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Noah Urrea

Nossas visitas ao obstetra começaram a ser quinzenais. E assim como nas outras visitas o médico seguia sempre o mesmo roteiro: Media a pressão de Sina, checava seu peso e escutava o coração da nossa filha. Perguntava sobre os sintomas, dores, exercícios e alimentação. E sempre no final da consulta, para a minha tranquilidade, ele repetia a mesma coisa: Tudo estava correndo como o esperado.

Ela continuou com as aulas de hidroginástica. Por algum motivo, elas já não me incomodavam mais. Depois de saber da orientação sexual do professor, meus dias de trabalho se tornaram consideravelmente mais produtivos, já que agora eu podia me concentrar nos meus deveres sem imaginar minha mulher sendo agarrada à força na piscina e morrendo afogada no final do dia.

A pedido dela, estreei o piano da sala de estar. Tive que buscar em algum lugar meu caderno de partituras e chamar um técnico para afinar o instrumento em um fim de semana. Pensei já estar "enferrujado" pelo tempo que me mantive ocioso, mas assim que voltei a sentar no banco e vi as teclas à minha frente, me senti em casa. Não lembrava de quão boa era a sensação de extrair de simples folhas de papel as melodias mais clássicas, algumas felizes e outras sérias demais.

Ela pareceu encantada ao me assistir, e me senti feliz como um menino por estar fazendo algo que ela realmente achava legal. Era bom ser admirado pela minha mulher, não apenas porque massageava meu ego, mas porque eu simplesmente me sentia uma pessoa melhor - e mais útil - fazendo uma coisa que a deixasse feliz.

Toquei o piano no domingo de um fim de semana, e a partir dali, passei a tocar religiosamente toda noite, pelo menos uma música, para deixá-la contente ou calma. Era a pedido dela, então eu fazia.

Nossa filha continuava chutando sempre que sentia minha mão ali, embora ela se movesse também quando outras pessoas tentavam senti-la - mas a diferença estava no fato de que eu não precisava correr para encontrá-la se contorcendo dentro da barriga de Sina como todos faziam. No meu caso, ela chutava depois que eu me aproximava dela.

Os enjôos da gravidez continuavam marcados para as primeiras horas do dia, como de costume. A líbido da minha mulher continuava firme e forte.

As coisas continuavam normais.
E os dias passaram.

NONO MÊS

Quando entramos na 36ª semana de gestação, foi a minha vez de começar a me sentir realmente nervoso.

O Dr. Lewis havia calculado que a data estimada para nossa filha resolver nascer estava entre 10 e 18 de setembro. Nesse meio tempo, teríamos o aniversário de Sina, e me senti um pouco triste por não poder dar completa atenção a esse evento, prometendo-a uma festa maravilhosa assim que a poeira abaixasse.

Ela não parecia estar triste de forma alguma, mas estava se sentindo mais ansiosa e sensível do que nunca. Nossa filha agora se mexia com tanta frequência que parecia estar deixando-a um pouco impaciente.

- Ela quer sair...

Olhei-a espantado, perguntando em silêncio o que ela queria dizer com aquilo.

- Não. Não temos que ir pro hospital. Só estou dizendo que ela não para quieta.

Suspirei aliviado.

- Por que não deita um pouco? Vê tv ou lê um livro? Ela deve se acalmar...

- Não adianta. Eu já tentei. Acho que ela está nervosa porque eu estou ansiosa.

Toquei sua barriga e senti um chute potente saído de lá de dentro.

- É... - Concluí distraído - Acho que ela quer sair...

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora