• Capítulo 13 | Maus Dias

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Já tinha se passado mais de um mês desde aquele momento crítico entre eu e os meus pais no hospital. O qual, além de considerar como um dos piores de toda a minha vida, também me rendeu uma retirada indesejada de um futuro glorioso do lado bom dessa sociedade, cada vez mais decadente.

Faz mais de três semanas que estou de alta da UTI e daquele hospital entediante. Porém, invés de estar de volta a ativa, estudando em uma academia renomada, realizando os afazeres cotidianos, e maçantes, de uma plena segunda-feira, estava em casa. Sim, em casa. Trancada em meu quarto, sem desejo algum de deixá-lo, nem para saciar a minha sede, ou fome. O tédio já tinha tomado conta de 90% de mim, que considerava como os exatos 100%, pois não fazia questão alguma de valorizar os 10% de mim que ainda lutavam bravamente contra essa depressão desgraçada.

Meu corpo parecia ter falecido sem energia, mas a minha mente se dava ao trabalho de reforçar o quanto se encontrava viva, fazendo de minha consciência um refúgio para todos os piores pensamentos que uma jovem de minha idade poderia ter. A maioria deles, como já é de esperar, estão firmemente ligados a maldita família. No meu caso, dois seres que eu achava me entenderem, mas que no fim, acabaram por concretizar um dos meus mais horrendos pesadelos, por puro egoísmo e falta de confiança.

E o pior, nem é isso.
O pior, é que eles não fazem a menor ideia do quanto isso me machucou.

Era como se eu tivesse sido esfaqueada no peito mais de cinco vezes. Porém, invés de sangue, o que escorria de mim, eram lágrimas.
A vontade de gritar o mais alto possível e chorar era imensa, mas eu me continha ao máximo.
Eu só queria um tempo longe disso tudo. Longe de meus pais. Longe de problemas. Longe do que me causa mal.
Só isso!

Contudo, enquanto estiver debaixo do mesmo teto que eles, nem mesmo isso eu terei.
Paz.

[ 08:30 ]

Mãe: Emy? Seu café, querida. —  entra cuidadosamente em meu quarto, deixando uma bandeja de café da manhã reforçado sobre a minha cama. — bo-bom, filha. O dia 'tá lindo lá fora, sabia? Que tal fazermos um passeio no shopping e...-

Emy: eu tenho escolha, mãe? ― a interrompo, antes que mais merda fosse liberada de sua boca.

Mãe: cla-claro que tem, Emy. ― afirma e eu, com um sorriso debochado no rosto, suspirei.

Emy: que engraçado. Para uma ida no shopping eu tenho escolha, agora, para ser desmatriculada de uma academia contra a minha vontade, eu não tenho, mamãe? ― declaro, perspicaz.

Por um mínimo instante, Mayumi Yoshida se calou perante a minha fala direta e eu, embora estivesse de costas para ela, pude imaginar com convicção a sua expressão facial, fechada e mortal.

Essa mulher, minha mãe, odeia ser confrontada, ou ignorada.
E bom...nesse exato momento, eu estou fazendo as duas coisas.

Mãe: já conversamos sobre isso, Emy. E eu não irei retomar esse assunto, só porque você está assim, agindo com uma imaturidade ridícula! ― sua voz engrossa, expressando o quanto estava chateada, fazendo suas palavras soarem ainda mais cortantes para os meus ouvidos. ― quer saber de uma coisa, Emy? Agora, sou eu que não estou afim de sair, okay?

Quem se importa... ― resmungo mentalmente, adequando melhor as minhas costas na curvatura daquele puff macio em que estava acomodada.

Mãe: e as suas amigas estão te ligando há mais de horas, garota. ― ela estende o meu celular à mim, esperando que eu o pegue de sua mão, porém, eu apenas rejeitei a sua inútil presença. ― eu não te criei para ser essa adolescente problemática, Emy. Então... ― ela me lança o meu celular, que apenas deslizou pelas minhas coxas e alcançou o chão em menos de segundos. Graças ao choque, sua tela desligou e a foto de perfil do grupo com as minhas amigas desapareceu. ― não seja mal educada, e trate de atendê-las, ouviu bem?! ― dá um dos seus ultimatos idiotas e, vendo que eu já estava farta de sua presença, finalmente deixou o meu quarto.

Meu Explosivo | 1ª Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora