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TERCEIRO MÊS

Sina Deinert

Acordei com o canto de um pássaro em algum lugar. Não me lembrava de ter um sono assim tão leve, por isso a sensação de simplesmente ser arrancada dos meus sonhos tão facilmente era estranha. Mas não me importei.

Me espreguicei, ainda de olhos fechados, me virando completamente na cama e, no processo, dando de cara com Noah. Ele vestia um conjunto básico cinza - calça de moletom e camisa simples. Me lembrei que, na noite anterior, não cheguei a vê-lo tirar o paletó antes de nós dois cairmos no sono. Por isso, tudo indicava que ele já estava acordado havia algum tempo, embora seus cabelos ainda estivessem um pouco úmidos do banho que não o vi tomar.

Ele me encarava de forma séria. Seus olhos estavam tão claros e translúcidos aquela manhã que pareciam ser feitos de vidro.

- Adivinha? - Ele falou, ainda me encarando, a poucos centímetros de mim, com uma expressão de ansiedade e surpresa.

Ainda confusa pelo sono, não notei que ele parecia um pouco divertido. Por isso, aquela pergunta, me pegando desprevenida, fez com que eu me assustasse.

- Que foi? - Perguntei, já preocupada, tentando deixar minha voz clara, embora ainda muito rouca.

- Eu vou ser pai.

Encarei-o por um bom tempo, tentando colocar os pensamentos em ordem e finalmente entendendo o que ele estava dizendo. Enfiei o rosto no travesseiro e murmurei contra ele.

- Não me assusta assim!

Ouvi-o sorrir ao meu lado, enquanto beijava meu pescoço de um jeito fofo.

- Mas é verdade, não te contaram? - Ele começou, respirando contra meus cabelos, enquanto um braço envolvia a minha cintura - Eu vou ser pai mesmo!

- Me contaram. - Provoquei, ainda contra o travesseiro - Antes mesmo de contarem pra você.

Senti seu abraço afrouxar um pouco à minha volta.

- É... Eu devia estar lá nessa hora.

Encarei-o outra vez, talvez querendo me desculpar por alguma coisa.

- Eu não sabia o que era... Pensei que fosse outra coisa... Desculpa.

- Tudo bem... - Ele falou, penteando para trás com os dedos os fios do meu cabelo, mas ainda assim consegui ver um pequeno traço de uma tristeza verdadeira por não ter recebido a notícia junto comigo.

- Você pode acompanhar de perto a gravidez a partir de agora. Já é alguma coisa, né?

Ele sorriu de uma forma um pouco maléfica, e por um momento tive medo do que se passava na cabeça dele.

- Ah, não se preocupe. Eu vou estar muito presente.

No exato momento que minha resposta seria dada, o celular de Noah tocou na cômoda ao seu lado. Ambos olhamos para o telefone, mas nenhum dos dois se mexeu.

- Não vai atender? - Perguntei, quando me dei conta de que Noah parecia um pouco longe daquela dimensão.

- Você acha que é necessário? - Ele me perguntou, com uma cara triste.

- Pode ser alguém importante. Alguém querendo falar com você.

Ele soltou um muxoxo de descontentamento e se afastou de mim com relutância, rolando na cama para alcançar o aparelho que ainda tocava a mesma música irritante.

- Ah, claro... - Ouvi-o dizer logo depois de identificar a quem pertencia a chamada. Quando ele voltou a deitar ao meu lado, destravou o aparelho e atendeu a ligação, sem, entretanto, posicioná-lo próximo ao ouvido.
Encarei a situação um pouco curiosa.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora