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Sina Deinert

Athos sorriu pela primeira vez no exato dia em que completou dois meses, e, é claro, por causa de Noah. Ele estava determinado a fazê-la entender seus argumentos sobre música, o que aparentemente a divertia.

– Então você concorda? - Ele falou animadamente, e ela sorriu outra vez.

Estávamos na casa de Wendy e Marco, e os dois pareciam completamente admirados com a cena também. Ela passava a maior parte do tempo encarando Noah com atenção absoluta, reparando nas caretas que ele fazia e em como mexia as mãos.

Com mais algumas semanas, ela não só sorria como tentava imitar suas expressões faciais. Noah se divertia muito com aquilo, e a desafiava a conseguir fazer as caras mais bobas que conseguia. A cena era adorável, mas frequentemente eu tinha que lembrá-lo de que ele acordava cedo no dia seguinte e que, por isso, o melhor a fazer depois de passar mais de três horas “conversando” com Athos era dormir.

Aos três meses ela já sorria tanto que eu não entendia como os músculos do seu rosto não ficavam cansados. Ela fazia isso para qualquer um que resolvesse falar com ela, fosse Noah, eu, os avós, o pediatra ou alguém na rua. Era como se ela simplesmente adorasse todo mundo.

Além de sorrir para as pessoas, Athos gostava de conversar com elas. Bastava alguém falar algo com ela que se iniciava um debate. Se a pessoa continuasse com seus argumentos, ela se dispunha a balbuciar e fazer sons em resposta até que estivesse cansada. Às vezes, a palavra não precisava nem ser direcionada a ela.

– Nossa filha é comunicativa, né? - Noah riu abertamente, observando Athos responder ao repórter no canal de notícias da tv a cabo.

Foi nessa idade que os olhos dela começaram a mudar. Até onde podíamos ver, suas íris pareciam tender para o azul, o que fez com que Noah já começasse a cantar vitória, e eu, a me decepcionar um pouco.

– Mas ela é toda a sua cara. - Argumentei.

– Mas os olhos são seus. - Ele rebateu - E vão ser os olhos mais lindos do mundo.

Mas conforme os dias passavam, algo começou a mudar. Simplesmente não parecia ser como deveria.

– Amor. - Ele me chamou quando saí do banho - Vem cá.

Estávamos em um sábado. Eram 9h da manhã, e o dia estava excepcionalmente claro e morno.
Caminhei até a cama e encarei Athos, que se divertia sozinha no colchão com Noah sentado perto dela. Ela parecia estar conversando e rindo consigo mesma.

– Que foi?

– Olha pra ela.

Encarei-a e ela me encarou de volta, já sorrindo e emitindo sons de alegria.

– Hum... - Soltei.

– Era pra ser assim?

– Não sei...

– Será que é a claridade?

– Acho que não.

Ficamos em silêncio por algum tempo enquanto ela nos ignorava, brincando com os próprios dedos como se eles fossem mágicos. Alcancei um brinquedo colorido que ficava pendurado no seu berço e trouxe até ela. Athos parou de encarar as próprias mãos e olhou para o objeto à sua frente. Seus olhos brilharam.

Movimentei-o de um lado ao outro, como se estivesse hipnotizando-a. Ela seguiu com os olhos o movimento que eu fazia, parecendo muito compenetrada. Levei uma mão à frente do seu olhinho direito e repeti o movimento. Ela continuou seguindo-o com o único olho destampado. Repeti o procedimento com o olho esquerdo, e mais uma vez Athos seguiu o objeto com a máxima atenção.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora