27.

1.3K 63 41
                                    

Noah Urrea

Silêncio.

Um silêncio profundo e constrangedor.

– A garota que você está apaixonado?

– É.

– A garota que você está apaixonado é uma prostituta?

– É.

Mais silêncio.

Eu poderia contar nos dedos as situações em que vi Any sem reação. Por isso, vê-la daquela forma agora só fazia com que um desespero crescente se apoderasse de mim aos poucos. Eu sabia que minha situação não era trivial, mas seu silêncio era automaticamente captado pelo meu cérebro como uma indicação de gravidade.

Era mais grave do que eu imaginava, porque se ela não tinha nada para me dizer, se não tinha nenhum conselho ou palavra para confortar... Bom, então eu estava mesmo na merda.

Depois de um longo e insuportável silêncio, ela falou outra vez.

– Isso é... inesperado.

Eu não sabia que tipo de resposta esperar dela, mas sabia que tipo de resposta queria ouvir. Eu queria ouvir que talvez eu devesse me entregar àquilo. Talvez devesse dar uma chance a mim, e também à Sina, para que isso pudesse dar certo. Talvez a próxima coisa que eu queria mesmo ouvir fosse Any gargalhando como uma adolescente com a animação da recém descoberta paixonite aguda da qual seu melhor amigo estava sofrendo. Mas além de ser adulta, séria e inteligente, ela era uma mãe de família.

Estava simplesmente fora de questão ouvi-la dizer que talvez uma garota de programa fosse uma boa escolha, porque elas estavam em posições diametralmente opostas: Any era o tipo de mulher que construía uma família e baseava-se na confiança, no amor e na integridade para mantê-la. Sina era exatamente o tipo de mulher que ajudava a destruir tudo isso.

– Pensei que você tivesse parado de ir nesses lugares... Pensei que tivesse te convencido...

– Eu tinha parado... Mas uma noite eu fui...

Any continuou me encarando, como se me desse permissão para prosseguir.

– Eu a vi pela primeira vez naquela noite. Ela parecia ser só mais uma menina daquele lugar, e apenas o jeito um pouco diferente me chamou a atenção. Na verdade, era o que eu achava, mas desde aquele dia eu tinha notado algo a mais nela. Mesmo que não tenha me dado conta, ela mexeu comigo, e na época eu não sabia disso. Hoje eu consigo ver o estrago que ela fez na minha vida. Any, eu não queria gostar dela.

– Juro por Deus que tentei com todas as forças não sentir o que eu sinto, juro que tentei me afastar, mas quanto mais eu ficava longe dela e negava o que estava acontecendo, mais eu me via amarrado a ela. Eu sei que deveria ter tomado a iniciativa de sumir assim que notei ter algo diferente no que eu sentia por ela. Achava que era só algum tipo de sentimento protetor, mas não imaginava que fosse se tornar isso. Eu sei que errei em me deixar levar, mas eu gostava da companhia dela.

– Eu devia ter notado que a partir do momento em que aquilo passou a não ser só tesão, havia algo de muito errado. Eu sei que fui estúpido outra vez, mas... Ela é adorável. Ela é diferente, é linda, é doce... Não parece ser o que é. E eu sei que estou me iludindo com isso tudo, sei que ela só estava fazendo o papel dela, mas acho que ela gosta da minha companhia também. Ela me disse que gostava...

– Ela é uma prostituta, Noah. O que te faz pensar que todo esse tempo ela não estava atrás do seu dinheiro?

Eu sabia que ela estava pensando aquilo, assim como eu. Se já havia acontecido com uma mulher no passado, uma mulher que aparentemente se encaixava na mesma “posição” de Any, e não Sina, as chances dessa mesma estratégia ser utilizada como forma de sedução e posterior golpe do baú por uma garota de programa poderiam ser ainda maiores.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora