tinha feito e a forma como deixou Sina sem graça. Tentei convencê-lo de que estava tudo bem, e então Sabina chegou até nós.

– Amor, fala pro motorista deixar o taxímetro rodando. Vou estar dentro do carro dentro de três minutos.

Quando Sabina falava daquela forma, nós entendíamos. Era simples assim. Então Pepe consentiu e entrou no taxi, fechando a porta e nos deixando a sós para conversar. Eu já esperava por aquilo.

– Estou feliz por você. - Ela começou, de forma gentil.

Eu agradeci.

Ficamos nos encarando por algum tempo.

– Você sabe que eu sei que tem alguma coisa. E sei que não tem a ver com você propriamente, mas sim com ela.

Eu sabia. Sabina era estranha, sempre havia sido. Ela era muito sensitiva; Tinha puxado isso da nossa mãe, mas nela parecia acontecer com mais força. Alguns amigos chamavam de telepatia, outros mais espirituais diziam que era coisa de energia ou algo assim. Fosse o que fosse, éramos sempre surpreendidos com sua capacidade de simplesmente saber das coisas, e por isso nunca conseguimos esconder nada, nem dela, nem da nossa mãe.

Mas Sabina chegava a dar medo.

– E sei que é algo sério.

– Eu estranharia se você não soubesse.

Ela continuou me encarando. Se eu não soubesse que Sabina de fato não podia ler meus pensamentos, letra por letra, estaria agora desconfortável com o jeito que me olhava, em pânico por pensar que meus segredos estariam sendo revelados ali, diante de meus olhos, sem que eu pudesse fazer nada.

– Se vocês optaram por manter um segredo, não é da minha conta. - Ela recomeçou, segurando minha mão - Mas só não é da minha conta se você me prometer que, independente do que for, sua felicidade não vai estar em risco.

Apertei suas mãos, querendo passar toda a firmeza e certeza que eu sentia ao falar aquelas palavras. Mas não precisava. Ela sabia que era verdade.

– Prometo a você que nunca estive tão feliz.

Ela sorriu. Era um sorriso de alívio, de conforto, de cumplicidade. Era o sorriso que Sabina costumava dar quando chegava à conclusão que, no final das contas, não havia nada de errado.

– Você está bem. - Ela falou, com toda aquela sabedoria que não era comum em irmãs caçulas - E se você está bem, então não faz diferença.

Aquela coisa minúscula me abraçou pela cintura e levantou a cabeça como uma criança que pede por um beijo. Abaixei o máximo que pude para dar um beijo carinhoso na testa dela, abraçando-a com todo o amor que meu lado irmão guardava.

– Cuide-se. Quero um sobrinho rechonchudo e rosado pra mimar. - Falei, já sentindo uma pontada de tristeza em deixá-la ir.

– Quando ele começar a se sentir sozinho, vou exigir um priminho. - Ela falou, saltintando até o carro enquanto sorria. - Avise isso à Si.

Sabina abriu a porta e sentou no banco de trás, mas antes de fechá-la, pareceu lembrar de uma última coisa e colocou a cabeça para fora de novo, apenas para dizer o que faltava.

– Ah. Realmente gostei dela.

Ela sorriu e bateu a porta do carro, que rumou para fora do jardim logo em seguida. Ficamos todos seguindo o táxi com os olhos, até que ele virasse na entrada e sumisse para a rua.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora