Maratona 3/6
Sina Deinert
Havia apenas duas malas no quarto, uma minha e outra de Noah. As restantes permaneceram exatamente onde estiveram a noite anterior toda: Ao pé da escada. Arrumaríamos os armários depois.
- Bom dia! - Ele me recebeu com uma voz entusiasmada na cozinha, preparando algumas torradas enquanto passeava de lá para cá com um pano de prato estrategicamente dobrado sobre o ombro, dando aquele ar de cozinheiro caseiro.
- Bom dia. - Respondi ainda sonolenta, mas ao sair do corredor forrado por um carpete creme (assim como o restante da casa) e entrar na cozinha, com piso de tábua corrida, o atrito entre minha meia e o chão não foi o suficiente para me manter equilibrada.
Escorreguei um pouco, patinando de forma idiota enquanto tentava reestabelecer o equilíbrio e não cair. Quando consegui, me segurando na porta, olhei-o outra vez.
Ele estava branco feito papel, uma das mãos estendidas com um pote de mel no ar e os olhos tão arregalados que quase saltavam das órbitas. Noah me encarava estático, falando lentamente, em choque.
- Não... Caia...
Achei engraçado o fato de ele conseguir pronunciar aquelas palavras sem aparentemente mover nenhum músculo.
- Não caí.
- Quase caiu...
- Então... "Quase".
Fiz menção de caminhar ao seu encontro, mas ele deu um grito estranho e agudo, então sequer cheguei a me mover.
- Porra, não me assusta assim! - Falei, querendo dar um tapa nele.
- Não... Se... Mova! - Ele falou, como se eu estivesse prestes a entrar em um campo de guerra cheio de minas terrestres.
Esperei até que ele viesse até mim, me levando para fora da cozinha de volta ao carpete fofo do corredor. Ele suspirou.
- Espera aqui. Pelo amor de Deus, não entre nessa cozinha.
Noah subiu de dois em dois degraus e eu esperei, já rindo sozinha de todo aquele drama. Quando ele voltou, trazia nas mãos duas pantufas rosa-chiclete.
- Calce isso. É emborrachado embaixo.
Eu calcei sem objeções, mas só porque estava com fome. Em situações normais, debater com Noah sobre seus cuidados exagerados era divertido.
- No final dessa gravidez você vai estar mais grisalho, ansioso e estressado.
- Só, pelo amor de todos os santos, não se machuque.
- Ok. Posso descer pelo corrimão da escada?
Ele me encarou chocado, como se eu tivesse acabado de admitir que usava drogas.
- Estou brincando. - Falei, já com medo que ele tivesse ataques convulsivos de pânico.
Não tinha como negar que eu me divertia com os exageros dele, embora isso fosse cruel. Ele realmente sofria com medo de que algo acontecesse comigo e, consequentemente, à sua filha, mas suas idéias de proteção eram tão absurdas que chegavam a ser engraçadas.
Tomamos o café da manhã preparado por Noah bem devagar. Eu queria ver tudo outra vez, cada pequeno detalhe daquela casa agora na luz do dia, mas sabia que teria tempo de sobra para isso depois. Por isso, aproveitei os pães integrais, as geléias, os sucos e tudo mais que estava à minha disposição.
- Vamos almoçar na casa dos meus pais. Tudo bem? - Ele falou, sentando-se no banco ao meu lado e espalmando a mão na minha barriga, como sempre.
- Não vamos estrear a nossa cozinha? - Perguntei, já um pouco desanimada, mas nem tanto. Passar tempo com os Urrea sempre era divertido.
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𝗗𝗲 𝗥𝗲𝗽𝗲𝗻𝘁𝗲, 𝗔𝗺𝗼𝗿 | 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁.
RomanceNoah é um jovem de negócios, embora não saiba nem do que tratam os contratos que assina. Sina é uma prostituta de luxo, apesar de sentir-se extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar a vida. Como havir de ser, os dois se encontram...