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Noah Urrea

O primeiro dia de trabalho havia começado cedo e agitado. Aquela era a empresa matriz, onde tudo era maior, mais complicado e mais detalhado, o que, consequentemente, significava mais reuniões, mais gente e mais trabalho. Foi bom ter aprendido alguma coisa com Any porque, a partir daquele momento, eu sabia que muitas coisas seriam exigidas de mim, e mesmo que eu não estivesse ainda preparado para assumir grandes responsabilidades, tinha certeza que estava no caminho certo.

Foi necessária a primeira semana toda para me familiarizar com as dependências e com as grandes cabeças do lugar. As pessoas eram agradáveis ali, pareciam ser mais educadas e menos falsas do que as que eu estava acostumado a lidar nos Estados Unidos. Ou talvez tudo não passasse do meu estado de espírito mesmo.

A parte negativa disso tudo - MUITO negativa - era que, na maioria das vezes, eu chegava tarde em casa. Em algumas ocasiões, encontrava Sina dormindo tranquilamente com a tv ligada, claramente tentando me esperar acordada mas não conseguindo. Nas vezes que isso não acontecia, ela estava tão sonolenta que eu me sentia culpado em alugá-la para tentar conversar ou ter um pouco da sua companhia.
Isso aconteceu durante o quinto mês de gravidez.

SEXTO MÊS

Minha mãe ficou encarregada de encontrar uma professora de hidroginástica para Sina, e no início do sexto mês ela já havia começado a fazer as aulas. O nome da professora era Martha, tinha 52 anos e ia à nossa casa três vezes por semana para se exercitar com a minha mulher na piscina.

Eu continuava trabalhando mais de oito horas por dia, me esforçando para passar o maior tempo possível com ela e com a nossa filha. Estava começando a me sentir um pouco mal pelo meu papel de pai não poder ser desempenhado da forma que eu queria, mas felizmente as coisas começaram a melhorar.

- Acho que estou sendo exigente com você.

Levantei a cabeça distraidamente da leitura que fazia em um dos cinco contratos depositados na minha mesa. Meu pai estava com as mãos nos bolsos e uma expressão um pouco culpada.

- Por quê? - Perguntei, genuinamente curioso.

- Você acabou de se casar. Não teve nem uma semana direito antes de voltar ao trabalho, e está saindo muito tarde pra quem tem uma mulher grávida cheia de amor pra dar esperando em casa.

Eu ri pelas verdades, principalmente porque torcia para que elas viessem seguidas de um "Tire férias!". Mas nada era perfeito, e isso também não seria.

- Quero você aqui no máximo até às 20h. Depois disso, considere-se expulso da minha empresa. - Ele disse, já se virando e indo cuidar dos problemas que o esperavam.

- Não vou embora nem um minuto depois! - Gritei para que ele me ouvisse, já do lado de fora - Estou falando sério!

- Ótimo!- Ouvi sua voz ecoar do corredor - Você tem cinco minutos pra dar o fora!

Olhei no relógio do laptop à minha frente enquanto me levantava da cadeira.
Acusava 19:56h.

- Quatro minutos, caro pai. - Falei comigo mesmo, desligando tudo de qualquer jeito e reunindo os papéis na gaveta - Quatro minutos.

...

Graças à benevolência de Marco Urrea, o final da minha sexta-feira foi preenchido com a bastante agradável companhia de minha esposa, que, ao me ver chegar mais cedo que o normal (e estando acordada), se mostrou, como ele havia dito, cheia de amor para dar.

Na manhã do dia seguinte, sábado, fui acordado com o mesmo amor da noite anterior, com beijos e lambidas bastante interessantes. O que eu não lembrava era que aquilo fazia parte de uma comemoração. Uma comemoração da qual eu havia esquecido completamente.

𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.Onde histórias criam vida. Descubra agora